17 de Outubro de 1840, Inglaterra.
"Grávida?"
Essa palavra rodeava a cabeça de Mrs. Taylor, uma jovem mulher de 21 anos, tempos antes de desmaiar nos braços de sua dama de companhia, enquanto a sua amiga, Delphine, desesperadamente, começa a abaná-la com as suas delicadas luvas de renda francesa.
— Arabela! — Suspiram aliviadas, as mulheres quando a jovem dama retoma a consciência.
Grávida?
A jovem senta-se na cadeira mais próxima, e com um olhar sem rumo, fica absorta em pensamentos. Grávida?
Ela sentia o medo entrando em cada parte do seu corpo. Esse mundo não era bom para uma criança, ela sabia disso...
Talvez ela estivesse certa. Esse mundo não era bom, não era justo. 1840 não era uma época boa. As mulheres não tinham voz, o que seria do seu bebê se ele tornar-se a ser uma menina? Ela sofreria nesse mundo, Arabela temia por isso.
— Me desculpe, minha amiga. — Sussurra Delphine, tirando-a de seus pensamentos conturbados. — Achei que sabia, pois a mudança em seu corpo é clara, depois da última temporada.
Claro, se viram pela última vez dois meses atrás, não porque queriam, mas os compromissos de ambas não estavam se interligando.
Como ela não reparou? Com a sua recém-admiração por flores e com a sua mais nova meta de reformar os jardins de sua residência, ela mesma, não parou um minuto sequer para reparar em si mesma. Andava muito ocupada, escolhendo as suas flores.
Algo que fazia horas antes de Delphine vir visitá-la.
Magnólia ou Narciso?
Horas atrás essa era a sua dúvida, agora se encontrava pensando se teria um herdeiro ou uma menina.
— Está tudo bem, senhora? — Pergunta sua dama.
Assentindo, ela responde:
— Sim... — Suspira pesadamente. — Só estou um pouco chocada.
— Você precisa contar a William! — Acrescenta a amiga, logo após.
Virando a cabeça na direção dela, em uma velocidade nem um pouco graciosa. Arabela assente temerosa.
Contar a "novidade" ao seu marido...
❋❋❋
Naquela noite, Arabela contou o seu estado ao marido.
Sabia que ele não se importaria tanto, era do feitio dele não se importar com nada, apenas com os seus tão queridos e lucrativos vinhedos.
Casada com um homem rancoroso, mal-humorado e ganancioso.
25 anos mais velho do que a tão sonhadora Bela, mas extremamente rico. Essa era uma conquista que o seu pai se orgulhava.
Ela poderia ser feliz. Tinha uma linda casa, reputação, dinheiro, duas amigas, vários vestidos e influência. É isso que nos traz felicidade, não?
Não para a doce Bela, ela queria mais. Queria um amor. Queria afeto. Queria mais do que o dinheiro e influência poderiam lhe dar. E, por isso, ficou extremamente abalada quando a resposta de seu marido, ao descobrir a gravidez, fora apenas um: "Até que enfim está fazendo o seu papel de esposa. Espero que o cumpra certo e me dê um menino".
Não era para isso tê-lamagoado tanto, ela estava acostumada com a sua ignorância e frieza, mas com achegada de um filho, a velha e traiçoeira esperança de que ele poderia sermelhor veio também...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Traga-o de volta
Short Story1840. O que uma mulher pode fazer em 1840 a não ser comandar uma residência e cuidar dos filhos? Filhos... Ah, filhos... A maior dádiva de muitas mulheres, um pedaço seu correndo pelos campos, brincando por toda parte e alegrando os dias dos mais...