Capitulo 10

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— O que?

— Você escutou — Davi foi ficando cada vez mais vermelho. — Eu quero beijar você, posso?

— Não, não, não! Deus não...

— Davi, não quero saber de Deus, eu quero saber de você. Vai me deixa te beijar? — ele olhou para tudo que tinha no quarto, menos para mim. — Tá, esquece o que eu falei.

— Pode, John, pode me beijar.

Eu sorri, ele ainda parecia nervoso, mas também sorriu. Me aproximei o tanto que eu pude dele e nos beijamos. Foi um beijo rápido, mas depois, Davi disse que queria me beijar de novo, então fizemos isso de novo, mas dessa vez foi mais demorado e era bom, muito bom, ainda mais para mim que queria isso a muito tempo.

*

As coisas passaram a tomar outro ritmo depois disso e eu não reclamo da nossa nova rotina que não tem nada a ver com sorvetes. Meu tio visita a senhorinha cega todos os dias e volta bem tarde, então eu levo Davi para a minha casa, ficamos sozinhos e passamos a maior parte do tempo nos beijando. Mas esses dias resolvemos fazer algo diferente, afinal, o sorvete fazia falta pra quem comia todo dia.

— Você trouxe o dinheiro? — perguntei para ele, assim que o encontrei atrás da igreja. — Eu trouxe um pouquinho só pra ter certeza.

— Trouxe sim — Davi olhou em volta antes de me dar um beijo rápido na boca. — Vamos lá.

Ele subiu na sua bicicleta e foi pedalando na minha frente. O mercado não era longe, então chegamos rápido e fomos direito para aonde ficava os potes de sorvete.

— Vamos comprar de chocolate, morango, o que?

— Pra que decidir se a gente pode comprar um de três sabores? — ele disse, já pegando um napolitano e olhando o preço. — Dá pra comprar!

Bem, não dava pra roubar um mercado, então tivemos que juntar pouquinho dinheiro pra isso. No caso Davi juntou pouquinho dinheiro porque eu por um lado apenas peguei dinheiro da carteira do meu tio quando ele não estava vendo. Não peguei muito, não vai fazer falta.
Fomos no caixa e pagamos o sorvete com dinheiro vivo para a moça.

*

Quando beijei Davi, eu senti o gosto do sorvete que tínhamos acabado de comer, o que não era nada ruim.

— Seu beijo está com gosto de sorvete — Davi disse rindo, enquanto se afastava. — Gostoso.

— O seu também tá, engraçadinho.

Antes que eu pudesse beija-ló de novo ele se levantou da cama.

— Tenho que ir agora.

— Sério?

— Infelizmente, passou rápido, né? Sempre passa — suspirou. — Queria que o tempo na escola e em casa passasse rápido assim e o tempo com você fosse bem lento.

— Eu também queria.

— Tchau, John, até amanhã.

Ele me beijou, até que foi bem demorado pra quem precisava ir embora, só que tem uma coisa: ele não queria ir embora. Também não queria que ele fosse, mas Davi foi, assim que o beijo acabou.
Alguns minutos depois de Davi ter ido embora, meu tio apareceu em casa e a primeira coisa que ele perguntou foi sobre o sorvete.

— Quando foi que eu comprei napolitano? — questionou, me olhando. — Não me lembro.

— Você está ficando velho, é normal esquecer as coisas — dei de ombros. Ele parecia irritado agora. — Você não lembra nem do meu aniversário.

De repente, meu tio não estava mais irritado.

— Hoje é seu aniversário?

— Claro que não, foi em março.

Ele se assustou, março já fazia muito tempo, o natal está até pra chegar.

— Me desculpe — disse, fechando a porta do freezer, esquecendo totalmente do pote de sorvete. — Eu vou te dar um belo presente de natal, pode ser? O que você quer?

— Não quero nada.

— Nada?

— Eu vou tomar banho.

Me levantei da mesa, peguei a toalha no varal e fui para o chuveiro. Realmente não queria nada de natal além de Davi, e pensando agora, não vamos conseguir passar o natal juntos, apenas vamos nos ver na ceia que vai ter na igreja, tem todos os anos. Bem, talvez se eu pedir um pouco de dinheiro ao meu tio eu consiga comprar um presente de natal para Davi. 

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