Era como se afogar em um rio de águas muito profundas.
O desespero, a sensação dos seus pés tão pesados que não consegue mais lutar contra as correntezas, o ar escapando aos poucos, o vazio que os braços - sem saber para onde nadar - deixavam na água. De repente, o impulso é deixar o corpo ir, desistir, afundar e afundar, até não haver mais a luz.
Os sonhos de Kerem se tornavam esse recanto revolto, sem saída, todas as vezes que dormia. Principalmente naquela noite, quando se lembrava de fatos que estavam bem enterrados em uma parte escura e empoeirada da mente. Essas memórias o assombravam, agora, como se fosse uma grande quantidade de água que entra por todos os lados, resolvida a tomar todo e qualquer espaço.
As memórias da noite em que tudo deu errado.
Kerenina havia tocado de leve o ombro de Kerem, como sempre fazia para avisá-lo de algo, sem usar as palavras. Era um método, que se valia da conexão que tinham, aperfeiçoado com anos de prática e muita confiança. O toque em seu ombro dizia tudo: Não estavam sozinhos. Teriam que lutar, juntos, ambos por suas vidas.
Kerem não havia pensando que seria tão perigosa uma missão de pesquisa, onde ele e Kerenina, dois espiões experientes, iriam recolher informações sobre Erkenci, mais conhecida como a máfia turca e seu líder, Emre Tunca.
No entanto, o que deveria ser rápido e sigiloso, se tornou uma armadilha para ambos.
Pareciam esperá-los.
Após o toque de Kerenina, ele sentiu os pelos da nuca se eriçarem, pressentindo o que viria no decorrer. Por mais que Kerem e Kerenina fossem habilidosos, não podiam com várias pessoas armadas até os dentes.
Assim que sentiram que não estavam mais sozinhos, foi rápida a queda para o inferno. Prenderam-no e espancaram-no, mesmo sob os gritos de clemência de Kerenina.
Kerem não a via. Mas sentia as vibrações de sua voz ecoar em seu peito, todas as vezes que era atingido.
Depois da surra inicial, ordenaram que o levasse, mas não antes de levarem Kerenina para outro lugar não tão distante e a executarem, fazendo com que Kerem, ainda pudesse escutar os tiros assassinos que atingiram uma das pessoas mais importantes em sua vida.
Ele tentou lutar, rasgou os lábios, mordendo-os quando o desespero o acometeu de tal forma, pois não podia fazer mais nada. Estava impotente e sem utilidade. Estava sozinho até o momento em que tivessem piedade o bastante para matá-lo.
Mas não mataram-no. Deixaram-no vivo, para amargurar todos os dias, a dor de não ter podido salvar sua parceira.
E seis meses se passaram até a luz chegar até ele. Em forma de uma mulher, Hande. A pessoa que o deu esperança de sair do seu próprio abismo, de voltar a ser humano outra vez.
A pessoa que trazia paz para as turbulências de sua mente.
A pessoa que aparecia em meio às profundezas das águas e o levava até a superfície.
A pessoa que fazia com que se sentisse leve como uma pena.
Flutuando.
Flutuando.
Flutuando.
De volta para o mundo real.
De volta ao mundo dos despertos.
O teto branco o encarava e Kerem o encarava de volta. Sua respiração era pesada, ainda assustada, ainda temerosa das memórias compartilhadas pelo cérebro. Pessoas dizem que o cérebro é composto de reações químicas. As que faziam rir, chorar, amar, odiar, sentir falta. As reações químicas de Kerem, naquele momento eram várias explosões nervosas. Eram impulsos elétricos que pulavam de um neurônio à outro, buscando o que conectar para lidar com a dolorosa realidade de que nada do que pensava, era realidade.
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Partners in Crime
FanfictionAncara, capital da Turquia, lar de Hande Erçel e de seus sonhos de ser livre. Sempre sonhou com o dia em que seria promovida a espiã em campo, sairia do "arquivo" e iria para a sede em Istambul. Finalmente, depois de muito tempo e trabalho duro, é...