25 de Dezembro de 1840, Inglaterra.
Natal.
Uma data comemorativa que, por sua vez, acaba reunindo laços uma vez já separados.
Natal.
Seria o dia em que Arabela contaria aos seus familiares a notícia, mas claramente eles já descobririam antes mesmo dela contar, por conta da barriga elevada de quatro meses.
Geralmente as mulheres anunciavam antes, mas Bela não se sentira pronta para tal; foram meses tentando se preparar para finalmente entender que ela está gerando um pedacinho de si. Era assustador, ela sabia que estava sozinha nessa, apenas ela e o bebê...
William, seu marido, nunca mudou o jeito de tratá-la, nunca se tornou a ser carinhoso ou atencioso com ela. Saindo ao nascer do dia para trabalhar e voltando tarde da noite, sempre a acordando, porque estava bêbado de mais.
E assim os dias foram se passando. Ela se lembra claramente da noite que mais temeu pelo seu bebê:
Já era tarde da noite, Arabela se encontrava dormindo num sono calmo, com a mão posicionada por cima da sua barriga que já davam sinais de um intruso ali, quando Sr. Taylor chegou ao quarto do casal fazendo barulho, esbarrando nas coisas e tropeçando pelo caminho.
Acordando assustada de seu tranquilo sono, ela o observa parado no batente da porta, descabelado, desarrumado, um trampo.
— Não acredito que ficou até tarde da noite fora! — Sonolenta e indignada, fala.
— O que você tem haver com isso, sua putinha! — Esbravejou ele, ao mesmo tempo que ia em direção a ela ferozmente, enquanto tirava a sua roupa pelo caminho.
E com um sorriso malicioso parou em frente à cama, onde Mrs. Taylor se encontrava, agora sentada. Aquela foi a sua deixa...
— Shiuu... — Acaricia o seu rosto amedrontado. — Quietinha...
Naquela noite ela temeu pela criança em seu ventre.
Temeu no que ela poderia se tornar, e então clamou aos céus para que o seu bebê não tornar-se a ser uma menina, ela não teria forças de ver a sua filha passar por isso...
Isso que ela passou...
❋❋❋
Lembrar-se daquele dia fez com o ar dos seus pulmões se esvaziasse e sua boca secasse. Ela não queria, mas o que poderia fazer? Era isso que as esposas faziam, obedeciam. Ela só pode clamar por proteção ao seu filho e torcer que aquilo acabasse logo.
— Seus familiares chegaram, vá lá recebê-los. — Fala seu marido mal-humorado, indo em direção ao seu escritório.
Assustada ela começa a tremer, algo que acabou se tornando um hábito toda vez que ele chegava perto.
— Está tudo bem Mrs. Taylor? — Pergunta uma das serviçais, logo após vê-la tremendo com a mão posicionada no seu ventre.
Suspirando ela assente educadamente. Arruma o vestido e com um doce sorriso vai em direção aos seus convidados.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Traga-o de volta
Short Story1840. O que uma mulher pode fazer em 1840 a não ser comandar uma residência e cuidar dos filhos? Filhos... Ah, filhos... A maior dádiva de muitas mulheres, um pedaço seu correndo pelos campos, brincando por toda parte e alegrando os dias dos mais...