14. Pesadelo

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Notas da Autora:

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Notas da Autora:

Olá, pessoas lindas do meu coração! Como vocês estão? Eu estou bem rsrs.
Pois é, demorei mais uma vez para atualizar a fanfic e eu nem sei mais o que dizer hahaha. Porém digo que o capítulo foi bem intenso para mim, porque foram muitas emoções haha.
Peço desculpas se tiver algum erro de digitação ou afins. Não betei o capítulo. Terminei de escrevê-lo agora e estou aqui postando para vocês.
Espero que gostem.
Boa Leitura!

Medo.
Falta de ar.
Desespero.
Enclausurado.
Tum... Tum... Tum...
Suho entrou em uma espécie de colapso mental logo assim que ouviu nitidamente a voz de James Patterson ecoar nos próprios ouvidos. Assustou-se ainda mais, porque, desta vez, conseguiu entender todas as palavras proferidas no meio daquele tom tão obscuro.
As unhas cravadas em suas próprias bochechas despertaram lembranças até então adormecidas, esquecidas. Capturadas completamente pela presença dominante de Yixing.
Sentiu os pulsos serem ainda mais apertados por conta das algemas de aço. O fato de não conseguir abrir os olhos nem mesmo de conseguir se mover, deixaram-no irrequieto. Desesperado.
O gosto do sangue daquelas memórias era tão vívido dentro da boca amordaçada, a dor dos golpes com a barra de ferro era tão sensorial que o experimento se tremia por inteiro.
Por breves segundos, pensou ter urinado nas próprias calças.
Uma gargalhada de Patterson ecoou dentro da cela.
— Eu te peguei. Por que teve de me dar todo esse trabalho, hein? — O tom era macio como um lobo vestido de cordeiro. — Por quê? Estava querendo acabar com a minha carreira, seu merda?! — berrou no final.
Uma forte bofetada foi despejada na face do mais novo.
Os ombros desse ainda estavam trêmulos. Não conseguia fazer nada, pensar em nada. Mantinha-se paralisado pelo medo.
As lágrimas tentavam sair, contudo eram impedidas pelos tampões e a venda. Dos lábios selados saiu um choro baixo.
— Hm... Hm... Hm... — Balançou a cabeça.
Ele não queria apanhar. Não. Queria sair dali. Queria que alguém o tirasse daquele pesadelo.
Patterson gargalhou outra vez. Deleitou-se com aquela cena. Vê-lo preso, indefeso, acuado e manso como um cordeiro assustado. Era assim que precisava ser, pensou com altivez.
As coisas finalmente haviam voltado para os eixos. Bem... Ainda tinha aquele hacker, mas era uma outra história.
— Você agora fala. Tem até mesmo um nome. — As palavras foram proferidas com nojo. — Estava tentando ser mais humano? Que irritante. AZ7/01, é apenas o meu experimento. A minha arma. Quanto menos humano for, melhor.
— Hm... Hm... Hm...
Remexeu-se irrequieto.
James ainda conseguia se lembrar da rebeldia do experimento quando esse foi capturado. Do jeito protetor que tinha para com o hacker. Tal cena o deixou, em parte, irritado, porque um animal como AZ7/01 não poderia criar nenhum tipo de sentimento. A ele não lhe era permitido. No entanto sabia que poderia muito bem obter ótimos resultados com isso.
Suho, por sua vez, foi inundado pelas últimas recordações que lhe vieram como um forte tsunami. A imagem de um Yixing ensanguentado e desacordado foi projetada de forma nítida. O coração se desesperou. Os batimentos eram frenéticos ao passo que todo o sistema nervoso do mais novo foi invadido por um sinal de alerta, por uma preocupação.
Será que ele tinha conseguido escapar? O que aconteceu com o hacker? Foram perguntas que bombardearam a mente do experimento. O sentimento de não poder segurar a mão do mais velho quando esse estava desacordado, de ser separado enquanto o outro nem sequer sabia, era doloroso. Muito doloroso.
Mais lágrimas surgiram nos olhos fechados. O bolor na garganta se tornou insuportável, porque, junto com ele, veio todo o sentimento de impotência que estar preso lhe trouxe. Suho estava com medo. Isso era verdade. Só que, quando se tratava do Zhang, queria protegê-lo. Por mais que lhe machucasse a hipótese de uma separação. Ele não se incomodava em estar trancafiado naquele laboratório mais uma vez se, ao menos, Lay estivesse bem e livre.
