Efeito Placebo

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Dia 1. Adaptação na ala psiquiátrica.

Jisoo estava dopada por mais uma vez, os homens vestidos de branco a arrastavam pelo corredor. Os pés deslizavam no chão, preguiçosos, molengos. A força do corpo havia se esvaído devido aos fortes medicamentos. Pensara tanto em seu quarto vazio que acabara por desistir de tudo aquilo, apenas iria se entregar ao que o destino lhe reservou. Em sua mente, apenas uma frase ecoava: "Bem feito, Jisoo. Bem feito!".

― Fique bem quietinha aí. ― Falou o enfermeiro de cabelos vermelhos como sangue, os olhos inexpressivos, parecia ter coragem de matar sem sentir o menor remorso.

― Como se eu pudesse ter uma escolha. ― Sussurrou, o corpo cedendo sobre uma poltrona de couro velha, descascando. O corpo de Jisoo estava amolecido como um pudim, os lábios se comprimiam devido à confusão mental dada pelos remédios.

― O que uma moça tão jovem faz por aqui? ― Uma voz rouca, um tanto falha, lhe chamou a atenção. Havia uma senhorinha gorda sentada ao seu lado, os cabelos acinzentados presos em um coque no topo da cabeça. As linhas de expressão na face não negavam o tempo que vivera.

― Acham que eu sou louca... ― No fim da frase, Jisoo deu um meio sorriso, os olhos castanhos perdidos em uma parede branca, encardida, bem a frente dela. ― Mas do que importa resmungar agora?

― Você parece estar muito mais lúcida do que todos aqui. ― Falou com sinceridade, repousando a cabeça sobre o encosto da outra poltrona. ― Eu também estive, mas meus filhos me jogaram neste lugar. Acho que ninguém fica totalmente são vivendo desta maneira.

― Seus filhos? ― A morena virou o rosto lentamente, a cabeça doía, como se alguém a houvesse pisoteado. ― Isso é tão repugnante.

― Todos acham que podemos comprar tudo com dinheiro, mas tudo isso tem um preço. Irônico, não? Passei uma vida inteira comandando uma empresa das grandes, ganhando dinheiro para sustentar meus quatro filhos, já que meu marido havia morrido e eu fiquei só com as crianças. ― Um longo suspiro permitiu que uma pausa fosse feita. ― Então, eles esperaram que eu envelhecesse para conseguir uma licença. Acabaram por me internar aqui, como se eu fosse louca.

― Isso é tão cruel... ― Jisoo mordeu seus lábios com certa violência, arrancando a pele seca que havia ficado ali. ― Eu nunca teria a capacidade de fazer algo deste modo com a minha mãe.

― E onde estão seus pais, minha menina? ― A senhorinha se virou na poltrona, a encarando por longos instantes. Seus olhos eram estreitos devido às rugas.

― Eu nunca vi meu pai, ele simplesmente sumiu... A única coisa que sei é que ele comanda um grande império imobiliário. ― Suspirou, os ombros cederam, a dor da falta de um pai a golpeou. ― Eu sempre o vi em revistas, entrevistas. Queria ir atrás dele e o questionar sobre todas as coisas, mas achei melhor ficar onde eu estava, com a minha mãe, que sempre fez tudo por mim. ― Os dedos se pressionaram contra o estofado, ficando brancos pela força que utilizou. ― Minha mãe acabou adquirindo problemas psiquiátricos, eu usei todo o nosso dinheiro para isso... Os médicos diziam que ela era um caso perdido.

― Você nunca desistiu de quem nunca desistiu de você. ― A mulher a tocou na mão, lhe fazendo um carinho demorado com o polegar, algo reconfortante. ― Jovens como você estão em extinção. 

― Eu nunca deixaria minha mãe de lado. Foi a coisa mais difícil do mundo vê-la daquela maneira, avulsa a tudo e a todos, perdida na própria cabeça. ― Uma lágrima escorregou pela bochecha rosada da menina, as lembranças eram dolorosas.

― Infelizmente, a vida trilha caminhos tortos, não é? Tenho certeza de que sua mãe a amava mais do que tudo que existe nesse mundo. Assim como eu amei as minhas crianças, como eu ainda as amo, mesmo depois de tudo. ― Uma risadinha rouca escapou, seguida por uma tosse prolongada.

A garota dos meus olhos {ADAPTAÇÃO JENSOO}Onde histórias criam vida. Descubra agora