24. Queira ser usado

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William não sabia o que estava fazendo, ele apenas precisava sair de perto de Mel naquele momento. Vê-la chorando daquele jeito e saber que ele era a causa, estava destruindo ele por dentro. Se ele não tivesse saído quase correndo e sem olhar pra trás, ele ia desdizer tudo, pedir desculpas e consola-la. Magoa-la era a pior parte, doía nele até fisicamente. Sentia uma pressão forte no peito e a única explicação para aquele peso era saber que tinha magoado a esposa por simplesmente não conseguir se controlar. Ele dirigia sentindo agora mais tristeza do que raiva. Não tinha ideia para onde estava indo. Só queria se afastar daquela pressão esmagadora no seu peito. Acabou parando num bar de luxo que ele frequentava quando era solteiro. Só queria uma dose generosa de álcool para quem sabe assim, diminuir o buraco que estava se formando no seu peito. Sentou no bar um pouco aliviado por não ver conhecidos por perto. Bastava o barman se apiedar da sua cara de derrota. Pediu um Scotch e quando esse foi servido, ele tomou num só gole fazendo um gesto para que o barman não se afastasse. "Pode deixar a garrafa." Ele pediu e foi atendido. A segunda dose desceu mais leve, mas não o fez se sentir melhor. Mais do que nunca a imagem de Mel chorando estava desenhada em sua mente fazendo aquela segunda dose se revirar no seu estômago. Então ele tomou a terceira seguida, sentindo uma leve dormência na língua e nos lábios.

Quando Will saiu de casa, Mel temeu não voltar a vê-lo tão cedo. Novas lágrimas inundaram seu rosto, ela foi até sua bolsa e retirou de lá com as mãos trêmulas seu celular. Estava a ponto de tocar no nome dele para fazer a ligação, quando desistiu. O que ela iria dizer? Implorar que ele voltasse pra casa? Garantir que ela faria tudo que ele quisesse? Ela não poderia fazer uma coisa nem outra. Não poderia ceder as ordens dele. Ele precisava conhecer os motivos dela, apoia-la e confiar nela cima de tudo. Ao se lembrar da atitude dele de minutos atrás, isso parecia impossível agora e sempre. Também não poderia pedir que voltasse pra casa, se ele se afastou é porque não a queria por perto. Constatar isso a magoou tão profundamente que a fez soltar o celular, se enroscar no sofá e chorar excessivamente.

Quando achou que não havia mais lágrimas a serem derramadas, visto que estava próximo da desidratação, Mel juntou as forças que tinha para se manter de pé e foi até a cozinha. Bebeu água, bastante água, ouviu a barriga reclamar de fome, mas ela não quis comer. Não tinha a menor vontade, ignorou o pedido do estômago e subiu para seu quarto. Conferiu o celular antes de entrar no banho, já passava das 10 horas, William ainda não havia voltado e ela começava a duvidar que ele voltasse. 

Embaixo do chuveiro, a água correndo por seu rosto parecia ter incentivado novas lágrimas a surgirem ou teria sido a água que tomou na cozinha que a hidratou o suficiente para chorar novamente? Ela não saberia dizer. Só deixou que as lágrimas caíssem e se misturassem a água do chuveiro. Quando finalmente parou de chorar, também deu fim ao banho. Finalizado o banho, ela fez mecanicamente todo o seu ritual de cuidados com o cabelo e a pele. Secou os cabelos, hidratou todo seu corpo, escolheu uma camisola e se enfiou na cama determinada a não chorar mais. Não importava o que acontecesse com ela ou com seu casamento, dali para frente, ela enfrentaria sem derramar uma lágrima a mais. Já chorou tudo que tinha pra chorar, ela tinha certeza disso. Fechou os olhos para tentar relaxar a mente, mas logo as imagens de William lhe gritando e exigindo absurdos dela ocuparam sua mente. Ela abriu os olhos para espantar aquilo. É... Não vai ser uma noite fácil. Já que não conseguia parar de pensar nele, que tal se concentrar em imaginar onde ele está e o que estava fazendo? Ela não fazia ideia, só imaginava que não era coisa boa. Esperava de verdade que não fosse algo que ele viesse a se lamentar no futuro.

Will: O maldito escocês quer me matar. – Will disse pra ninguém em particular, mas o barman ouviu.

Barman: Então é melhor parar nessa. – O barman se referia a segunda garrafa de Scotch quase vazia. 

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