"Antes de ser um homem da sociedade, sou-o da natureza."
( Marquês de Sade)
O dia amanheceu chuvoso na fazenda. Olho pela vidraça da janela de meu quarto e dou graças aos céus pela chuva providencial que garantirá o fim de qualquer possível foco que ainda tenha ficado na mata. Os pingos da chuva que escorrem pela vidraça assemelham-se à lágrimas de lamento pelo estrago que a queimada causou.
Meu coração está apertado por tudo que presenciei ontem. Animais assustados, outros com queimaduras ou mortos. Parte da plantação perdida e o proprietário da fazenda totalmente inerte, sem forças para lutar à frente, como é de seu costume. Isso por causa dos traumas que precisa enfrentar, toda vez que se depara com algo que lhe traga à memória o dia fatídico em que perdeu a mãe e irmãos em um incêndio.
Durante o café da manhã fico sabendo através de Dodô, que Bruno saiu bem cedo para o centro da cidade. Ele tem pressa que a polícia inicie o mais rápido possível as investigações sobre a queimada.
__Se existe alguém tentando sabotar a fazenda, será descoberto. __ Explica Dodô.
__ Como ele estava?__ Pergunto preocupada.
__ Taciturno como sempre!__ Quem responde é Vladimir.
__ Ele estava muito preocupado.__ Dodô responde olhando Vladimir com cara feia por criticar o sobrinho.
__ Pediu para que deixássemos você dormir o quanto quisesse, pois se esforçou muito ontem e deveria estar muito cansada.__ Diz Betina.
__ Foi muito triste ver os estragos que a queimada causou, principalmente sabendo que alguém sem coração foi responsável por tal ato cruel...
Após o café-da-manhã, subo para meu quarto, envio um e-mail para meu professor com meus últimos relatórios do trabalho de conclusão do curso. Troco de roupa e vou de carro para o haras da fazenda. Quero ver como está osso potro recém-nascido e os animais resgatados.
Antônio está bastante atarefado. Quando me vê reaje como se tivesse recebendo a resposta de uma prece.
__ Graças a Deus chegou! __ Passa o braço por meu ombro e me guia para uma das baias.__ Esse lugar está um caos. Preciso vacinar um bezerro, fazer o curativo em um filhote de tamanduá mirim e ainda dar uma examinada no potro de Estrela...
__ Calma Antônio. Estou aqui para ajudar. É só dizer o que precisa. Se eu não souber como agir em algum procedimento, te chamo.__ O tranquilizo.
Antônio dá um de seus sorrisos largos e pega minha mão.
__ Já te disseram que é um verdadeiro anjo, Lizandra?!__ Beija minha mão.
__ Segura tua onda!__ Sorrio e dou um tapinha em seu braço musculoso.
Quando viro para começar minha tarefa, dou de cara com Bruno nos encarando com uma expressão fechada.
__ Temos muito trabalho ainda para ser feito, não acha Antônio?!__ Bruno o observa.
Antônio vira dando um assobio e se retira.
__ Se veio para cá é para ajudar, não para ficar distraindo os funcionários. __ Diz seco, agora se dirigindo a mim.
Não acredito que tem a audácia de me tratar assim! Depois de tudo o que fiz ontem enquanto ficou a maior parte do tempo estático! Voltou com a postura arrogante e grosseira. Não tenho medo dele e vou lhe mostrar isso!
Respiro fundo e tiro coragem não sei de onde, mas mantenho uma distância segura.
__ Sempre dou o meu melhor no trabalho. Sabe muito bem disso. Mas também sabe que não é minha obrigação fazer tudo o que tenho feito. Faço porque gosto de ajudar e estou com pena dos animais feridos, não porque você quer. Não sou sua empregada.__ Viro as costas e saio andando. Fico com a última palavra.
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Fazenda 3 irmãos-No Vale do Café. Vol.1
RomanceBruno Fonseca foi o único dos três herdeiros que escolheu ficar na fazenda da família e cuidar dos negócios com "mãos de ferro". Sofreu uma grande perda no passado que causou-lhe cicatrizes na alma e lembranças dolorosas que o atormentam até hoje e...