— Como assim era a Marcela? — Perguntou Bia, me olhando do outro lado da mesa cheia de cadernos e papéis de desenho de vestidos.
— Era a Marcela, vestindo uma camiseta branca de manga comprida, jeans e coturno como se de repente nunca deixasse de ter 17 anos. — Respondi, procurando o rascunho que tinha que mostrar para ela. Mari e Luis, nossos dois modelos da linha que estávamos planejando, provavam roupas de brechó para fazer teste de tecido e costura.
— Então ela voltou para a sua vida? — Perguntou Mari, virando e olhando as costas no espelho. — Gostei desse babado, Bia.
— Eu achei que fosse gostar mesmo. — Bia sorriu, olhando os desenhos. — Estou planejando um vestido com esse babado da faixa dos seios que pega as costas. — Ela olhou as folhas, procurando meu rascunho dessa ideia.
— Não é como se ela tivesse voltado para minha vida, ela voltou para o Brasil.
— Espera, estão falando de quem?
— Do amor da vida da Gizelly. — Andrade falou, rindo e mostrando o rascunho do vestido para Mari.
— A badgirl da Harley Davidson que ama Aerosmith? — Ele falou, analisando o short esportivo que usava. — Adorei isso aqui.
— Ela mesmo. — Mari riu.
— Ela não é o amor da minha vida. — Bufei, colocando o desenho que precisava na mesa. — Achei, Bia.
— Vamos ver isso… — Ela apanhou na folha. Sorriu, como quem já esperava isso. — Quer investir num estilo old school? Ai, ai, Gi….. — Ela mexeu a mão, como se procurasse a palavra no ar. — Isso não me surpreende nada.
— Eu sempre gostei de coisas antigas, qual é.
— É, começou isso com os seis anos. Coincidência, né? — Bia riu, novamente, como se a situação toda a divertisse. — Falando do trabalho agora, eu gostei desse desenho aqui. A blusa tem um corte bem específico e bem unisex, a manga mais curta que as blusas normais e já costurada com a dobra não faz ela cair no padrão do “unisex masculino” e ela é soltinha, o que literalmente não define gênero nenhum. Esse jeans rasgado com degradê e barra colado acima do calcanhar vai ficar incrível com all star e coturninhos. É quase peça coringa. — Bia realmente tinha gostado, depois de trabalhar com ela por tanto tempo que a uma ideia conquistá-la, ela sempre virá a cadeira e se levanta para o lado dos armários e manequins, e quando a ideia não agrada, vai em direção a porta e as estantes. Agora, ela se apoiava na parede do outro lado da sala com o desenho na mão e olhando o manequim. — Eu tinha pensado numa jaqueta esse fim de semana, sabe, desenhar não é meu forte, mas fiz o rascunho para trazer… Eu só não lembro onde deixei, será que tá no carro? — A última parte foi mais para ela do que para mim.
— Você esqueceu lá em casa. — Mari falou, prendendo melhor o rabo de cavalo e provando uma blusa grande masculina e dobrando as mangas. — Era assim que pensou, Gi?
— Sim, porém um pouquinho mais justa aqui… — me levantei e ajustei as mangas e os ombros. — Entendeu?
— Entendi… — Nesse instante, minha cabeça se tocou numa coisa.
— Espera, porque o desenho da Bia está na sua casa? — Perguntei, sorrindo de canto e vendo Mari revirar os olhos e ir até o guarda roupa. Bia fingiu não ouvir.
— Essas duas são assim mesmo, falou delas se fazem de surda e muda. — Luiz reclamou, ajeitando os cachinhos do cabelo no espelho. — Eu vou ficar uma graça nos looks anos 90s.
— Vai sim, Luizinho. — Sorri, vendo ele provando uma jaqueta jeans qualquer que pretendiamos reutilizar. Bia me olhou atentamente, como se eu tivesse derramado algo na minha camisa.
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Kairós
Fanfic"Kairós (s.m); em grego antigo: o momento oportuno, perfeito ou crucial. O acerto fugaz entre tempo e espaço que cria uma atmosfera propícia para ação." Algumas coisas nós sabemos que são feitas para ser. Sentimos no fundo do nosso coração que aquil...