Prólogo

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17 de dezembro de 2019

Christopher Vélez

O silêncio vindo do quarto, mesmo com a porta do banheiro aberta, me fazia acreditar que Charlotte havia voltado a dormir. Eu gostaria de fazer o mesmo e passar esse dia frio em nova Iorque deitado na cama de um hotel, mas a agenda de eventos da banda não me permitia.

Enrolei a toalha na minha cintura ao sair por meio do vapor, causado pela água quente do banho, enquanto meu cabelo derrubava algumas gotas pelo corpo.

Surpreendentemente, ela estava acordada e vestindo suas roupas que a pouco tempo estavam espalhadas em algum lugar do quarto.

- você tá atrasada para algum compromisso?- pergunto me lembrando que como eu estava na cidade por conta da banda, ela também estava pelo seu trabalho

A resposta foi um silêncio enquanto terminava de colocar seus tênis levantando logo em seguida

- o que aconteceu?- volto a perguntar caminhando até a cama

- Christopher, você sabe muito bem...- sua voz soa trêmula, mas ela a mantinha forte.

- como assim?

Observei enquanto revirava seus olhos ferozmente, bufando após um riso irônico. Charlotte sussurra algo que não consigo escutar ao pegar sua bolsa.

- Lottie?- seus olhos brilhavam preenchidos por lágrimas mas a mulher não demonstrava qualquer fragilidade- o que...

- já pensou em seguir a carreira de ator, além de cantar? Porque você sabe fingir muito bem

O teor de sarcasmo em seu tom de voz logo pela manhã, era capaz de me deixar levemente assustado. Não disse nada, esperei até que ela concluísse.

- sabe...- sua boca abre e fecha algumas vezes antes- eu sinceramente não sei o porquê continuo entrando no seu joguinho ou o que quer que seja

- eu não faço qualquer tipo de jogo com você

- você tem algum tipo de noção na sua cabeça? eu sou o que você puxa para perto quando as outras se cansam

- isso não é verdade- reluto

- caralho Christopher!- sua voz já estava alterada-  você realmente é um egoísta... Não deveria ter me aproximado de você- a última parte soa como um sussurro apenas para ela, mas não baixo o suficiente para que eu não escute.

- eu não sou egoísta! e você não foge muito disso, já que sempre é a dona da razão sem olhar pelo lado de outra pessoa

- eu? dá um tempo, não sou eu que vou atrás de você e depois te descarto até a próxima noite fria

- você diz como se eu tivesse qualquer tempo com a agenda da banda

- pra mim você realmente não tem, mas para todas as outras mulheres sim. Irônico, não?

- Charlotte nós nem namoramos- dou-me conta das palavras ditas por mim quando a última sai de minha boca

- É...- ela faz uma pausa respirando fundo- esse é o problema, porque eu tentei te dar tudo de mim. Só que pra você, não é nada

Charlotte se vira em direção a porta.

- eu nunca disse que iria te dar tudo

- todas as coisas que você disse que faria abraçado a mim na cama depois de conversar por horas na madrugada, foi o que pra você?

- Charlotte, não precisa agir como uma pessoa mimada. Eram apenas conversas

- Ok. Agora eu não vou agir de modo algum- A porta é rapidamente aberta e fechada em seguida por ela.

- Qual é, Lottie? Volta aqui- grito de dentro do quarto

Conseguia saber que Charlotte ainda estava ali pela maçaneta ainda virada na porta, mas não irei atrás dela. Não agora.

Depois nós conversamos, não é a primeira briga que temos. Nos últimos meses, é o que mais acontece quando nos encontramos. Pego meu celular e ao checar as notificações, me dou conta do que causou a explosão em Charlotte.

**

Charlotte Grace

Por dentro, eu estava quebrada. Meu coração se apertava cada vez mais enquanto caminhava pelo longo corredor até o elevador. O caminho parecia se multiplicar a cada passo. 

Christopher já causou danos o suficiente em mim. Não posso permitir que isso continue acontecendo. Para meu próprio bem.

Minha cabeça rodava em volta de todos os acontecimentos dos últimos meses, o que fazia o sentimento dentro de mim piorar cada vez mais. A porta do elevador se abriu e para minha sorte estava vazio.

Enquanto era levada até o saguão, não consegui mais conter as lágrimas. Elas caiam uma seguida da outra pelo meu rosto. Quanto mais próximo o elevador estava, mais eu tentava me manter forte secando as lágrimas. Ao menos até o táxi eu preciso chegar sem que me vejam assim.

- Lottie? o que foi?

Sou interrompida por Joel que, por algum motivo, estava no saguão nesse exato momento. Não queria ter que falar sobre qualquer coisa. Na verdade, eu não conseguiria.

-nada- forço um sorriso fraco- eu só preciso ir embora- dou de ombros antes de passar por ele, mas Richard aparece com poucos passos de distância.

- você não tá bem... tava chorando?- neguei com a cabeça até que Richard me puxa para um abraço e então, todas as lágrimas voltam a rolar meu rosto- vem, vamos pro meu quarto

Last ChristmasOnde histórias criam vida. Descubra agora