MAYA POV
"Queres dizer-me outra vez como fizes-te isto?" O médico insiste comigo enquanto desinfectava a ferida. O sangue já tinha parado de escorrer e eu tenho a certeza que ele estava apenas a tentar manter uma conversa.
Revirei os olhos disfarçadamente e olhei para Emma que estava a mexer em tudo e mais alguma coisa que lhe aparecia à frente. Aquela rapariga nunca teve realmente o dom das boas maneiras. "Bati numa jarra de vidro e aquilo partiu na minha mão."
"Devias estar mesmo distraída."
"É, eu estava." Eu gosto do silêncio. Porque é que ele não gosta do silêncio?
Eu vejo Emma a roubar uns medicamentos que estavam por detrás da vitrina de vidro e tenho vontade de rir, porém não o faço, deixando-a acabar de fazer o trabalho sujo. Nós temos clientes pobres que são uns drogados de merda que compram tudo aquilo de mais barato a que possam deitar a mão, então eu percebi logo a intenção dela. Vendemos aquilo por uns trocos, eles ficam felizes e nós ficamos mais ricos.
O doutor envolve uma ligadura em volta do meu pulso, logo depois de ter cozido uns pontos e posto um penso por cima. Eu fico a observar enquanto ele faz tudo isso e o bastardo começa a rir-se depois de notar a minha pseudo admiração. Ele era jovem, certamente não lhe dava mais que 28 anos e era inegável que tinha uma boa aparência. Cabelos curtos, um pouco mais comprido em cima do que nos lados. Olhos cinzentos e uma pele clara brilhante coberta por uma barba preta, perfeitamente aparada. A bata gay que ele usava estragava o look todo mas ninguém podia negar o qual bonito ele era mesmo assim.
"Está tudo bem então?" Emma aparece do nada, colocando-se ao lado do bonitinho. "Tipo, ela não vai morrer ou algo assim?"
A minha mão move-se para a minha testa, batendo nela com força enquanto eu olho para a minha melhor amiga, rezando uma oração silenciosa em nome da sua estupidez.
"Não, ela não vai morrer." O homem ri-se, olhando para mim depois. "Mas tens de tomar cuidado para não rebentares os pontos. É uma zona sensível, tenta não fazer esforços."
"Não se preocupe, eu tomo conta dela." A loira intervém.
"É, eu tenho a certeza a que sim." Ele volta a rir-se. "Tens de voltar cá daqui a uma semana para remover os pontos mas de resto deves ficar bem."
Gemo quando tento vestir o casaco e aquilo raspa bruscamente contra o pulso ferido, deixando-me com uma ardência imediata. O médico olha-me com um certo humor e eu reviro os olhos, sabendo exatamente o que ele vai dizer a seguir.
"Eu disse com cuidado," Repreende-me, olhando por cima do ombro enquanto arrumava os materiais ensanguentados. Foi a mim que doeu. Porque é que ele está tão preocupado?
"Eu ouvi da primeira vez." Está certamente a começar a irritar-me com a sua atitude convencida e o meu temperamento nunca foi dos melhores.
"Posso ir agora?" Pergunto enquanto ajeitava o meu cabelo.
"Vou só receitar-te alguma coisa para as dores e és livre de ir embora."
"Não preciso de mais drogas, eu fico bem." Suspiro. "Posso ir agora?"
"Mais drogas?" Merda Maya. Quando é que aprendes a ficar calada? Emma lança-me um olhar de aviso, colocando-se ao meu lado depois. O médico parecia confuso e eu estava com vontade de bater em mim própria.
"É uma forma de falar." Grande chato. "Posso ir agora?" Estou farta de me repetir. Daqui a nada saiu mesmo sem pedir licença. Sorte a dele eu não ter muita vontade de voltar para casa.