Capítulo 9

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A brisa impertigou sua visão no primeiro piscar de olhos, um céu azul divino se expandiu diante de sua visão quando ela abriu suas pálpebras. Ela piscou várias vezes, adaptando a visão embaçada a luz da brisa. Sua garganta apertou um pouco quando ela engoliu em seco, contudo, não havia dor, apenas uma irritação pela sede. Como se areia arranhasse sua garganta. Uma careta tomou seu semblante pelo incômodo.

Gwen se mexeu, se dando conta que estava deitada sobre o enorme tigre, quase enroscada nele, com ambos no solo, repleto de grama e flores silvestres. Seu coração nos primeiros segundos salteou em pavor pela fera, para então seu subconsciente a tranquilizar com sua mente trabalhando.

Piscando, ela bocejou, verificando o ambiente envolta. Estava em uma redoma, como em um bosque, a área ladeada por centenas de arcos flanqueados de árvores. Deveriam estar na fronteira ou divisa de alguma região florestal.

Ela se sentou, com o tigre ronronando, se mexendo um pouco, ainda cochilando.

Ergueu os braços para o céu e os esticou, contraindo os músculos rígidos. Se deu conta de que não havia nem mesmo um frasco de dor lampejando por seu corpo, ou se quer rasgos de feridas. Havia apenas um imenso cansaço a tomando.

Levou uma mão para sua bochecha, que outrora possuíra uma ferida aberta e inchada. Todavia, agora estava macia e sem marca alguma de ferimento.

Ela arquejou pasma e em esplendor.

— Deve está se sentindo exausta, não é?

Gwen se sobressaltou, levando o olhar a frente, vendo um garoto de cabelos castanhos e olhos de um tom ametista escuro sentado a alguns metros dela, em um tronco de carvalho caído.

Antes que a confusão e terror a dominassem, as engrenagens de sua mente trabalharam, lançando luzes de lembranças da noite passada para ela.

Seu semblante fechado e pasmo se alivou, quando ela se recordou por completo dos últimos acontecimentos. De cada infeliz recordação amargando sua consciência ainda inerte despertando.

Levou o olhar para o garoto a sua frente, podendo finalmente o observar com exatidão e nitidez agora, através da luz do dia.

Suas lembranças sobre ele, na noite passada não eram muito claras devido aos olhos marejados e o luar da noite.

Seus traços eram bem marcantes, com um cabelo tão castanho quanto cacau, de um tom claro, com mechas onduladas caindo por sua testa. Os olhos eram etereos, com aquele tom que lembrava uma flor centáurea, nem mesmo em seu povo, que possuía diversos tons de olhos, ela havia visto aquele tom perculiar que era um traço exclusivo dos Fëanor.

O nariz dele era fino, as maçãs do rosto eram acentuadas, afiadas até. Os lábios, ela nem mesmo percebera o quanto parecera deslumbrada por eles, de tão traçados e cheios, de um tom avermelhado. Possuía um queixo marcante, com o máxilar rijo.

E então havia aquelas marcas, os símbolos que devido ao luar do anoitecer, ela concluira que fossem de um tom branco, agora, podia constatar que eram marcas escuras, como vinhas se entrelaçando, que tomavam seus braços e peitoral. Como ele usava um casaco verde aberto, com bordas em pelo, expondo o peito, era bastante visível os desenhos em seu corpo, de um tom cinza escuro quase transparente.

Eram como linhas traçadas por símbolos estranhos, e antigos.

Gwen corou quando fitou o abdômen definido do rapaz. Fora constrangedor quando pendurou demais fitando as marcas delineadas por seus gominhos rígidos. Ele era forte, tinha um porte magro, com o físico de um caçador nato. Embora sua fisionomia se assemelhasse a dela, jovial, talvez com os mesmos dessesete anos que ela achava ter, se fosse mortal.

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