2. Sextas & Sabões

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Kate
Quando Vanessa entra em meu apartamento mais uma vez, ela encontra Tine adormecida, cabecinha descansando em meu colo, caixas de pizza emporcalhando a sala e o meus olhos colados num livro de ciências da quarta série.

As engrenagens girando em sua cabeça eram quase visíveis. Aceno uma mão em saudação e volto a ler.

—O que aconteceu aqui? Quem é você e o que você fez com a Kate? — sussurra Nessie, aproximando-se devagar, encolhendo alguns centímetros sem os saltos.

Ergo o livro verde como se fosse explicação o suficiente. Nessie franze o cenho.

—Eu não sabia que crianças eram tão inteligentes. Olha o tipo de coisa que elas aprendem, Ness.

Tine se mexe em meu colo. Com isso, minha melhor amiga ergue uma sobrancelha com um olhar que parecia dizer "pensei que vocês se odiassem..."

Dou de ombros em resposta. Vanessa parecia morder um sorrisinho.

—Não, sério, o que aconteceu? — Ela tira uma mecha pálida do rosto da irmã.

— "O Método Científico, Arte da Resolução de Problemas" — leio o nome do capítulo. — Eu não sei como não pensei nisso antes.

Minha melhor amiga se senta ao meu lado, joelhos contra seu peito. Balançando a cabeça, ela pergunta:

—Do quê você tá falando?

—A crítica do Beaumont—

—Kate, a gente já— ela me interrompe.

—Shh, só escuta! A minha hipótese é que eu tenho dificuldade de escrever romances essencialmente precisos porque eu nunca passei por isso. O que pode até ser apoiado pelo argumento filosófico empirista. Faz bastante sentido quando você para pra pensar.

Uma careta confusa é plantada em seu rosto, mas eu prossigo:

—Mas isso é só a hipótese. De acordo com o método científico, o próximo passo é o experimento. — Aponto para a ilustração colorida do livro. — Eu preciso me apaixonar por alguém. Não tem erro.

—Você não pode estar falando sério — Nessie ri, estudando as imagens. — Para...o quê? Escrever melhor?

—Precisamente! — Mordo o canto de minha boca, minha expressão pensativa. — Não será uma garantia, mas vale a pena testar a hipótese, eu não sei... — Dou de ombros. — Também tem escrito que o experimento precisa ser repetido, mas eu não tenho esse tipo de tempo.

—Se você não conseguiu se apaixonar por ninguém em 24 anos, Kat, o que te leva a achar que vai conseguir agora?

—Eu não sei bem, não sei nem aonde eu vou encontrar alguém. — Descanso a cabeça em seu ombro e solto um suspiro. Vanessa ainda folheava o livro do ensino fundamental. — Eu sinto que eu não conheço ninguém...com potencial? E eu também não quero pedir pra minha mãe bancar cupido. Como foi hoje com o Liam, a propósito?

—Dean — Nessie corrige rapidamente.

Tinha quase certeza de que Vanessa estava corando, mas senti seu pulso acelerar em seu pescoço. Abro um sorrisinho.

—Não era mesquinho, então? — perguntou.

—Não... — Um suspiro. — Mas estamos falando de você. Sabe, eu posso tentar te apresentar a alguém. Ou você pode tentar o Tinder.

Ergo-me rapidamente, olhos grandes e lábios entreabertos. Ou todos estavam surpreendente mais inteligentes hoje, ou o meu cérebro estava com sérios problemas de raciocínio.

Experimento AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora