Capítulo 7

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Já faz um tempo que eu e Davi estamos nisso, e tem dado certo, meu tio já nem tenta mais vê-lo. Sempre o busco de bicicleta, nos encontramos atrás da igreja, na maioria das vezes saímos para tomar um sorvete e conversamos. E eu gosto, nunca tive um amigo antes, não pelo menos um amigo que seja pra valer, que confie em mim e eu também confie nele. É confortável. Davi até chegou a aprender a andar de bicicleta, então às vezes quem pedala é ele.

— Você vai andar de bicicleta? — meu tio perguntou. — Com essa chuva?

— Não vou andar de bicicleta, preciso fazer um trabalho de escola na casa de um amigo — peguei o guarda-chuva. — Vai me deixar ir?

— Pode ir — respondeu. — Mas você não quer que eu te leve?

— Não precisa, não quero incomodar o senhor, fica em paz.

— Não será incômodo.

— Tchau, tio, fica com Deus.

Sai às presas de casa, com o guarda-chuva aberto. Me pergunto se Davi vai aparecer com essa chuva, e por incrível que pareça, quando eu cheguei ele já estava lá, segurando um guarda-chuva também.

— John!

— Davi — sorri. — Não achei que você viria.

— As pessoas trabalham, faça chuva ou faça sol, e meus pais acham que eu estou trabalhando como jovem aprendiz, lembra? — ele disse. — Mas eu achei que você não iria vim.

— Eu vim.

— Obrigado por ter vindo.

— Bem, vamos entrar dentro da igreja, não é uma boa ficar do lado de fora ou tomar sorvete hoje.

— Verdade, não quero pegar um resfriado.

Saímos de trás da igreja e entramos, para a nossa felicidade não tinha ninguém. Afinal, já vi muita gente vindo na igreja confessar seus pecados, e elas esperam meu tio, achando que ele realmente vive na igreja 24 horas por dia, mas não é bem assim.
Jogamos nossos guarda-chuvas de qualquer jeito no chão e nos sentamos em um dos bancos de madeira da igreja. A chuva parecia ter ficado mais forte, mas eu não me importava muito.

— Sabe, meu aniversário está chegando — Davi disse. — Então eu pedi de presente prós meus pais uma bicicleta, aí nós dois vamos poder pedalar juntos, vai ser mais fácil.

Eu nunca gostei de aniversários, não do meu pelo menos, sempre foi um saco, o único que lembrava era meu pai, o presente que ele me dava era sempre a mesma coisa: um pequeno pedaço de bolo velho da padaria. E eu gostava, mas agora que meu pai foi embora eu só tenho meu tio e ele sempre esquece do meu aniversário, eu também não faço de questão de lembrar do aniversário dele. Mas apesar disso, me deixa ansioso quando Davi fala sobre seu aniversário.

— É um bom presente — apesar de eu gostar quando ele coloca as mãos na minha cintura com medo de cair da bicicleta enquanto eu pedalo. — Quando é seu aniversário? Preciso te dar um presente também.

— Não precisa me dar nenhum presente — ele deu risada. Eu vou dar um presente mesmo assim, mas ainda não sei o que. — Porém o meu aniversário é no próximo domingo.

— No domingo? — ele balançou a cabeça. — Cara, que merda, meu tio provavelmente vai fazer algo super constrangedor no culto. E eu vou vim só pra ver isso.

Davi começou a rir de novo.

— Sim, provavelmente ele vai — também dei risada. — E você? Quando faz aniversário?

— O meu já passou, foi em março.

— Que pena, queria te dar um presente.

— Quem sabe no próximo ano.

— É, quem sabe.

Eu e Davi conversamos durante horas e às vezes quando o assunto acabava apenas ficávamos em silêncio escutando a chuva, mas era bom, e mesmo quando chegou a hora dele ir embora, ainda estava chovendo, mas não tão forte.

— Tchau, Davi.

— Tchau, John, até amanhã.

Ele abriu o seu guarda-chuva e saiu da igreja. Um tempo depois também peguei o meu e sai.

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