A Tempestade de Fogo

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Encarei os olhares preocupados dos anões. Eles pensavam o mesmo que eu. Tínhamos que sair dali agora, ou todos iríamos morrer.

- Não temos tempo a perder, temos que sair daqui - eu disse.

Fili foi ajudar seu irmão a se levantar, que murmurou alguma coisa sobre conseguir andar sozinho. Eu comecei a reunir todos.

- Não vamos sair - disse Bain - Não sem o nosso pai.

- Se ficarem aqui, suas irmãs vão morrer - eu disse - É isso que seu pai ia querer? - Eu sabia que o garoto estava em conflito. Sabia que tinha que proteger suas irmãs, mas não queria abandonar seu pai. - Eu prometo que vou fazer o que eu puder para ajudar seu pai. Mas agora tenho que tirar você e suas irmãs daqui. Ele quer que fiquem seguros, e eu prometi à ele que os manteria a salvo.

Ele assentiu, ainda um pouco relutante.

Fomos todos para fora, e entramos em um barco. Podíamos ouvir o barulho de asas sobrevoando toda a cidade. O lugar era completa confusão. Todos tentavam entrar em barcos, e sair da cidade.

O barco começou a percorrer o lago, na direção da saída da cidade. Havia fogo por todos os lados, a fumaça dificultando a respiração, e embaçando a visão do caminho a nossa frente.

De repente, eu vi algo. Um homem pulando sobre os telhados das casas, em direção a uma torre. Bard. Eu sabia que era ele. O barqueiro chegou até a torre, e começou a disparar flechas na direção do dragão. Mas eram todas flechas normais. Elas não perfuravam o couro dele. Bard não tinha chance.

Bain também notou seu pai. Ele olhou para mim. Logo percebi o seu olhar, e me dei conta do que ele iria fazer. Bain era o único que sabia onde a flecha negra estava. Imediatamente ele pulou para fora do barco.

Todos começaram a gritar seu nome, e chamá-lo de volta. Eu queria ir atrás dele, e garantir que estava seguro. Mas eu tinha que cuidar de Tilda e Sigrid. Essa era uma batalha que Bain teria que lutar sozinho.

O garoto pulou por alguns barcos, até encontrar o que continha a flecha negra. Ele a pegou, e saiu em disparada na direção onde seu pai estava.

...

Bard estava quase esgotando seu estoque de flechas. Mas ele sabia que era inútil. Essas flechas não podiam perfurar o couro do dragão. Ele só tinha a esperança de que seus filhos estivessem bem e seguros, e assim pelo menos seu sacrifício teria valido a pena.

- Pai! - Ele ouviu a voz o chamando.

O arqueiro viu uma figura aparecer pelo alçapão no chão da torre. Sentiu um aperto no coração ao se dar conta de quem era.

- Bain? O que está fazendo, devia ter fugido!

- Eu vim ajudar você...

- Não! Nada pode detê-lo agora - Bard olhou para o dragão, que sobrevoava a cidade do lago, destruindo tudo.

- Talvez isso possa - Bain ergueu a flecha negra.

Bard, apesar de tudo, sorriu para o filho.

- Vá. Tem que sair daqui agora - disse.

Mas ele não conseguiu falar mais nada. O olhos de Bain se arregalaram ao fitar um ponto atrás de Bard.

Nenhum dos dois teve tempo de dizer algo antes de Smaug atropelar a torre em que estavam com uma investida, destruindo toda a parte de cima.

Bard se abaixou bem a tempo. Assim que a fera passou, ele olhou em volta. Bain estava pendurado na borda da torre, ainda com a flecha na mão.

Bard puxou o filho de volta com esforço. O garoto estava praticamente paralisado. Ele pegou a flecha de suas mãos, e foi até a borda da torre. Smaug lentamente se virou para ele.

- Quem é você, que se coloca contra mim? - Ele sibilou.

Bard se virou para onde estaria a balista, mas ela estava totalmente destruída. O dragão sorriu.

- Oh, mas isso é uma pena. O que vai fazer agora, arqueiro? - Perguntou a fera. - Você foi abandonado. Ninguém vai ajudá-lo.

Ele continuou se aproximando lentamente. Seu olhar se tornou malicioso ao olhar para o garoto atrás de Bard.

- Ah, esse é o seu filho. Você não pode salvá-lo do fogo. Ele vai queimar...

Enquanto o dragão se aproximava cada vez mais, Bard posicionou seu arco entre as colunas da torre, de forma a improvisar uma balista. Bain se colocou na frente do arco, e Bard apoiou a flecha no seu ombro. Ele só tinha uma chance de acertar.

Bain tremia de medo, e tentava respirar fundo.

- Parado - Bard sussurrou.

- Diga, infeliz. Como pretende desafiar a mim? - Perguntou Smaug. Ele ergueu um pouco as asas, deixando a escama que faltava a mostra. Bard posicionou a flecha o melhor possível, para que mirasse exatamente naquele ponto. - O que lhe restou, foi sua morte! - Ele trovejou, e começou a se aproximar mais rápido.

Bain olhou sobre o ombro, ainda tremendo.

- Ei, olha pra mim - disse Bard, com gentileza. Bain respirou fundo, e olhou para seu pai. - Um pouco a sua esquerda - O arqueiro disse, e  Bain se moveu um pouco na direção indicada.

Bard respirou fundo, e soltou a flecha. Durou apenas um segundo. Ela voou por um grande espaço, e acertou em cheio o ponto onde a armadura de Smaug não o protegia.

Bard abraçou o filho com força, enquanto Smaug se chocava contra a torre, derrubando-a totalmente.

O dragão, meio descontrolado percorreu um curto espaço, antes de seus olhos se apagarem, e ele cair com um último rugido.

...

- O que foi isso? - Perguntou Ori.

O grande baque havia reverberado por um longo espaço, até onde os anões estavam.

- Ele caiu - disse Bilbo, surpreso. Então se virou para os companheiros, com os olhos arregalados - Smaug está morto.

Imediatamente, as conversas dos anões encheram o lugar, discutindo como isso poderia ser possível, e o que teria acontecido com todos.

- Ele está certo, vejam. Os corvos de Erebor estão voltando para a montanha! - Disse Glóin, apontando para uma bela ave negra sobrevoando o lugar.

- A notícia se espalhará. Em breve toda a terra média saberá, que o dragão morreu - disse Ballin.

Thorin não disse nada. Ele apenas se virou, e começou a andar na direção da montanha, decidido.


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