Porém, como poderia saber? O cenário que se encontrava não era mais o mesmo. Estava muito mais imobilizado do que imaginou estar. Nem nas piores lembranças... Com o silêncio repentino de Patterson, AZ7/01 se sentiu imerso em um vácuo total. Não havia imagem, som. Não havia nada. Era a mesma sensação de estar submerso ainda que não estivesse de fato. Sentia o próprio corpo seco e tal coisa o atemorizou mil vezes mais do que se estivesse preso dentro de um tanque.
O que era aquilo? Pensou.
— Eu te colocarei nos eixos novamente, AZ7/01. — O hálito quente soprou no lóbulo da orelha do mais novo. — Espere e verá. Você se arrependerá de ter fugido.
James gargalhou. Ele mal poderia esperar para revelar a pequena surpresa que tinha preparado para AZ7/01.
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Os ombros tremiam. Os olhos estavam arregalados ao passo que observaram aquela cela branca demais. Bem, um deles estava. O esquerdo, por sua vez, estava tão inchado e roxo que mal conseguia ficar aberto.
Sangue seco cercava o corte aberto na testa. Os lábios estavam trêmulos. Não conseguia respirar direito. Provavelmente, tinha quebrado alguma costela. Os tornozelos estavam bem algemados nos braços da cadeira, assim como os tornozelos nos pés dessa. O coração estava desesperado, porque a mente apenas se recordava dos gritos alterados de Yixing quando um dos tiros furou o pneu da van e o automóvel capotou logo em seguida. Depois disso, nada.
Yi Fan já despertou assim. Preso e imerso em uma brancura que lhe apavorou. O que tinha acontecido? Onde estava Yixing? E Suho? O que aquele cientista maluco fez? As indagações surgiram no próprio caos que era o psicológico do Wu.
O que mais lhe atormentava era a reação de Tao. Será que ele tinha descoberto a verdade? Bem, se estava de fato capturado, então... Só poderia esperar pelo pior.
Como se arrependia. Sentia pena só de pensar em Suho nas mãos dos americanos novamente. Não gostava muito do experimento no início, mas, de todo, ele não era alguém ruim. Só estava tentando ser o humano que não tinha sido até aquele momento.
Yixing... Assim como temia pela própria vida, temia pela do amigo. Aqueles caras não estavam para brincadeira. Será que ele já havia sido morto? O que será que James teria feito? Com toda a certeza, estava desesperado.
— Que merda! — praguejou no momento em que tentou se soltar. O pulso nem sequer se moveu. — Por quê, Wu Yi Fan? Por quê? — questionou-se com o tom de voz embargado.
Se pudesse fazer tudo diferente, não hesitaria nem por um minuto em não aceitar a entrada daquele desconhecido no próprio bar. Deixaria AZ7/01 continuar com a vida de um experimento secreto norte-americano, no entanto pouparia a vida de Lay e a própria. Isso faria com que não conhecesse Tao como passou a conhecer, todavia o mais velho estaria disposto a conhecê-lo de alguma forma. Sem nada para esconder.
A porta camuflada da cela foi aberta.
Kris permaneceu interrompido. Estático enquanto observou a figura de Zi Tao adentrar o espaço acompanhado pelo outro segurança norte-americano, John. Esse segurava uma pequena bandeja com objetos de primeiros-socorros. Aquele, demonstrava uma fúria crescente nos olhos escuros outrora tão doces.
— Ora... Ora... Se um dos ratos não acordou. — John zombou em inglês. Para ele, falar em mandarim era o mesmo que se rebaixar, falar uma língua suja, por isso usava sempre o idioma natal.
Quanto mais perto, mais endurecido o Huang estava. Parecia controlar-se de maneira sobrenatural para conter o tsunami enfurecido que estava dentro de si mesmo. Yi Fan sentiu o próprio coração se quebrar com o brilho transtornado naquele olhar. Com razões e motivos suficientes.
— Estamos aqui para limpar os seus ferimentos. — O tom de voz era frio como gelo.
— Tao... — Sentiu-se ferido por elas.
— Cala a boca. — disse por entre os dentes.
— Ei, falem em inglês.
Yi Fan estava tão concentrado em se autoflagelar olhando para a face do menor que nem sequer ouviu a reclamação do outro. Só queria, de alguma forma, poder pedir perdão.
— Tao...
— Já disse para calar a boca! Não quero te ouvir!
John, por sua vez, estreitou o olhar achando toda aquela situação por deveras estranha. Por que Tao estava tão incomodado com o prisioneiro? Será que tinham algum tipo de laço?
— O que está acontecendo? Conhece ele por acaso?
— Ele era o dono do bar que eu frequentava.
O loiro soltou uma gargalhada em resposta. Como chineses são tão idiotas. Pensou. Estava debaixo do nariz dele durante todo esse tempo.
