Já faz um tempo que eu não vejo Davi, mesmo que eu dê voltas e voltas na igreja quando ele está no horário de conversar com o meu tio sobre ser gay, ou melhor, doente, pecador, como preferirem. Não é como se ele fosse isso de qualquer maneira.
Parei a bicicleta, porém continuei sentado nela. Olhei para a igreja, gigante, até chega a se parecer com um castelo. Uma vez Jesus disse que os templos são lindos mas são totalmente podres por dentro. Bem, acho que essa é a única coisa que eu concordo, mas ninguém fala sobre isso nas igrejas.
O carro do meu tio não estava mais lá estacionado, o que significa que ele já foi embora, e se ele já foi, Davi não deve estar mais lá dentro.
Voltei a pedalar. Essa é a última vez que venho, e eu prometo que dessa vez vai ser realmente a última vez. Não sei, eu só queria que Davi não fizesse isso com ele mesmo.— John!
Parei a bicicleta e Davi veio correndo na minha direção com aquela bíblia na mão e gritando repetidas vezes o meu nome.
— Olá, Davi, quanto tempo — comecei a pedalar, porém devagar para que ele pudesse me acompanhar andando. — Como vai?
— John, por favor, eu quero conversar com você.
— Conversar?
— Bem, primeiro, me desculpe por aquele dia na igreja — ele segurou minha mão. — Dá pra você parar de andar com essa bicicleta e me escutar?
Respirei fundo e parei.
— O que você quer?
— Eu quero escutar — respondeu. — Olha, a vida toda tudo que eu escutei de todo mundo era a mesma coisa, porque todas elas são como eu, nasceram indo para a igreja, escutando coisas e lendo coisas em um tal de livro sagrado. Baseando as suas opiniões naquilo.
— Mas é assim que funciona a religião.
— Deixa eu terminar de falar! — dei de ombros e ele continuou: — O que eu quero dizer é que quero uma opinião do coração, sincera, de verdade.
— Eu tenho uma opinião do coração para você — Davi me olhou com atenção, como se fosse por esse momento que ele estava esperando. — Não importa se uma garota ama uma garota ou um garoto ama um garoto. Não tem nada de errado nisso, é apenas o amor e o amor é lindo de todas as formas que ele se forma.
Ele ficou em silêncio, apenas me olhando, como se ainda estivesse processando o que eu acabei de falar.
— Então, eu dei minha opinião de coração, agora vou tomar um sorvete e ir para casa.
— Espera, John! Tem mais uma coisa.
— O que?
— Eu preciso da sua ajuda, não quero mais me encontrar com o padre. Mas se eu disser isso prós meus pais eles vão surtar.
— Você não quer mais ver meu tio? — sorri. — Eu tenho uma ideia, mas antes, vai tomar um sorvete comigo, não vai?
— Eu posso?
— Claro que pode, sobe logo.
Ele subiu na bicicleta e então eu pedalei até a sorveteria.
*
Davi deu uma mordida no seu sorvete de morango, e dessa vez ele não parecia se importa se eu tinha roubado os picolés ou não.
— Então, qual é seu plano?
— Olha, você já tem quase 16 anos, então diz que arrumou um emprego como jovem aprendiz.
— Isso não vai dar certo, eu sou péssimo com mentiras.
— Relaxa — também dei uma mordida no meu sorvete. — Você só tem que ir pro tal trabalho logo depois da escola e voltar bem tarde.
— E pra onde eu vou se eu não tenho nenhum emprego de verdade?
— Não se preocupe com isso, apenas me espere sempre do lado de fora da igreja, você vai ficar comigo até dá o seu horário de ir pra casa.
— Ok, acho que eu posso fazer isso.
— Mais uma coisa, você trabalha de segunda à sábado, folga só no domingo.
— John.
— O que?
— Obrigado.
— Não precisa agradecer.
Quando terminamos de comer nossos sorvetes, levei Davi para casa e disse que o esperaria amanhã na igreja depois do almoço. Espero que ele realmente venha.
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Leve-me à Igreja
RomanceDavi Cooper veio de uma família extremamente religiosa, literalmente nasceu em berço católico e sua mãe carinhosamente o chamou de Davi, dizendo que a vida toda ele lutaria com gigantes e venceria. O que ela não sabia é que seu filho cresceu, e nunc...