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A aula de Tayna já havia começado quando Aminá chegou. Ela já sabia onde Aminá estava então não reclamou.
Ela se sentou ao lado de Otelo. William a encarou.
— Estou bem. — Disse Aminá na mente deles.
William e Otelo não pareciam ter se impactado muito com o que acontecera. Se lembravam de estarem no quarto e então estavam acordando num sala de reunião que nunca haviam estado antes, cercados de pessoas que não conheciam.
Otelo estava sonolento e parecia estar de ressaca. Como se houvesse bebido álcool o bastante e tivesse voado tão alto que seu corpo ainda continuava flutuando.
William sentia a mesma coisa porém entre um fio e outro de alegria havia uma dor intrinseca que parecia um verme estranho que buscava a luz do sol. William acordou com uma agonia no peito e vontade de vomitar.
Sua tatuagem havia se movido de lugar. Nem ele entendia, nem os professores conseguiam explicar. Haviam achado magnífico que sozinho William tivesse desenvolvido a habilidade de colocar uma semente na própria pele e que ela pudesse germinar. Precisaram retirar para poder examinar, e ainda sim não conseguiram encontrar nada. Exato a informação de que a última vez que ela germinara fora na noite anterior, durante o período que eles não tinham lembrança.
Todo aquele vazio deixavam os professores possessos e ainda havia um corpo para lidarem.
Não queriam perturbar os mortos, mas em última instância precisariam contactar o espírito de Lara para entender o que acontecera.
Algo tão sombrio havia acontecido que nem os músculos dela possuíam lembranças do ocorrido.
— Aminá, você trouxe o poema?
Aminá fez que sim.
Tayna sorriu. Mesmo acusada de estar envolvida em um assassinato de sua colega de quarto, ela ainda fazia a lição de casa.
Aminá se colocou de pé. Olhou para Otelo e depois com sua voz trêmula começou a recitar.

"SAUDADE.
Por que sinto falta de você? Por que esta saudade?
Eu não te vejo, mas imagino suas expressões, sua voz, seu cheiro.
Sua amizade me faz sonhar com um carinho,
Um caminhar à luz da lua, à beira-mar.
Saudade: este sentimento de vazio que me tira o sono,
me fazendo sentir num triste abandono, é amizade, eu sei, será amor, talvez...
Só não quero perder sua amizade, esta amizade...
Que me fortalece, me enobrece por ter você."

Quando Aminá se calou, William se levantou, seguido de Otelo e até a própria Aminá cogitou sair também. Havia maneira melhor de confessar seus sentimentos e seus apreços se não por uma declaração pública durante uma aula?
Aminá esperou um tempo até que William e Otelo pudessem conversar a sós e então pediu licença para a professora e saiu também.
Os dois ficaram em silêncio quando ouviram ela se aproximando.
— Você poderia ter achado outra forma de nos contar isso. — Disse William.
— Como se vocês não soubessem. — Retrucou Aminá.
—  E você queria que toda classe ficasse sabendo também? — Perguntou William.
Aminá deu de ombros.
— Queria que você tivesse me falado em particular. — Disse Otelo.
— E que diferença ia fazer? — Aminá perguntou, ríspida e na defensiva, farta de todo aquele joguinho.
— Eu diria que sinto o mesmo também.
As palavras de Otelo fizeram Aminá congelar.
— Eu pensei que você gostasse do William... todo tempo que vocês passam juntos... e eu me sinto tão excluída...
— Nada me impede de gostar de ambos.
— E você mesma se excluiu. Isso não é uma competição, Aminá.
Ela estava engasgada com o próprio silêncio.
— Pensei que você o queria so pra si. — Aminá olhou para William buscando compreensão.
— E do que adianta meus desejos, se a terra onde nasce a reciprocidade é um terreno demasiado fértil para crescer apenas uma só semente.
Aminá sorriu. William deu passos até ela e a abraçou. Ela ficou surpresa com o gesto. Otelo admirou os dois ali e os envolveu também.

Cidade SubmersaOnde histórias criam vida. Descubra agora