Capítulo 5

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Quando a sombra da lua cobriu Wenkael como um manto, Skye e Gwen estavam sentados lado a lado, em um dos galhos, no topo de um salgueiro. O céu acima era vasto, de um tom sombrio, com um azul escuro, repleto de constelações sistêmicas. Ambos observavam a aldeia, quase em vigia pelo povo lá embaixo, que ao anoitecer se amotoavam nos chalés, com cantoria e brincadeiras. Comemorando o fim da criatura do bosque. A notícia correu tão rápido que nem mesmo surpreendeu os dois o fato de as pessoas estarem parabenizando os protetores do bosque. Não queriam a glória pela morte da besta, no final das contas, aquela alegria transbordando no ar e ver seu povo a salvo, festejando, era o suficiente. O som de flautas ecoava pelos bosques, com tambores de madeira. A metros no solo, alguns Loriorans festejavam, com fogueiras dedicadas aos deuses de Eldar. Pequenos Loriorans corriam pelas escadas de cordas, outros eram levados por cipós conjurados. Gwen sempre se atentava as conjurações de magia natural, com fascínio. A forma como seu povo dominava de forma hábil o elemento da natureza, de conjurarem o ar, água e a terra sobre eles, sempre a encantou, mesmo quando ela descobriu não ser capaz de fazer o mesmo. Eram poucos e raros, os Loriorans que não podiam invocar o poder da natureza, era como uma semente dentro deles, que crescia conforme eles cresciam, em determinada fase, eles podiam conjurar uma ventania apenas com um estalar de dedos, ou movimentar a correnteza de um rio, apenas com um gesto de mãos, e haviam aqueles que controlavam as raízes e galhos de árvores.

Skye recordava com exatidão, quando Gwen percebeu não ser capaz de tais feitos, a forma como aquilo causou uma rachadura nela, que sempre fora tão encantada por magia Lorioran, não ser portadora da semente foi um golpe fatal para ela.

Talvez por isso, Skye nunca usava suas habilidades, principalmente por causa dela, mesmo depois de tantos anos, sabia que ainda a feria quando via outros conjurando magia, mesmo que por um segundo, ele conseguia captar a expressão de lástima em sua face e aquilo acabava com ele. Ele sabia que era capaz de conjurar magia natural, podia sentir a essência correndo por suas veias, sempre fora bom em conter seus instintos de magia, mesmo as vezes sendo insuportável, com o passar dos anos, ele se adaptou a sensação de prender tal poder dentro de si. Se sua Gwen não podia ter-lo, então ele não o desejava.

Quando eram pequenos, os outros aldeões a provocavam, sempre implicando com o fato de ela não possuir magia. Chamavam-na de apagada, a sem chamas. A que não possuía a benção da natureza. Talvez por isso, ela tenha se empenhado tanto com os treinos e ensinamentos de Gyllin e se arriscado tanto, provando seu real valor para a aldeia.

Gillyn sempre a lembrava que mesmo que não possuísse a semente de poder dentro de si, ela tinha algo que nenhum outro de seu povo possuía, a chama de Eldar, queimando em coragem e determinação dentro dela. "Porque a luz, sempre vencera a escuridão no fim", era o que a Lorioran mais velha sempre ditava, motivando Gwen ao longo das décadas.

Então Gwen aprendeu a crescer sem aquela magia.

Skye nunca perguntou ou falou sobre isso com ela, como ela nunca o questionara sobre ele nunca usar seus poderes.

Ele suspeitava que o motivo de Gillyn ter os treinado e ensinado tão rigidamente, sempre alegando os preprarar para o mundo, envolvia esse fato.

Gillyn os tornara hábeis na arte de luta e estratégias de ataque quando eram meros Loriorans de um metro e meio. Ele ainda lembrava a primeira lição, com os dois sobre rochas no rio, equilibrando varas para manter o domínio sobre o corpo em prontidão.

Naquele momento, sentada ao seu lado, ela ria de um grupo de crianças se entrelaçando em cipós, outros sendo lançados de galhos para galhos.

Ela segurava aquele cordão que ganhara quando era apenas uma bebê Lorioran, de Gillyn, desde então, nunca o retirou. Gwen dizia ser a única lembrança que possuía de sua mãe, uma Lorioran desconhecida que Gillyn se recusava a falar sobre, mesmo com as milhares de tentativas dos dois.

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