hotel- parte um

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13 de dezembro de 2020

Charlotte Grace

Todos os vôos de hoje estão cancelados- a voz soa pelos alto falantes do aeroporto- por favor, fiquem calmos e evitem tumultos. Transmitiremos novas informações em breve.

Ótimo. Mais um ano em que me encontro presa ao aeroporto de Nova Iorque e na mesma época: o natal. É claro que uma tempestade tinha que acontecer no dia que volto para casa para as festas de fim de ano. 

Já sabia os procedimentos necessários então apenas tentei não me estressar tanto. Apesar do aviso, algumas pessoas insistiam em fazer tumultos ou arrumar brigas querendo voar mesmo sabendo que não aconteceria.

Sentei em um daqueles bancos desconfortáveis com minha mala ao meu lado e comecei a mexer no meu celular até que as confusões acabassem. Levou alguns minutos e uns seguranças, mas teve seu fim. Um pouco irritada com a demora de qualquer outra informação, caminhei até a fila grande já formada para falar com uma atendente. 

Antes de vir para cá, eu estava num hotel, ou seja, não tenho para onde voltar e, com a cidade cheia, seria difícil conseguir alguma reserva em cima da hora perto do aeroporto.

- Próximo!- a atentende exclama e eu me aproximo- Boa noite, qual era o seu vôo?- diz um pouco apressada levando em consideração o caos que o lugar estava

- Boa noite. Miami, às 21 horas- dei um sorriso fraco tentando ser simpática e recebi um como resposta

- Ok. Espere um minuto- a mulher começou a digitar algo no computador que eu não conseguia ver- devido a tempestade e o cancelamento dos vôos, a companhia aérea recomenda este hotel para sua hospedagem-  pego de suas mãos um papel com o nome e endereço e outros dados- já há uma reserva para você. Caso queira se hospedar em um hotel diferente, os avise por gentileza.

- Claro!- observei a impressora emitir um papel que logo foi entregue a mim para ser assinado. Permaneci com uma cópia. -e quando vou poder viajar novamente?

- ainda não há um dia certo, depende do tempo. Estimam que em dois ou três dias seja possível.

Já era possível prever quantos compromissos de fim de ano vou perder com esse pequeno imprevisto.

- e a passagem?

- você será comunicada quando o vôo for reagendado, se você quiser reembolso entre em contato com esse número- ela apontou para o papel que eu tinha em minhas mãos- caso ainda vá viajar, no dia comunicado. Sua passagem ainda será válida, mesmo em um dia diferente

- certo, obrigada- ela sorri- boa noite

- boa noite- ela diz rapidamente enquanto saio da fila. Fui para o lado de fora do aeroporto e peguei um táxi para o hotel.

Mesmo que eu esteja chateada com esse acontecimento, e refletindo sobre o quão azarada posso ser, ainda estou melhor que no último natal. Infelizmente terei mais dias em um hotel, o lado bom é que não terei a mesma companhia.

**

Abri a porta do quarto com um pouco de dificuldade por segurar meu celular e uma bolsa com uma mão. Finalmente pude entrae. Eum ambiente bonito, um pouco grandes e com duas camas.

Além de não viajar e passar mais dias em um hotel, vou ter que dividir o quarto com uma pessoa completamente estranha?

Não tem como piorar.

Deitei na cama mais perto da porta, pra caso eu precise fugir de quem quer que seja que entre aqui e coloquei o celular para carregar.

Mesmo não viajando eu sentia como se tivesse, o corpo todo doía relaxando aos poucos.

O barulho da porta abrindo vagarosamente chama minha atenção me levando a sentar na cama esperando para ver quem seria meu colega de quarto. Sabe-se lá por quantos dias.

A figura de uma pessoa apareceu na minha frente me deixando muito surpresa, mais do que eu gostaria.

Azar. É a única palavra que realmente pode me definir.

- só pode ser brincadeira- balancei minha cabeça negativamente ficando em pé

- Charlotte?- ele diz surpreso e eu apenas o encaro logo desviando o olhar

- Christopher- cruzo os braços em frente ao meu corpo

- quanto tempo... quem diria que em outro natal estaríamos no mesmo quarto de hotel novamente

- queria poder não dizer

-  ainda tá brava comigo?

- para estar brava, eu teria que me importar com você. O que não acontece.

- tranquila, faz tempo que não nos vemos. Calma

- o que você tá fazendo aqui?

- caso você não saiba, os vôos foram cancelados

- é sério isso?- revirei os olhos e ele riu.

- eles me deram a chave desse quarto- Christopher apontou para as duas camas- parece que temos que dividir- um sorrisinho aparecia em seu lábio

Não. NÃO!

- por que você não foi pra outro hotel ou sei lá?

- eu e os garotos preferimos ficar aqui mesmo, mais fácil e perto do aeroporto. E não precisaríamos fazer uma reserva já que a companhia fez antes.

Isso eu não podia negar, ele estava certo com o ponto de vista.

- e como eles estão?- deixei minha voz sair mais suave e não tão nervosa como antes

- até cinco minutos atrás estavam bem- Christopher se joga na cama- deles você sente saudade né?

- nós terminamos, eu não deixei de ser amiga deles

- nós dois não precisávamos ter acabado com tudo, podemos continuar de onde paramos ou relembrar...

- você não pode estar falando sério

- por que não? quais as chances de um ano depois estarmos no mesmo quarto por culpa do tempo?

- eu espero que nenhuma- virei-me caminhando para a porta

- onde você vai?

- procurar outro quarto

- todos os quartos estão ocupados, Lottie- parei antes de sair

- então vou achar um dos garotos pra trocar comigo

Encostei minha costa na porta ao fechar e coloquei as mãos na cabeça sem acreditar no que acontecia.

Last ChristmasOnde histórias criam vida. Descubra agora