— Por favor... — Kris lamuriou. O tom de voz estava embargado.
Houve apenas um fechar de mão em punho. Huang pegou a bandeja das mãos de John com as palavras entaladas na própria garganta.
— Pode deixar que faço as coisas daqui em diante. Pode ir lá para fora. Talvez James precise de você. — A expressão facial era letárgica. Como se tivesse acabado de ser dopado por uma dose de morfina.
O americano, é claro, estranhou.
— Por quê?
Tao soltou um suspiro pesado. Precisava fazer uma bela encenação.
— Quer mesmo fazer um curativo nele? Ou prefere ficar de olho no experimento junto com aViolet?
Nem precisava de resposta. Houve, de imediato, uma gargalhada.
— É. Você está certo.
Não foi preciso nem muito esforço. John tão logo entregou a bandeja com os curativos para o Huang e se pôs a sair da sala. Sem dar nenhuma explicação, ainda que o segurança chinês soubesse exatamente onde o outro iria estar.
Quando foi possível ouvir o fechar da porta, Yi Fan deixou algumas lágrimas esparsas escapar pelo próprio rosto enquanto começou a dizer:
— Me desculpa, Tao. Eu não queria.
Naquele momento, os olhos do menor estavam muito mais bestiais do que antes. O hacker chegou a se assustar.
— Já disse para calar a boca. Não quero falar com você. Não me deixe fazer o que estou pensando. — Os nós dos dedos ficaram amarelos por segurar o rolo de esparadrapo com tanta força.
— Por favor, me deixe explicar...
Antes que pudesse pensar em terminar de falar, o guarda cortou uma larga tira de esparadrapo e colou-a sobre os lábios de Kris, cobrindo-os; silenciando-os.
— Se explicar?!
Foi então que ele explodiu. Sacou a arma que estava dentro do coldre. A bomba havia explodido. Começou a chorar enquanto o maior contorceu os próprios pulsos em uma vã tentativa de se soltar. Não queria ver Tao daquele jeito.
— VOCÊ MENTIU PARA MIM! — O cano gélido repousou na têmpora do hacker. — Me enganou. Me fez pensar que os seus sentimentos por mim eram verdadeiros quando, na verdade, só queria colher informações para fugir com a merda daquele experimento!
Yi Fan apenas meneou a cabeça em negação. As palavras presas na própria garganta queimavam. Queria falar, responder, porém também sabia que precisava deixar o Huang extravasar.
— Eu fui um idiota. Um idiota. — As palavras saíram mais baixas. O choro era cada vez mais sentido. O ódio diminuía, no entanto a mágoa ainda existia. — Acreditei em você. Pensei que sentia algo por mim. Eu já estava começando a te amar. Só que fui estúpido o suficiente, para não perceber que você não me amava.
Yi Fan fechou a mão em punho enquanto Zi Tao limpou o ferimento na testa do primeiro e fez um curativo ali. O prisioneiro sentiu-se impotente. Queria pedir perdão. Dizer que o amava. Os próprios sentimentos eram reais.
Nesse aspecto, não mentiu em nenhum momento. Todas as lembranças, tão doces outrora, feriu-o como facas afiadas.
Logo assim que abaixou o braço, o segurança sentiu o toque cálido dos dedos do hacker na própria mão. Os olhos foram para aquela face torturada, triste. A cabeça balançou em um singelo não. Tal gesto só deixou o menor com ainda mais raiva.
— Não toque em mim. — Afastou a mão em um gesto brusco. — Eu te odeio, Wu Yi Fan. Eu te odeio.
As palavras se tornaram tão palpáveis que o maior conseguiu ouvir o som do próprio coração se quebrando.
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“— Quem diria que aquela aberração aprenderia a falar”.
Jane não conseguiu tirar as palavras, que ouviu escondido da sobrinha. O coração comportava-se ansioso enquanto os olhos brilhavam de excitação só de pensar em tamanha conquista.
A vontade de ver Sammy a consumiu. Era por isso que estava indo para a cela dele. Ainda não parecia real. Clinton se perguntou de minuto em minuto se tudo aquilo não era um sonho.
A lembrança tátil daquele corpo delineado ao próprio fez o instinto materno daquela mulher falar mais alto. As lágrimas saudosas surgiam no meio do oceano azul. Os dedos se moviam de maneira inconsciente. Queria tocá-lo outra vez. Estar perto.
Quando finalmente chegou a nova cela do experimento, depois de alguns breves minutos de uma rápida caminhada, Jane sorriu por ver AZ7/01 bem a frente enquanto esse não a via. Apenas ouviu o som de passos se aproximar. Pelo menos, para ouvir os sons dentro daquele espaço, a audição ainda não lhe foi privada.
