༆ VII

2.9K 374 300
                                    

Eu e Renard estávamos mortos.

Passamos o resto do dia trancados no quarto com ele lendo cada instrução daquele livro e não estamos nem na metade. Aprendi alguns truques simples como o poder de manipulação do Renard dando a impressão para quem entrasse no quarto enxergasse como se eu estivesse dormindo na cama. Deu certo quando Nyara veio me buscar para tomar chá com a princesa.

Agora estava terminando de me arrumar para o jantar. Estava cansada, mas não poderia sequer pensar em não descer, Eris viria me arrastar pelos cabelos se o fizesse. Dessa vez escolhi um vestido cinza mais simples no mesmo tecido leve que uso todos os dias, o decote dessa vez não é tão generoso porém as costas ficam completamente nuas dando visão de minhas cicatrizes, como Beron irá explicar? Não sei, e pouco me importa.

Estou cansada e mesmo assim irei descer e lidar com Velliard e sua trupe. Não tenho um bom sentimento em relação ao príncipe, seus olhos as vezes ficam vazios e distantes e o sorriso medonho. Quando o vi achei extremamente belo, mas conforme o tempo foi passando percebi alguns traços estranhos em seu comportamento. O jantar dessa noite seria mais um teste, dessa vez para ele.

Renard me acompanhou em silêncio pelos corredores até a sala onde todos estavam.

— boa noite — saúdo cordialmente os presentes e me encaminho até a grande janela da sala. Estavam divididos pelos sofás e poltronas entretidos em suas conversas, menos um. Velliard parou sua conversa com Orian e me observou. Vi o momento em que seus olhos se prenderam em minhas costas, ou melhor minhas cicatrizes.

E o jeito como seu rosto se contorceu com repulsa me fez enrijecer a postura e fechar o rosto. Parecendo perceber pediu licença e levantou vindo até mim.

filho de uma... — Renard manda e ouço seu rosnado baixinho.

— boa noite Alyn, está melhor? — disse assim que parou ao meu lado. Lhe olhei sem esboçar reação. Os olhos incrivelmente azuis diferentes do meu não tinham a pequena auréola dourada ao redor da pupila. Vestia um traje parecido com o que chegou, mas dessa vez em amarelo claro quase branco.

— sim, obrigada pela preocupação majestade — a risada de Renard ecoou pelo laço. Ensinei direitinho. Quase revirei os olhos para a raposa tagarela.

— achei que tivéssemos um acordo, senhorita — respondeu no mesmo tom. Fogo queimou sob meus ossos e me controlei, o jeito que ele havia olhado minhas cicatrizes havia me deixado irritada.

— um erro — respondi sem mais aberturas. — príncipe, não acho certo nos tratarmos com tanta informalidade quando ambos sabemos que isso é um acordo comercial e que você me comprou.

— como... — sua voz vacilou assim como seu rosto começou a perder a cor. — como você descobriu?

Sorri falsa, que comecem os jogos.

— Demorei até demais para descobrir. sabe quantos príncipes puseram os pés sob esse teto para me conhecer? — indago com curiosidade fingida — imagino que não, então lhe digo, nenhum. Eu não existo para ninguém fora desses muros, para minha segurança. Então, de repente, um príncipe de terras distantes se interessa por mim? Sem nem ao menos me conhecer, nunca precisei de um macho, muito menos um macho que quer apenas me exibir como troféu, vi como olhou para minhas cicatrizes e todas as chances de termos ao menos uma amizade se esvaíram ali, quando você se enojou de mim e da minha força.

— eu... Me perdoe, não foi minha intenção ofende-la muito menos lhe rebaixar, apenas...

— não preciso de suas explicações príncipe, guarde elas para alguém que se importe — vejo por cima de seu ombro o momento em que Beron e minha mãe entram na sala. Sorrio inocente — o noivado vai seguir, mas nunca vou abaixar a cabeça para você.

A Court Of Fire and Shadows [comeback]Onde histórias criam vida. Descubra agora