Capítulo 10

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Os dois Lorioran escutaram atentos e sem uma expressão fixa decifrável, conforme Liryan os informava sobre o temível Vale, o local proibido de Eldar, que fazia fronteira com todos os povos e era fonte de inspirações para cantigas de horror nas tarvenas e eles estávam prestes a entrar nele.

Gwen mal tinha terminado de ouvir, se quer digerir tudo aquilo que o Fëanor havia contado, quando ela concluiu que o lugar era um perigo eminente e aqueles três idiotas queriam atravessar ele.

Uma troca de olhar para Skye para reconhecer seus próprios pensamentos naquelas íris celestes, com ele sacudindo a cabeça.

Levou uma mão para os cabelos dourados, os cachos se enroscando entre os dedos, pela manhã, Skye parecia um ser de luz, celestial até, com a face delicada e os traços mais suaves que um ser abençoado pelos deuses poderia desejar.

— Você está dizendo que estamos prestes a entrar em um lugar repleto de todo tipo de criatura e monstros? — Indagou com brusquidez para Liryan, que parecia sem jeito, assentindo.

— Sim. Mas vai ficar tudo bem, vamos proteger vocês e ainda estamos sob o alvorecer da manhã. As lendas e histórias sobre o Vale, contam que as criaturas que habitam o lugar são predadores da noite. Não podem sair a luz do dia.

Uma risada seca e amarga extravasou do Lorioran. Mal tinham escapado de uma horda de criaturas e agora estariam caminhando para o lar delas.

Gwen deu crédito a frustração do amigo.

— Ah, é mesmo? As histórias dizem isso? — Skye ironizou. — As mesmas histórias que diziam que Wenkael jamais permitiria a entrada de  monstros em nossa aldeia? Que estaríamos seguros por toda eternidade? Se uma coisa eu aprendi com isso tudo, foi que as histórias não são totalmente veredicas e não podemos confiar nelas.

Liryan fitou os dois por longos minutos, com Westyn e Thorion logo atrás, silenciosos, recolhendo seus pertences, se preparando para a partida.

Ele por fim suspirou.

— Eu entendo seu ponto, de verdade. Mas não temos outra escolha, é isso ou teremos que voltar pelo sul e passarmos de volta por Wenkael e esbarrar naquelas criaturas.

Um calafrio reverberou por Gwen, com ela estremecendo com a mera ideia, afastando a imagem das bestas do fosso de sua mente.

— Deve haver uma outra forma de...

— Não há. — Liryan o interrompeu abrupto. — Acreditem, eu gostaria que tivesse.

Por sua expressão, Gwen acreditou. Mas isso não mudava o rumo das coisas. Ainda era um risco.

— É isso, ou voltamos pelo sul. — Decretou Liryan, a voz um fio de exaustão. Os olhos violetas alternando entre os dois.

Não sabiam o que poderíam encontrar naquele lugar, todavia, tinham enfrentado e fracassado, no que enfrentariam se voltassem pelo caminho de Wenkael.

— Ele tem razão Sky, não podemos voltar. — Gwen segurou seu braço, o fitando, pedindo que ele lesse as palavras expressas em seus olhos. — Se essa é nossa única escolha para chegar na capital de Eldar, precisamos ir.

Gwen podia reconhecer o medo em seus olhos, o temor pelo desconhecido, porque tudo aquilo era inédito e assustador para os dois. Mas eles estavam juntos e ela não podia se deixar abater por aquilo.

Em toda sua existência eles nunca haviam ouvido ou lido sobre esse lugar, nunca tiveram a oportunidade de sair de Wenkael, as leis não permitiam, devido aos horrores que impestavam Eldar, que os anciãos alimentaram sobre seu povo.

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