A primeira coisa que Clinton fez foi retirar a mordaça dos lábios do mais novo. A segunda foi chamá-lo.
—  Sammy. —  A voz estava embargada, ansiosa.
Os dedos tocaram primeiro os cabelos. Depois, acariciaram as bochechas ao passo que o moreno não reagiu. Conhecia o som daquela voz. Aquele nome despertou-lhe lembranças profundas, assim como reviveu a imagem da cientista loira, de olhos doces e azuis a sorrir para si. Mas ele não sorriu. Estava acuado.
—  Sammy, meu filho. Senti tantas saudades. —  Chorou.
—  Suho. — sussurrou em mandarim.
Jane arregalou os olhos em resposta. Sorriu. Ele tinha uma voz tão linda, pensou. Sammy estava falando... Estava falando! Gargalhou. No entanto, ao perceber que havia sido corrigida pelo mais novo, pareceu acordar do breve sonho. Havia algo de diferente... Não sabia dizer o quê.
—  O quê? — Começou a falar em mandarim também para que o outro pudesse entender.
—  Suho. O meu nome é Suho.
—  Suho... Quem te deu esse nome? — perguntou ainda que já soubesse a resposta.
Os lábios do experimento tremeram. Pareceu ficar um tanto quanto irrequieto. Só de pensar na figura do hacker, já se sentia ansioso.
—  Meu filho. —  Não quis ouvir a resposta. — Estou tão feliz por ter você ao meu lado de novo. —  Abraçou-o.
—  Estou com medo. O cientista mau... Ele... Não quero ficar aqui.
Jane mordeu os lábios em resposta. Conhecia muito bem James para saber do que ele era capaz. Todavia isso não era importante. Tentaria protegê-lo com todas as forças. Mesmo que essa proteção fosse se submeter aos princípios inescrupulosos de Patterson.
—  Sa... Suho. Eu estou aqui. Não precisa se preocupar.
— Cadê o Yixing? Onde ele está? Ele conseguiu escapar do cientista mau?
Fechou as mãos em punho. Irritou-se. Não queria pensar no hacker que tinha lhe roubado o próprio filho.  Só de reviver todos aqueles momentos em que estava sozinha; que tinha um buraco no próprio coração enquanto pensava em como Sam poderia estar... Sentia raiva.
Suho, por sua vez, ainda se encontrava em uma espécie de limbo. Com a cientista, sentia-se um pouco mais relaxado para perguntar as coisas, pois todas as lembranças com ela, grande parte, eram agradáveis. O corpo reagia como se a amasse. Como o amor de um filho pela mãe que Yixing tinha mencionado uma vez. Só queria o bem dela, assim como supunha que ela também só queria o bem dele. Por isso precisava perguntar. Porque, saber sobre o Zhang seria como ver um oásis no meio do deserto. O coração dele necessitava disso.
— Ele... Está bem longe.
Pelo vacilar no tom de voz de Jane, o experimento percebeu que era mentira. Desesperou-se.
— Não... NÃO! — gritou de maneira cortante. Foi possível ouvir a dor dele. — Salvar o Yixing... Suho precisa... Ele não pode... Salve ele, por favor.  — a voz se tornou embargada pelas lágrimas que mal conseguiam escapar dos tampões abaixo da venda. — Me solta. Me tira daqui. O Yixing não...
Voltou a se remexer de maneira inquieta. Queria sair dali. Tentou usar o próprio poder, mas, ali, era como se fosse o deserto. Não havia nenhuma gota d'água.
Clinton se assustou com tamanho medo e desespero. Pelo sentimento que AZ7/01 sustentava por aquele criminoso. Chegou a pensar que tivessem feito alguma espécie de lavagem cerebral no jovem.
— Meu querido, não pode sair... — Acariciou os cabelos escuros.
— Ele não. Ele não. Mamãe, por favor, mande o Yixing embora.
Jane soltou um grito baixo em resposta. Porque, depois de todos aqueles anos, tinha sido chamada pelo nome o qual sempre desejou. As lágrimas de felicidade rolaram soltas pela face da mulher enquanto essa abraçou o experimento aprisionado. Como as lágrimas de ambos eram diferentes... Por breves momentos, até tinha se esquecido do hacker, porém voltou a lembrar dele ao ouvir o chamado amargurado filho.
— Yixing...
— Ele é o homem mau. Precisa pagar pelo  que fez.
— Yixing não é mau. O cientista é. Não deixa ele morrer, mamãe. Não...
A cientista ficou ainda mais furiosa. Não estava ali para ouvir lamúrios piedosos. Só queria saber do mais novo.
