9 - Finais Literários

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Tenho dificuldade em entender o principio, em criar uma boa abertura, em captar a sua atenção. Refiro-me a isto aqui: a escrita. Desenvolver algo para mim sempre foi divertido. Ter a perspectiva que posso criar um final com minhas mãos, desenrolar um bom assunto e passar horas articulando é fácil. Mas o inicio me parece uma provocação. Como se o papel olhasse pra mim e dissesse "e aí? O que há de tão bom assim dessa vez?" É um desafio a cada texto.

Hoje não foi diferente, passei o dia desejando o momento de poder escrever, mas quando realmente o pude fazer, passei horas pensando em como começar. Em como avaliar o que a escrita representa para mim. Mas na verdade eu não queria começar, eu queria apenas o final. Engraçado pensar que, a maioria das pessoas, ao comprar um livro, assistir a um filme, ou algum seriado, começam pelo início. Sem ao menos sequer expiar as ultimas páginas ou últimos capítulos. Engraçado? Não seria apenas normal? Bem, talvez seja para você. Mas eu não suporto essa ideia. Agora provavelmente é o momento em que você está caçoando desse meu estranho modo de vazamento de informação desnecessária. "Ansiedade", você diria. Mas é o momento em que eu também devo dizer algo em minha defesa. Tem certas coisas na nossa vida que nós não temos o mínimo poder ou autonomia de decidir. Por exemplo, muitas vezes nem nossos próprios sentimentos temos controle. Não sabemos como será daqui um ano, ou dois. Muito menos dez. Não sabemos como as coisas irão acontecer ou como elas irão terminar. Raramente as coisas saem exatamente do jeito que planejamos. E isso pode ser muito frustrante.

E é por essa razão que eu escolho finais ao invés de inicios, sempre que possível. Ruim é não poder saber o final. Tanto a escrita quanto a arte são propriedades alternativas. Você pode facilmente quebrar o seu desapontamento. Não é tão ruim assim, vai por mim. E claro que, como nosso tempo é precioso, se o final não for lá excepcional não há porque se desenrolar. E ao escolher entre finais reais e imaginários, escolho sonhar. 

CRÔNICAS - Ecos da imaginaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora