Dia 6, clínica psiquiátrica, área de alimentação.
Jisoo já começava a entender como tudo ali funcionava, mas, claro, não teria aprendido nada se não fosse por Doyeon que, por algum motivo, havia simpatizado com sua pessoa. Todas as vezes que lhe traziam remédio, ela aguardava, jogava no chão e o transformava em pó. Por isso, sempre antes de sair do quarto, esfregava os olhos com as costas das mãos, deixando-os vermelhos para dar uma aparência semelhante aos efeitos que as substâncias causavam em quem as ingeria.
― Doyeon, acha que tem alguma maneira de sair deste lugar? ― Perguntava baixinho, a mão fina e um tanto trêmula agarrava a colher de plástico, levando a sopa fria em direção aos lábios.
― Sair... ― A senhora repetiu aquela palavra, como se estranhasse e nunca a houvesse usado. ― De todos esses anos que resido neste lugar, as únicas pessoas que tentaram sair daqui nunca mais voltaram.
― Ah! ― Jisoo abriu um sorriso largo, fazendo com que todo o líquido da colher escapasse de volta para o prato. ― Então eles conseguiram?
― Não, querida. ― Doyeon a encarou, sentindo-se um tanto mal por não explicar bem oque acontecera. ― Eles foram todos mortos, embora isso nunca apareça nos jornais, como aquelas fofocas infundadas que aparecem na primeira página.
― Mortos? ― A menina franziu os lábios.
Então tudo aquilo era bem pior do que imaginava? Concluiu que passou todos esses anos vivendo com um completo monstro, tudo devido a sua maldita gratidão.
― Somos abandonados aqui, querida. Quem nos coloca, realmente não quer que absolutamente ninguém saiba de nossa existência. Acho que devemos nos conformar. ― Disse, mas não havia amargura nos olhos cabisbaixos.
― Nos conformar? Essa situação não aceita conformidade, Doyeon. ―Tentou não se exaltar com aquela conversa, alguém poderia ouvi-la. ― Deve haver algum modo de sair, até porque Sehun não pode mentir para a mídia, não é? Quero dizer, eu sou famosa e ele já deu depoimentos dizendo que me internou e que logo eu voltaria.
― Apenas não crie grandes expectativas com relação a isso, Jisoo. ― Tocou a mão da jovem moça, a apertando para trazê-la de volta à realidade.
― Posso não ficar criando expectativas, até porque isso seria uma grande perda de tempo, mas irei encontrar uma maneira de sair daqui. ― Respirou fundo, fazendo um barulho quase incômodo aos ouvidos. ― E vou levá-la comigo.
― Do que está falando, minha menina? Acha mesmo que uma velha como eu tem para onde ir? Meus filhos logo me mandariam de volta. ― Doyeon deu uma risada baixinha, mesmo com toda a situação ela mantinha-se firme. Jisoo a admirava.
― Eu não sei como iríamos nos virar lá fora, talvez arranjar um emprego, mudar nossas roupas, cabelos... Fugiríamos e eu lhe daria uma nova vida, como agradecimento por tudo o que vem fazendo. ― Disse de maneira firme, segurando ambas as mãos da senhora para lhe passar certeza.
― Isso é muito bonito de sua parte, querida. Mas agora eu sou apenas uma velha, com toda a certeza eu apenas atrapalharia os seus planos. ― A senhora não parecia se incomodar com as palavras que dizia, muito pelo contrário, mostrava-se implacável e inabalável.
― Atrapalhar? ― Arqueou a sobrancelha, os olhos castanhos tremulando em diversão. ― Mesmo depois de tudo o que fez por mim? Ora, vamos, Doyeon. Não vai me dizer que acabou se acostumando a viver nesse lugar?
― Acabamos nos acostumando com as coisas mais adversas, minha querida. Nunca ache que por vontade, mas sim porque, apenas dessa maneira, conseguimos sobreviver e nos manter firmes. Se fraquejarmos, o que será de nós? ― Abriu um sorriso com dentes amarelados, as rugas se acentuando quando o fazia.
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A garota dos meus olhos {ADAPTAÇÃO JENSOO}
FanficPelo menos alguma vez em sua vida, você já desejou ter o poder de ler a mente de outra pessoa, seja por influência de histórias em quadrinho, filmes ou porque sempre achou isso algo vantajoso? Quando duas completas estranhas começam a ver e a ouvir...