— Sam, não fale mais nesse hacker. — Tinha uma advertência no tom de voz.
— Suho! O meu nome é Suho! Eu quero sair daqui! — Começou a bater com a cabeça na parede acolchoada.
O experimento estava literalmente surtando.
— Suho, pare com isso. Vai se machucar, meu... Ai! — Ela tentou impedi-lo, no entanto o rapaz deu uma forte mordida na mão de Jane. Foi possível ver o sangue e a mancha arroxeada em volta do ferimento.
A raiva, que corroía a mulher pelas beiradas, fê-lo por completo naquele momento. Ela só conseguia odiar Zhang Yixing ainda mais, por ter transformado o filho.
Sem nem pensar duas vezes, segurou o rosto de Suho com força e o amordaçou mais uma vez. Os gritos, agora, saíam abafados. Pegou uma seringa de sedativo dentro do bolso do jaleco e aplicou direto na jugular de AZ7.
Quando esse amoleceu e ficou inconsciente, com um olhar piedoso e traído, Jane murmurou para o rapaz ao mesmo tempo em que tirou algumas mechas dos cabelos escuros de cima da venda:
— Nunca pensei que fosse me machucar desse jeito. Nunca. Mas sei que tudo isso é culpa daquele maldito hacker. E ele irá pagar pelo que fez.
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Yixing não sabia há quanto tempo estava observando o teto daquela cela. Ainda preso na cama hospitalar, tinha a sensação de que tudo havia parado. O tempo principalmente. Era uma sensação sufocante.
Não saber o que aconteceu com Kris e, muito menos, com Suho o deixava em um estado de ansiedade. Os batimentos cardíacos estavam tão rápidos que sequer passaram desapercebido pela máquina que os monitorava. Os bips eram rápidos, altos e incessantes.
Com a visão periférica, conseguiu ver os pés desnudos se moverem de maneira sutil, mas ainda sim desesperadora. Cada gota de remédio que caía no conta gotas e depois no tubo intravenoso, soava como um martelar naquela linha temporal suspensa.
Suho...
Os olhos se encheram de lágrimas. Houve um momento, um efêmero momento em que o hacker se arrependeu de ter pego o trabalho do colecionador. Sem dúvida tinha sido o pior e mais dificultoso, no entanto, se não o fizesse, não teria salvado a vida de Suho. Ainda que parcialmente. Não teria se apaixonado por ele.
Chegou a conclusão de que seria masoquista a ponto de aceitar tal sofrimento só para manter a existência do experimento na própria vida.
No fim, não se arrependia de nada.
— Se não é o merdinha do hacker que tentou roubar o meu experimento. Finalmente nos encontramos.
O tom de voz grave e sombrio foi seguido pelos olhos cínicos e debochados de James Patterson. Nos lábios, um sorriso prazeroso era exibido. A barba estava feita e os cabelos em tamanho médio tinham algumas mechas atrás das orelhas.
— Você... — O hacker o reconheceu de instantâneo. Era quase impossível não se lembrar do dia em que sequestrou AZ7/01.
As mãos foram fechadas em punho enquanto os braços começaram a se mover em uma tentativa vã de se soltar.
— Onde está o Suho? O que fez com ele?
Uma gargalhada foi ouvida em resposta.
— Suho... O meu experimento é uma arma. Além do mais, não te diz respeito. E eu vim aqui falar com você.
Patterson depositou a mão sobre a perna esquerda da Lay, a qual estava com um enorme ferimento e uma mancha arroxeada em volta.
— Pensou que eu iria deixar passar o fato de que quase arruinou a minha carreira? — Começou a apertar. — Pensou? — As pontas das unhas perfuraram a pele.
Yixing berrou de dor. Tudo a própria volta pareceu girar ao passo que o estômago revirou em náuseas. Sentiu vontade de vomitar. Não pensou em mais nada. Apenas na dor que o consumiu.
— Vocês irão sofrer as consequências pelo que fizeram. Não sou uma pessoa que deixa as coisas passarem tão facilmente.
— Se encostar um dedo no Suho... mato você. — Tentou recuperar o fôlego.
Patterson gargalhou em deboche. Era só olhar para aquele hacker e perceber que não tinha forças para matar uma mosca. Estava desprezível.
— Não tenho medo das suas ameaças. É mais fácil você ter medo de mim.
— Isso nunca! Eu vou...
O brilho no olhar do cientista mudou. Tornou-se ainda mais denso.
— Não se esqueça que tenho AZ7/01 em minhas mãos.
Yixing engoliu em seco. Sentiu medo.
— Não seria capaz de...
