Capítulo 4

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Entrei na igreja junto com meu tio, automaticamente as pessoas começaram a vim em cima dele, o comprimentando e desejando a paz do senhor. Eu apenas ignorei todas elas, eu odeio a igreja e cultos, principalmente os cultos especiais que duram mais de uma hora, mas estou aqui pelo Davi.
Então eu vi, ele estava em um banco com um homem, uma mulher e uma garota que parecia ter uns 8 anos. Rapidamente deduzi que aquela era sua mãe, seu pai e sua irmã mais nova.
Quando ele me viu, falou algo para seus pais, se levantou e veio na minha direção.

— John!

— Oi, oi.

— John, ontem no parque, a gente saiu tão apressado que eu esqueci a minha bíblia lá — ele parecia preocupado. — Meus pais perceberam agora que estou sem minha bíblia e eu disse pra eles que tinha esquecido aqui, porque eles não podem saber que eu estive andando com você. Sabe como é, eles querem me ver perto de garotas.

Vi meu tio pegando o microfone, e as pessoas paravam de falar de pouco em pouco. O culto já ia começar.

— Volte para sua família, eu já sei o que vou fazer, confia em mim?

— Confio.

— Então vai lá.

Ele voltou para o banco e eu rapidamente sai da igreja sem que meu tio percebesse. Ainda bem que eu preferi vim de bicicleta ao invés de pegar o carro com o meu tio. Comecei a pedalar o mais rápido possível para o parque, quando eu cheguei lá, realmente encontrei a bíblia de Davi, estava um pouco suja de terra, mas estava lá. A peguei e rapidamente voltei para a bicicleta. Quando cheguei na igreja, todos estavam prestando atenção no meu tio, e ele falava alto, muito alto.

— Agora, queridos irmãos, vamos fazer uma oração — ele fechou os olhos, era agora que eu tinha que entrar. — Peço que fechem seus olhos.

Todos fecharam os olhos, inclusive Davi. Meu tio começou a orar. Entrei na igreja, todos estavam com os olhos fechados, o único olhinho aberto além do meu era o da irmã de Davi, ela estava pintando um desenho. Esse é o lado bom de ser criança, gostando ou não da igreja, você não precisa prestar atenção e ninguém vai achar ruim, porque você é só uma criança.
Balancei o ombro de Davi e ele abriu os olhos. Ele me olhou e ficou feliz ao ver a bíblia na minha mão. Ele a pegou.

— Obrigado, John — ele sussurrou. — Obrigado.

Eu sorri e então sai, indo me sentar no último banco da igreja que estava vazio.
Passei o resto do culto totalmente entediado, mas às vezes eu jogava meu olhar para Davi. Era até que bonito a forma que ele prestava atenção, lia a bíblia e fechava os olhos para orar. Mas algo no fundo me diz que ele não queria estar aqui, e eu tive certeza disso quando ele me pegou o olhando e sorriu para mim.
A igreja é um saco.

*

Todos disseram amém e abriram seus olhos. O culto finalmente tinha acabado. Meu tio largou o microfone e foi andando até a porta para se despedir de quem ia passando, mas antes, ele chegou em mim e disse que queria a minha ajuda para fechar a igreja. Eu concordei em ficar. Mas antes, fui me despedir de Davi.

— Davi.

— John — ele apertou a bíblia. — Obrigado mesmo por ter ido até o parque.

— Não precisa agradecer.

Escutei uma voz feminina chamar o seu nome. Era sua mãe, que estava carregando sua irmã no colo e ela dormia.

— Eu tenho que ir, até amanhã?

É verdade, amanhã é domingo, tem culto de novo, mas esse pelo menos não vai durar mais de uma hora.

— É, até amanhã.

Ele sorriu e então saiu.

*

Meu tio pegou a bíblia e antes de sair do carro se virou para mim.

— Fico feliz que esteja vindo mais à igreja, meu filho — eu odeio quando ele me chama de "meu filho". — Deus deve estar muito orgulhoso de você.

Não disse nada, apenas sorri de forma exagerada também. Eu odeio a igreja e meu tio, mas eu quero ver Davi, eu gosto dele, ele é uma boa pessoa e não deveria ficar se torturando. Gostar da pessoa do mesmo sexo não é pecado, mesmo que esteja escrito na bíblia, mesmo que os padres falem isso de igreja e igreja. Ele não precisa viver nessa religião de merda. Acho que algo dentro dele já deve saber que é impossível que ele goste de garotas.
Ao entrar na igreja, os olhos de Davi se pegaram aos meus. Ele deu um meio sorriso e acenou para mim, eu também sorri e acenei de volta. Sentei no banco do fundo de novo, mas dessa vez ele não estava vazio, a velhinha cega da sorveteria estava lá. Mas ela é a mesma coisa que nada, durante todo o culto ela não percebeu a minha presença.
A igreja é um saco, um saco.

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