Capítulo 14 - "it was just like a movie, it was just like a song..."

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 Respirei fundo, olhando o salão cheio de pessoas. Todos da empresa estava aqui, já que era junho e nós fechavamos o segundo ano de atividade, tendo um sucesso e podíamos dizer que estávamos em ascensão no ramo. Acho que não falei sobre o que eu e Paulinho trabalhávamos. Teoricamente, minha participação era apenas uma ocasionalidade, eu tinha um emprego na Cosmos, uma linha de roupa. Eu, Bia e Mari trabalhavamos juntas, eu desenhava as peças, Bia confeccionava e Mari era modelo. Ia fazer um ano que estávamos contratadas e eu lançaria uma nova linha em agosto. Paulinho e Guilherme trabalhavam juntos, eles eram os verdadeiros dono do negócio: Um estúdio que desse apenas suporte e estrutura para artistas novos e pequenos, para que tenham material profissional para apresentar ao público. Paulinho, formado em música, ajuda na produção das faixas e Guilherme, formado em cinema, ajudava nas filmagens dos videoclipes. Nesse ramo, os dois se ajudava, mas Paulinho também dava aulas de como usar os equipamentos para formar produtores e músicos com experiência em gravação de áudio e mixagem, sem falar nas aulas que ele dava. Guilherme produzia curtas, ajudando atores menores e ensinando jovens cineastas, ajudava a produzir roteiros e ensina pequenos interessados no ramo. A Produtora M&S (Mercury & Spielberg) só subia no rank de empresas com maiores crescimentos por ano.

Me forcei a sorrir, Paulinho estava ao meu lado me olhando com o cenho franzido. Guilherme estava conversando com os funcionários, sorrindo e dizendo como estava empolgado que a empresa que fazia o projeto do novo prédio que iríamos usar no ano que vem. Falava sobre a nova contratação do grupo de arquitetos, que a pessoa que viria comandar o projeto era uma arquiteta em ascensão, acabando de vir da França. Íamos fazer uma reunião com essa pessoa na próxima semana, mais precisamente na quinta. Mesmo não participando ativamente, Paulinho pediu minhas presenças nessas decisões por achar que daria mais certo se pensássemos em tudo juntos, e esse plano nunca falhou antes.

— Gi? — Paulinho chamou, se aproximando, com uma garrafa de água. Ele me conhecia tão bem. — O que houve?

— A música, Paulinho. — Peguei a garrafa, dando um longo gole. Ele sabia que eu não estava bem. — Em casa falamos disso, não quero estragar a festa. — Sorri, dessa vez sem forçar. — Amo você, ursinho. — Falei, dando um selinho em seus lábios. Não que fizessemos mais que isso quando estávamos sozinhos.

Eu e o Paulinho estávamos casado mais por questões profissionais do que por amor romantico. Acho que casar foi mais como um ingresso para a vida adulta. Não precisávamos mais ouvir os parentes falando sobre, tínhamos desculpa para não querer ir no rolê, e mais: eu morava com meu melhor amigo, e sendo casados, estávamos sempre disponível um para o outro. Paulinho se tornou porto seguro, abrigo, um lugar para descansar em dias difíceis. Ele nunca enjoou das minhas comédias românticas repetidas nem das minhas animações infantis que eu chorava até o outro dia. Paulinho foi a melhor decisão que eu tomei na minha vida. As coisas com ele eram sempre mais fáceis do que parecia e depois do dia de hoje, eu só queria o seu cafuné e ele cantando a música de sempre, numa versão só dele, lentinha e gostosa a acapella, que ele cantava balançando o pé. Eu tinha aprendido todas as manias dele com três anos de casada.

Guilherme estava lá, conversando com nosso estagiário de edição de imagem. Guilherme nunca casou, nem sei se namorou. Ele parecia ser bastante sozinho e quando não tinha serviço para o feriado se enfiava no meio do mato em suas trilhas. Ele era dono da maior paz de espírito que eu conhecia, tão tranquilo e tão… sério. O tempo tinha sido cura para todos nós de diferentes formas. Eu via algo diferente em Guilherme, em Paulinho, em Bia, em Mari, em Enzo. Não, não, não, não, não! Não vou pensar no quanto ela mudou com todo esse tempo. Você chorou as lembranças junto com as lágrimas, Gizelly, você não vai reabrir essa ferida.

— Eu quero fazer um drink! — Guilherme sorriu, com uma felicidade que só ele sabia ter. — A Mercury & Spielberg! Essa empresa maravilhosa que me faz amar o meu trabalho! Paulinho, Gi, obrigado por terem essa ideia incrível e de terem me chamado para o projeto! Sem vocês, eu provavelmente estaria ainda gravando comercial político! — Ele riu, erguendo seu corpo. Ergui minha garrafinha de água para o acompanhar. Se algum dia ele quiser brindar pelo chão limpo, eu iria o acompanhar. Guilherme era uma das coisas mais preciosas da minha vida. Se eu pudesse me casar com três pessoas, seria com Paulinho, ele e Enzo. Os meninos da minha vida. Ah, e é claro, na lista de “meninos da minha vida” eu não podia esquecer de Théo, mas ele é história para outra hora.

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