— Sou capaz de qualquer coisa para matar o rastro de humanidade que você colocou nele.
A atmosfera do ambiente se tornou pesada. Dos lábios de ambos não escapavam uma palavra.
O hacker observou o olhar intenso,pétreo e obscuro do cientista. Sentiu medo. Entendeu Suho, ainda que minimamente, durante alguns segundos. Patterson não precisava dizer muita coisa. A própria presença do homem já era por si só amedrontadora.
— Não deixarei que encoste um dedo nele. — Engoliu em seco.
— Até que você tem um senso de humor. — James gargalhou. — É mais fácil eu acabar com você, do que protegê-lo.
Antes que pudesse dizer algo em resposta, Lay sentiu a picada de uma vacina na própria jugular. De instantâneo, todo o corpo amoleceu. Tornou-se pesado. Sequer tinha forças para falar. O que ele tinha feito? Foi tudo no que conseguiu pensar.
— É melhor nos apressarmos, porque você, Zhang Yixing, é a cereja do meu bolo.
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Quando o ar preencheu o próprios pulmões com uma sensação de estar sendo dizimado pelo fogo, Kyungsoo recobrou os sentidos.  Os olhos foram aberto de súbito ao mesmo tempo em que começou a tossir sem parar.
Com as roupas ainda encharcadas, as lembranças do ocorrido retornaram de pronto para a própria mente.
A sala da enorme mansão mais se parecia com um cenário caótico, apocalíptico. A maioria dos seguranças estavam estirados no chão. Inconscientes. No entanto o caos maior estava dentro da mente do colecionador.
Não admitia ter perdido AZ7/01 daquele jeito. Não queria dar o braço a torcer e deixar o experimento ir embora tão fácil. Quem o hacker pensava que era? Amor... Era tão... ridículo. Pensou.
Daria um jeito de reconquistar o troféu. Uma arma como AZ7/01 deveria ser exibida e guardada à sete chaves.
Os próprios pensamentos ainda eram difusos. Tentava se encontrar na própria confusão. Até que uma voz não tão desconhecida, mas um tanto quanto esquecida, ecoou na cabeça de Kyungsoo.
“O que está acontecendo? Onde estou? O que fizeram... CHANYEOL?! O QUE VOCÊ FEZ COM O CHANYEOL?!”
Baekhyun... Arregalou os olhos no momento em que pensou no nome de um dos troféus e a observá-lo diante de si com a máscara de oxigênio ainda na face e com um olhar transtornado. Repleto de raiva.
— Baek... — O Do começou a dizer, porém foi interrompido pela falta de ar repentina que invadiu os próprios pulmões.
Sem nem pensar duas vezes, o experimento de cabelos brancos ergueu o colecionador no ar com a mutação de telecinese e começou a fechar a mão direita como se estrangulassr o ar quando, na verdade, que estava sendo estrangulado era Kyungsoo.
O mais velho então se desesperou. Passava as mãos pelo próprio pescoço a fim de dar cabo daquilo, mas a força e a pressão só cresciam. Os olhos começaram a ficar saltados. O rosto vermelho pela falta de ar.
Aquilo não poderia estar acontecendo. Era para Baekhyun ainda estar inconsciente como os outros, mas a mente dele era diferente. Precisava de uma dose cavalar de sedativo. Funcionava em uma frequência diferente da dos outros.
“Quem é você?” Depejou a fala com raiva na mente do colecionador já que não conseguia falar. “Por que estou desse jeito? Por que os outros estão como eu? Chanyeol...Você o...matou?”
Aquela variável não era nada positiva naquele momento. Kyungsoo já não tinha mais forças para respirar. Seria deprimente demais morrer daquele jeito. No final perderia tudo o que conquistou.
“O que é esse lugar?”
— Me... sol...ta. — As palavras saíram sussurradas.
Em resposta, o mais novo apenas franziu as sobrancelhas. Estava preparado para dar o golpe final, mas o próprio corpo foi ficando pesado. As imagens cada vez mais difusas e caiu, inconsciente, no chão. Assim como o colecionador, que voltou a tossir enquanto inalou oxigênio.
— Desculpe-me pela demora, senhor Do. Estava resolvendo algumas modificações no chip implantados nos experimentos. Parece que a função de desligar deu certo.
O mais velho só conseguiu visualizar o par de óculos e as madeixas castanhas. Porém reconheceu pelo tom de voz.
— Vamos precisar fazer mais algumas modificações no chip do Baekhyun, Sehun. Ele precisa ser domado.
— Entendido. E os outros experimentos?
— Vamos prepará-los, porque recuperarei o que é meu.
Kyungsoo estava convicto daquilo. AZ7/01 tão logo estaria na estante de troféus.
