1. Papéis & Lamentos

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Kate
66 palavras.

Só levaram 66 míseras palavras para destruírem a minha carreira.

Talvez "destruir" seja um termo muito forte, mas eu, definitivamente, estou tendo muita dificuldade para superar essa pedra (ou muro) no meu caminho.

Alguém com experiência na indústria editorial e na produção de ficção juvenil pode reconhecer que um romance melodramático e ligeiramente decadente é um livro eminentemente comercializável, mas severamente repetitivo.

É possível que "Amor Imensurável" seja um romance totalmente sincero, e que Dragoste seja uma escritora autenticamente inepta, incapaz de transmitir precisamente o sentimento amoroso, presa em seu próprio universo, em vez de má no que faz.

Em outras palavras, de acordo com Magnus Beaumont, o meu livro é ruim.

O que não seria grande coisa a não ser pelo fato de ele ser um dos grandes nomes da indústria literária e o meu segundo livro publicado — "Amor Imensurável" — ter as suas vendas despencadas num ritmo deprimente pela segunda semana consecutiva em consequência disso.

É por isso que eu, Katherine Dragoste, me encontro rasgando a décima segunda cópia da página da coluna de Beaumont na revista Reader. Incomum de mim, mas raiva é raiva.

—Você quer desenhar bigodes na foto dele? — pergunta Vanessa, minha melhor amiga, erguendo mais uma cópia da revista. — Ou quer rasgar mais uma?

Meus olhos pousam nos pedacinhos de papel descansando na lata de lixo em minha frente. Depois, na revista nas mãos de Nessie.

Presa em seu próprio universo.

Com um gemido exasperado, apoio meus antebraços no balcão frio da minha cozinha e enterro meu rosto.

Não, rasgar papel não resolveria os meus problemas. Sem contar que não era nada ecologicamente correto...

—Ótimo, agora, eu sou uma escritora ruim e uma destruidora de árvores — murmuro, fechando meus olhos. — Não tem como ficar pior.

—Não seja boba, sempre tem como ficar pior. Tipo, você ainda tem os seus 11 e-mails da editora pra abrir e qualquer um ainda pode encontrar a crítica online — lembra Vanessa, folheando a revista preguiçosamente. Um grunhido é a minha única resposta.

Após o relativo sucesso do meu primeiro livro, "Corações de Papel", eu estava realmente começando a criar um nome para mim mesma. De acordo com a minha editora, Sally, as prospectivas eram tremendamente positivas ao meu respeito.

Logicamente, havia recebido críticas, mas nenhuma tão direta ou de alguém tão influente. Uma escritora autenticamente inepta? Sério?

Admito que o romance era, de certa forma, exagerado e melodramático, mas...não era isso que o público queria?

Nunca fui muito fã de romances (a ironia), mas sempre fui louca por escrever, me sentar e passar horas e horas convertendo os meus sentimentos em palavras.

Mas eu também gosto de números, e dados, e estatísticas. E tudo apontava que a minha carreira de escritora teria mais chances de sucesso no gênero romântico. Então, cá estou eu.

Uma mulher patética de 24 anos que nunca se apaixonou, mas ganha a vida escrevendo romances.

Não que eu nunca tivesse tido experiências amorosas. Mas, por algum maldito motivo, nunca consegui nada além de puramente físico.

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