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Gon Freecss...

Tento manter meus batimentos cardíacos em um ritmo normal, porém é uma tarefa quase impossível, pois o Killua está com a cabeça encostada em meu peito enquanto passo a mão em seus cabelos, estamos vendo um programa de culinária que passa na televisão do quarto. Ele está tomando medicamento, mas mesmo assim não saio de seu lado pois terei alta hoje e quero passar o máximo de tempo ao seu lado.
- Está animado? - pergunto.
- Com o que ?
- Sabe... Quando se recuperar vai frequentar a escola e tudo mais.
 
Seus olhos ficam cerrados como se ele pensasse em uma resposta.
- Não é uma ideia muito atrativa.
- Por que?- ele dá de ombros.
- Não gosto de estar cercado de pessoas, me sinto sufocado.
- Mas vai ser bom, você vai interagir com as pessoas, fazer amizades.
- Eu tenho você, o Kura, o Leorio. Não é suficiente? - rio.
- Ter amigos com quem contar é bom, mas cultivar amizades além dessas também.
- Não acho. Fora que ainda terei que pensar em como me manter, não me sentiria bem tendo minhas despesas totalmente cobertas pela Mito.
 
Enrolo os fios de seu cabelo em meu dedo por um tempo antes de soltá-los.
- Bom, o café tem muito clientes, nos horários de pico fica muito pesado para mim e o Kura, a Mito sempre precisa repor as coisas e não tem ajuda na cozinha na maior parte do tempo. É um negócio familiar, por isso ela se recusa a colocar um estranho para trabalhar, mas, você já não é um estranho.
 
Ele vira o rosto e me encara.
- Você acha que seria uma boa idéia?- abro um sorriso e assinto.
- Acho que seria uma ótima idéia- ele volta a encostar em meu peito.
- Mas será algo temporário, depois que terminar a escola preciso pensar no que fazer. Nunca cheguei a imaginar um futuro, e agora que posso fazer isso, não tenho ideia do que quero.
- Eu também não, mas ainda temos tempo para pensar nessas coisas. Não esquenta tanto com isso. Ok?
- Ok - ele fica em silêncio por um tempo, escuto o som de sua respiração até que sua voz volta a me atingir- Amanhã de manhã a primeira parte do meu depoimento para a Hunter vai ser colhido...
- Está ansioso?
- Eu não diria ansioso, mas com medo talvez.
- Não tem porque ter medo, mas imagino que deve ser incrivelmente difícil entregar sua família.
  
Ele afasta e encosta no travesseiro, estamos ombro a ombro nesse momento.
- Não é difícil, não são minha família. Acredito que meus pais me enxergam como um negócio, eu e meus irmãos na verdade... Algo que em dado momento irá trazer um certo lucro e apenas isso, sem nenhum tipo de envolvimento afetivo.
- Impossível pais não amarem seus filhos... - minha voz sai com uma leve entonação de dúvida, algo me diz que ele está certo.
- Amor? - uma risada amarga sai brevemente de seus lábios- Eles só conhecem o amor próprio, o resto é uma mera ilusão sem sentido.
 
Coloco minha mão em seu ombro com o devido cuidado para não machucá-lo.
-Mas isso ficou para trás- me inclino e dou um beijo em seu rosto, meus lábios em contato com sua delicada macia pele - Você vai passar por todas as exigências do acordo, mas não sozinho. Vou estar ao seu lado sempre... - as palavras saem em um sussurro, como se fosse um segredo proferido de meu peito.
  
Seu rosto se vira e sou levado pela onda magnética de seu profundo olhar, que me puxa intensamente, até que o ar se prenda em meu corpo num ato inconsciente. Sua gravidade é naturalmente surreal... Sua mão delicadamente pousa na lateral de meu rosto em um toque afetuoso. Um sorriso surge no canto de meus lábios. Seu olhar delirante abaixa até minha boca, instintivamente me curvo em sua direção, fecho os olhos no momento que sinto seus lábios nos meus.

Killua Zoldyck...

 
Sinto seu sabor tão familiar se fundindo ao meu em uma combinação perfeita, e mesmo que este ato não seja algo novo, meu corpo queima da mesma forma que naquele dia que senti seu beijo pela primeira vez, é quase como algo primitivo em meu peito, a sensação delirante de ser levado pelo seu toque, tomado pela luxúria de querer mais... de sentir nossos corações batendo como um só, e nossos corpos fundido em um ritmo único.
 
Quando nos afastamos, agarrados desesperadamente ao fraco ar que circula em nossos pulmões, não posso deixar de pensar se conseguiria parar nesse momento se não estivesse debilitado... e quando abro os olhos apenas para encarar sua tempestade castanha tão próxima, encontro a resposta... certamente não pararia. Já não sei se é tudo parte de minha mente deturpada por medicamentos, mas quase vejo uma chama ardente escondida no fundo de seu olhar, o mesmo desejo queimando em meus olhos nesse momento.
  
Talvez os recentes acontecimentos carregados de inúmeras sensações, impulsionou agressivamente, esse primitivo instinto de tomá-lo para mim.
- O que foi? - dou um sorriso.
- Só estou vendo o quanto você é extremamente lindo.
 
Ele cora e ri timidamente.
- Você é muito exagerado.
- Tem razão, sou exagerado quando se trata de você. Não me importaria de colher mil rosas sem luvas apenas para te ver sorrir.
- Você é impossível Killua Zoldyck -rio.
-Impossível não ser assim com você na minha frente - ele ri.
- Engoliu um livro de poesia?
- A melhor poesia se esconde em cada detalhe teu.
 
Nos olhamos e desatamos a rir.
- Parei...
  
Ele se inclina e deita a cabeça em meu ombro.
- Dói?
- Não - fecho os olhos e encosto meu rosto em sua cabeça, apenas para aproveitar esse momento. Essa onda de paz que me atinge em cheio- Vou sentir falta de te ver todos os dias nesse quarto.
- Você sai daqui em poucos dias, vou vir todos eles, e depois vamos morar juntos, passaremos 24 horas próximos um do outro.
- Você vai enjoar de mim.
- Definitivamente não. Mas vai ser difícil se algum dia eu não poder te ver todos os dias.
 
Afago seus cabelos.
- Isso não vai acontecer, me recuso a estar longe da pessoa que eu amo. Só isso que importa para mim.
- Que bom... porque mesmo eu, não deixaria você ir.
  
Um sorriso surge em meus lábios, e ficamos em silêncio, sem nada a dizer, mas posso ouvir meu coração bater mais forte assim como o dele, como se ambos estivessem conversando, coisas que jamais poderiam ser proclamadas em palavras...

A Luz da Minha Escuridão *Killugon* Onde histórias criam vida. Descubra agora