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Os ouvidos de Suho zumbiam. A cabeça estava pesada enquanto sentia tudo girar ao próprio redor. O corpo estava deitado, esticado sobre uma leve elevação quadrangular no chão. Os tornozelos estavam livres, mas os pulsos acorrentados nas próprias costas. Não conseguiu mover os lábios, porém abriu os olhos.
Quando o fez, foi bombardeado pela alta luminosidade do local que o cegou. Piscou algumas vezes. Os ouvidos começaram a ter consciência dos sons ao próprio redor. Um grito baixo de surpresa, uma gargalhada debochada. Sentiu também que algo estava grudado nas próprias têmporas.
— Até que enfim acordou. Não temos tanto tempo para esperar, AZ7/01. — Patterson soou bem humorado, extasiado com aquela situação.
Suho piscou mais três vezes para ser exato. Foi então que a visão normalizou e pode observar a imagem que lhe resultaria alguns pesadelos.
Yixing estava sentado e preso em uma enorme cadeira. Os braços do rapaz, presos um de cada lado do objeto estavam com tubos intravenosos e eletrodos, assim como as jugulares e as têmporas. Com a roupa hospitalar, foi possivel observar o longo ferimento na perna esquerda. Os olhos castanhos brilhavam, gentis e machucados por ver Suho daquele jeito. Os lábios estavam contorcidos, até pronunciarem o seguinte nome:
— Suho.
— O que achou da minha surpresa, AZ7/01? — Com um sorriso cínico na face, James pousou uma das mãos no ombro esquerdo do hacker.
Ao se dar conta da situação, o experimento arregalou os olhos. Estava apavorado. O pior pesadelo tinha se tornado realidade. Ver o homem que sempre o maltratou, aterrorizou e machucou perto de Yixing foi a pior coisa que poderia ter acontecido a Suho.
— Hm! Hm! Hm! — Começou a balançar o tronco em uma tentativa de soltar os braços.
O tormento era evidente naqueles olhos outrora pueris, inocentes. Yixing estava machucado. A face não sustentava mais uma expressão feliz como antigamente. Estava cansado, abatido. AZ7/01 sentiu o próprio coração se partir.
— Gostou da sua surpresa, AZ7/01? — James segurou o queixo do Zhang enquanto deslizou o dedo indicador pela bochecha dele como que para provocar a própria arma.
Observar aquele rosto tão sujo perto de Lay, aqueles toques tão indevidos, fez com que Suho se levantasse e saísse correndo em direção ao hacker, todavia não chegou nem na metade do tablado. Os grilhões da corrente o impediram. Fizeram com que ele fosse empurrado para o chão com força. Foi possível ouvir o baque surdo da queda.
John, que observou tudo na porta da sala do laboratório, riu em resposta. Violet, por sua vez, sustentou um ar de desprezo, enquanto alguns cientistas chineses faziam anotações nos tabletes e mantinham certa distância, porque tinham medo de AZ7/01. A lembrança dele estrangulando o próprio criador ainda era vívida nas próprias mentes.
— Suho, não faça isso. Você vai se machucar. — Yixing tentou se fazer de forte. Não queria preocupar o mais novo, assim como não queria mostrar a fraqueza para o cientista americano.
— Hm! Hm! Hm! — Levantou-se mais uma vez e inclinou o corpo para a frente em uma tentativa de arrancar o grilhão da corrente do chão, mas esse era tão resistente e pesado quanto uma âncora.
Queria tocá-lo. Tirá-lo dali. Ele estava tão perto... Como não queria estar impotente naquele momento.
— Eu vou te salvar, Suho. Eu vou. Nós ficaremos juntos.
— Quero vomitar com esse discurso horroroso e brega. — Violet torceu os lábios.
— Hm! Hm! Hm! — O experimento meneou a cabeça em resposta. Não era ele que precisava ser salvo, mas sim Yixing. Era a única certeza que carregava consigo.
Patterson rolou os olhos em resposta.
— Vamos começar logo. AZ7/01, quero ver até onde consegue chegar. — Afastou-se de Lay e ordenou para um cientista chinês. — Ligue isso. Na força máxima.
Suho franziu as sobrancelhas em resposta. Não entendeu o que o outro quis dizer com aquilo, entretanto quando começou, soube que seria mais um dos próprios pesadelos assombrosos.
O Zhang começou a ter espasmos por todo o corpo. A sensação era de estar sendo perfurado mil vezes de maneira constante. Tentou se controlar. Mordeu o lábio inferior até sentir o gosto de sangue para não assustar o experimento, contudo não conseguiu. Uma dor anestesiava a outra. Sentia que ficou cada vez pior tolerar aquilo de maneira a reprimir. O cérebro já não conseguia pensar em mais nada. Focava apenas na dor.
