17: Reconstituição sob pressão

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- Aquário? – Wish ecoou o que escutara, receosa, e Hope a fitou, sabendo o motivo de sua inquietação.

- Não precisa ficar com medo, Wish. Eu te protejo do que quer que aconteça, tá bom? – Hope acalmou sua amiga, ciente de sua hidrofobia.

Primo, tanto quanto Wish, temia o que lhe seria apresentado ao cruzar o portal. Aprendeu a nadar após inúmeras aulas falhas de seu pai, que já perdera as esperanças quando, finalmente, conseguiu boiar na água. Sua experiência traumática, na piscina de uma pousada, quando Caz o salvou de se afogar, o deixara com medo de que algo parecido se repetisse alguma vez. Por isso, conseguiu motivação o suficiente para saber o mínimo para não se afogar, mas nem perto do necessário para sobreviver em uma situação de perigo. O mais recente evento envolvido com água, onde sentiu seu espírito deixar seu corpo, quando Ares tentara o matar no rio, também deixara resquícios de um trauma por aquele elemento.

Ino estava na mesma situação. Começou a se apavorar com uma possível morte naquela fase, apreensivo por ter sempre gazeado as aulas de natação de seu colégio, devido um de seus colegas de classe o ter empurrado na piscina quando ainda não sabia nadar.

"Morrer afogado não me parece ser nada tranquilizante. Morrer não é tranquilizante de nenhuma forma, mas, se afogar, tendo litros e litros de água entrando no seu corpo, sem oxigênio e sem saída, é mais incomodador do que outras formas. Queimar até a morte também parece ter o mesmo nível de horrorosidade, se isso sequer é uma palavra. Só que... eu nem sei como vai ser essa fase, então... pensamento positivo, Ino. Vai dar tudo certo. Eu sei que vai. Tem que dar" – Ino refletiu, com suas mãos suadas, e Lobo o notou.

- Relaxa, menino – tentou tranquilizar. – Já passamos por coisa pior. Armadilhas, cipós vivos, alucinações? Nada disso é páreo pra nós. Nos mantemos juntos, e vai ser só mais um desafio derrotado, como eu te prometi.

- Tomara – Ino torceu, e sorriu para Lobo, que o apoiou com uma mão no ombro, o puxando para um abraço longo e sossegador.

Em segundos, já haviam todos adentrado a quarta fase e sido surpreendidos pelo que ninguém esperava: não estavam mais juntos. Cada delinquente separado de outro, em salas divergentes, com vitrines no lugar de paredes, que expunham o exterior daquele claustrofóbico local.

Dentro, distintos cômodos com distintos objetos. Fora, apenas água. Um imenso oceano azul claro cercava aqueles aquários, onde os jovens se localizavam como peixes aprisionados. A limpidez e clareza da água externa era, de certa forma, confortante. Sua harmonia atraía a atenção de qualquer um, mas, ela não era o suficiente para tranquilizar quem estava naquelas câmaras de vidro, que se incomodavam com a paranoia de que aquelas paredes poderiam ceder a qualquer momento.

Olhando para cima, não era possível ver nada além de mais e mais água, o que os colocava infinitos metros abaixo da superfície, porém, poderia se dizer ser dia, novamente, devido a claridade que parecia vir de um suposto sol acima de tudo.

Sozinhos e sem instruções do que fazer, os delinquentes foram maravilhados quando a voz da Absolvição surgiu, pela primeira vez, durante a execução de uma fase.

- ATENÇÃO! – emergiu, assustando alguns pelo inesperado acontecimento. – Para concluir a fase que se encontram, é necessário desvendar o crime cometido por um delinquente ainda vivo que lhe foi sorteado. O aquário que estão será completamente preenchido por água, apenas parando com a resolução do caso pelo indivíduo. Cada elemento presente é de suma importância. Agora, com tudo esclarecido, que a reconstituição se inicie – quando finalizou sua explicação, luzes apareceram tomando conta de todos os cômodos que os delinquentes se encontravam.

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