15: Vozes da culpa

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- Inferno... – Primo lamentou, ao notar o desaparecimento de todos os delinquentes.

O gêmeo estava completamente sozinho, e no vazio daquele cemitério, cercado pela espessa névoa cinzenta, entendeu que era como continuaria até o fim, caso chegasse. Perdera seu irmão e sua dupla logo na primeira fase, e sabia o quão culpado era, na morte de ambos. Faria diferença se Seis tivesse sobrevivido? O medo e covardia do jovem se assemelhava ao de Kant, e, por esse motivo, sabia que ele não duraria muito. Mas, ao menos, não estaria sozinho. Teria alguém para se apoiar, pedir ajuda, desabafar. Queira qualquer pessoa para fazer isso, mas não tinha ninguém.

- Primo? – uma voz calma sussurrou, lentamente.

- M-mas – Primo gaguejou ao se virar, olhando para onde a voz parecia ter sido emitida, e viu uma sombra tomando forma em sua frente. Viu o que estava apenas em sua mente se tornar físico, e, diante de seus olhos, Caz revelou-se. – Você...

- Sim, sou eu, manão, o raspa de tacho – contou, sorrindo, ao mencionar o apelido que Primo usava com ele, que tanto o desagradava.

- Não, não... eu vi... – Primo fitou o pescoço de Caz, e o notou perfeitamente intacto, sem qualquer sinal do buraco causado por Ares, com sua picareta. – Como você está aqui? – questionou, buscando entender, o que torcia que acontecesse, para que pudesse abraçar aquela ideia, juntamente de seu irmão, sabendo ser tudo verdade.

- A Absolvição, mano. Eles me salvaram.

- Ang... – Primo soprou o nome de seu irmão, e ele avançou em sua direção, o abraçando.

Primo correspondeu o forte abraço, e o que era seu maior sonho, se tornara sua realidade. Caz estava ali, vivo, e podia o tocar. Estava abraçando-o. Sorriu, aliviado, e sentiu que seu corpo e sua alma ficaram leves. De repente, tudo de ruim que pensava, desapareceu. Tudo de ruim que o corroía internamente, sumiu. Queria viver aquele momento radiante para sempre.

- Irmão, – Caz chamou Primo, se soltando e encarando-o, seriamente. – nós precisamos ir.

- Ir pra onde? – perguntou, disposto a fazer qualquer coisa para que continuassem juntos.

- Pra lá – indicou, e Primo se virou, fitando uma cova às costas de seu pé, que, ao analisa-la, sentiu se tratar de algo importante.

- O que tem ali?

- O nada, e o tudo, ao mesmo tempo, irmão – disse, posicionado atrás de Primo, com sua boca no pé do ouvido do delinquente.

- Como isso é possível?

- Você sempre foi o mais lento pra entender as coisas, né? – brincou, e o gêmeo ainda vivo lhe dirigiu um sorriso temeroso. – Se você entrar ali, aceitando seu destino, me aceitando, – destacou, para motivá-lo. – ficaremos juntos para sempre! Será o nada para o mundo físico, mas o tudo para nós dois, juntos, até o infinito, com a mamãe e o papai. Você vai poder revê-los, irmão, assim como eu pude.

- Você... você não está aqui, não é? Não de verdade – falou, querendo negar aquele fato em sua mente, mas sabendo que o que via, realmente, não era a realidade.

- Eu estou... digo, eu posso estar. Basta se atirar, seu velho. Toda a dor acaba. Agora, vamos, pule! Como nosso pai te instruiu quando tentamos te ensinar a nadar – incentivou, e Primo se virou, o encarando.

- Eu nunca quis aprender a nadar, Caz – contou, então deu as costas e recuou, para distante, não aceitando aquela saída como seu destino.

- VOLTE AQUI, VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE ME ABANDONAR! NÃO NOVAMENTE! POR FAVOR! – gritou a projeção de Caz, implorando para que Primo retornasse, mas o adolescente apenas seguiu caminho, sem sequer olhar para trás. –NÃO É ISSO QUE QUEREMOS PRA VOCÊ, IRMÃO! EU, MAMÃE, PAPAI, NENHUM DE NÓS QUER QUE VOCÊ SUJE SUAS MÃOS COM SANGUE. VINGANÇA NÃO VAI LEVAR A NADA!

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