Gritou a plenos pulmões. Logo em seguida, berrou. Era excruciante.
Suho, ainda de pé, entrou em um estado catatônico, de choque. Yixing estava sendo ferido, machucado bem a própria frente enquanto não conseguia fazer nada para impedir.
Os gritos soavam como um martelar nos próprios ouvidos. Tornaram-se a marcação do momento em que a linha tênue da sanidade entre a insanidade foi quebrada. Os instintos humanos foram ficando cada vez mais longínquos, esquecidos. O ódio, por sua vez, foi ficando cada vez mais quente nas veias de AZ7/01. Corroíam-lhe, impulsionavam-lhe.
Os olhos reviraram nas próprias órbitas. Ficou vísivel somente a cor branca do globo ocular. As veias da jugular saltaram enquanto a máquina rastreou uma frequência altíssima das ondas cerebrais. A água da piscina olímpica que estava atrás dele, depois de uma enorme barreira de vidro, começou a se erguer. Ficou furiosa como uma tsunami.
Quanto mais o hacker gritava e o experimento se descontrolava, usando uma nova carga da própria mutação, mais James Patterson arregalava os olhos em excitação. Aquilo era a coisa mais bela que tinha visto. Foi o que concluiu. Não esperava por aquela carga tão grande que quase chegou ao uso total do cérebro de Suho.
O prédio começou a tremer. A água dos encanamentos também respondiam ao comando de AZ7/01. Se continuasse daquela maneira, colocaria o prédio abaixo em poucos minutos.
— É uma obra de arte. — Um sorriso estupefato surgiu no canto dos lábios do cientista americano. Aquilo foi mais do que esperou ver em uma breve amostra.
Os cientistas chineses, mais uma vez, ficaram assustados com tamanha potência da ira e do descontrole do experimento. O teste só comprovou o fato de que ele precisaria ficar domesticado na cela especial em que tinha sido posto.
As águas tempestuosas se erguiam como uma enorme parede, e, quando ameaçaram quebrar a barreira de vidro, James apertou um comando no teclado do tablado que paredes de vidro se ergueram e trancaram Suho naquela cela que tão logo foi invadida por uma densa e grande nuvem de fumaça.
No momento em que a água da piscina desmoronou e voltou para essa, o chão do prédio tremeu como em um terremoto. O som alto do baque surdo deixou todos momentaneamente surdos. Ignoravam Yixing que ainda gritava de dor. Dentro da cela do tablado, AZ7/01 também tinha desmoronado no chão. Foi domado pela inconsciência.
— Desligue. — Patterson ordenou mais uma vez.
Assim que a dor parou, Lay inspirou o ar em um gesto de alívio. A mente estava tão casada, tão em frangalhos que não resistiu. Desmaiou.
James, ao ver tal cena, olhou com escárnio para o prisioneiro e soltou uma gargalhada obscura.
— Fracote. — Aproximou-se do mais novo pela segunda vez. — Em pensar que eu queria te matar, mas quem diria que vocẽ se tornou a minha galinha dos ovos de ouro? — Deu batidinhas na bochecha do inconsciente. — Por enquanto, irei te deixar vivo, mas, agora, será a sua vez de ser punido por ter roubado AZ7/01 de mim.
O laboratório que outrora estava tão barulhento, foi imerso em um silêncio profundo, duradouro e perturbador.
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Os passos eram agitados, ansiosos, em uma velocidade acima do normal. Os ecos daqueles eram ouvidos de maneira gradativa por todo o corredor do laboratório.
Um curto sorriso pairava no canto dos lábios do homem que não visitava aquele lugar fazia algum tempo. Depois do que foi relatado por um cientista chinês, não tardou em querer vê-lo com os próprios olhos.
“ É o meu passaporte de ouro...” Foi tudo no que conseguiu pensar enquanto não conteve a excitação repentina.
Logo assim que irrompeu pelas portas duplas, surpreendeu um James Patterson, que fazia anotações nos dados de AZ7/01 representados no holograma.
— Então é verdade que conseguiram recapturá-lo. — O sorriso ficou ainda mais largo.
— Desembargador Zhuan? — Franziu as sobrancelhas. — A que devo a ilustre honra da sua visita?
— Sei que ele está aqui. Me contaram. O AZ7/01.
Patterson soltou um suspiro pesado. Aqueles cientistas chineses.  Pensou com asco.
— Posso vê-lo?
O olhar do desembargador brilhou como uma pedra no sapato do cientista americano.

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