12. Despedidas

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A brisa gelada percorria aquele enorme campo aberto. Agitava a grama, as folhas das copas das árvores, a água daquele rio e os cabelos negros de Suho que se misturava de forma homogênea com a cor daquele céu noturno.

Sentia-se conectado com a natureza. Cada parte daquele pequeno bioma entrava pela planta dos próprios pés do rapaz, ia criando ramificações por todo o corpo desse. As narinas percebiam aromas diferentes, os ouvidos sons enquanto o tato – cada trecho de pele - tinha a sensação do roçar da relva, da brisa invisível enquanto os olhos não desgrudavam daquelas águas escuras.

Na face, carregava uma expressão por deveras inocente, curiosa, chegava a ter um pouco de infantilidade. Pois eram velhos amigos que se reencontravam. As palmas das mãos foram abertas ao mesmo tempo em que os pés se moviam para dentro do rio. Capturavam o mudar do solo de algo mais terroso, seco para algo úmido fofo e gosmento como o lodo ou a lama.

Sem nem precisar pensar e/ou fazer até mesmo algum mínimo esforço, AZ7/01 começou a controlar aquela água. Essa subia, transcendia para o céu como uma corda a ser suspensa. Logo em seguida, desceu para formar pequenas espirais que não paravam de girar, porque o jovem movia a própria mão direita em espiral.

Assim como começou com a direita, logo ergueu a esquerda e ambas as mãos controlavam duas espirais que ora se contorciam, ora se esticavam. Enlaçavam até o corpo do próprio experimento. Esse não deixou de esboçar um pequeno sorriso na face.

Naquele momento, conectou-se com aquele elemento da natureza. Explorou cada canto e recanto da própria mutação. Sem saber, expandia cada vez mais as próprias habilidades. Em questão de minutos, sozinho, conseguiu aumentar o poder em proporções gigantescas. Coisa que James não conseguiu fazer nem em meses.

Era conhecendo a si mesmo que Suho conseguiria tal feito e não sofrendo como passou grande parte da vida.

O coração estava leve, os músculos relaxados, os olhos admirados com tamanha beleza do que fazia.

AZ7/01 brincou como nunca o fez.

Era possível ouvir as risadas de sinos que escapavam pelos lábios, assim como era perceptível a felicidade genuína naquela face.

O experimento ligava-se cada vez mais consigo mesmo. Aprendia, de certa forma, que conseguia também sentir aquele mesmo calor quando estava sozinho.

Em um ato instintivo, usou suas mãos para controlar as espirais de água a fim de que essas se unissem e formassem uma espécie de plataforma que sustentou os próprios pés. Estava de pé ali. Com um brilho de excitação no olhar, ergueu-as gradativamente. Assim, a plataforma também se erguia.

A face pálida assumia um tom perolado, pouco azulado, por conta do brilho da lua a lhe iluminar. O sorriso ficou ainda mais largo. Se pudesse, choraria ali mesmo devido aos sentimentos mistos que tomavam conta de cada recanto do próprio corpo.

Suho estava tão perto. Aqueles pontos luminosos, corpos celestes, sorriam para esse que em um ínfimo segundo conseguiu pensar que tocaria nas estrelas.

Porém, tudo o que conseguiu fazer foi despertar lágrimas e um sentimento agridoce em certo espectador que nunca admitiu ver algo tão puro e belo na própria vida e que seria ele a arruinar tudo aquilo.

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"— O seu amigo tem um jeito meio curioso. — a senhora Zhang esboçou um pequeno sorriso na face.

— Ele é inocente. Suho não teve a mesma criação que eu. — o hacker tentou disfarçar.

A mulher, por sua vez, apenas continuou a observar o filho de forma intensa. Como se pudesse lê-lo. Naquela expressão compenetrada havia muito mais coisas do que Lin poderia sequer imaginar. Sabia que com a ida do rapaz para Xangai, tudo mudaria. Ela não conseguia mais tomar conta da vida de Yixing, protegê-lo como o fez durante grande parte da própria vida.

Missão AZ7/01Onde histórias criam vida. Descubra agora