A Casa

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A estrada era longa e a casa ficava extremamente distante, mesmo de carro. Poucos carros passeavam por ali, e a maioria eram viaturas da polícia. Finalmente algum ocorrido depois de semanas sem nenhum roubo sequer. Um atendente de drive-thru tem a vida mais movimentada que a polícia de Summer Town.

Ao seguir pelo trajeto demorado, um caminho em meio as árvores era sua passagem para a casa. A estrada na mata fechava mais e mais com o avanço do carro, que sacudia e virava com força para desviar dos buracos. Seu motorista mal tirava o pé do acelerador. 

Quando o túnel escuro de árvores acabou, mesmo em plena uma e quinze da tarde, parecia que estava anoitecendo, graças às nuvens pesadas que passavam por ali. A pequena estradinha feita de pedras para a passagem de carruagens havia se desfeito ou quebrado, há muito tempo. As únicas luzes mais fortes eram as vermelhas e azuis das viaturas de Polícia. 

Após estacionar a picape branca em frente ao que já foi um labirinto vivo, um homem sai de seu interior vestindo uma blusa social branca amarrotada e calça jeans. Sua pele é clara, seus cabelos lisos e castanhos e seus olhos são verdes como a clorofila das folhas. Jovem, não passaria dos 30, mas com a aparência extremamente cansada. Ele vai em direção a casa desengonçado amarrando os cadarços do tênis e tentando não deixar a bolsa cair.

Com a aparência destruída e como se estivesse para cair aos pedaços, a casa se encontrava no centro de uma clareira entre as árvores e a névoa densa da floresta. Haviam vidros faltando nas janelas, e até mesmo um cômodo inteiro em sua parte direita. Houve um grande incêndio aqui há muito tempo, algo realmente terrível. 

Ao se aproximar da entrada da casa, alguém sai para olhar o lado de fora. Ele era alto, talvez largo demais. Sua pele era morena e o cabelo quase raspado. Seus olhos eram de cores diferentes, um castanho escuro, outro em um tom de mel. Daniel.

-Seu tapado. Não dava pra chegar mais cedo não? Quem sabe quando a lua estiver nascendo. - Reclamou alto. Sua voz saiu como um trovão.

-Desculpa, não ouvi o celular tocar. - Victor sacudiu o aparelho com a tela trincada e bugada. A queda foi violenta.

-Você devia era trocar essa pereba aí, por um que ligue pelo menos. Os dois foram interrompidos por um berro vindo da casa. 

-ONDE TÁ AQUELE PALHAÇO DO VICTOR?!

Três policiais de dentro da casa apontam para a porta dupla de entrada escancarada. Daniel também aponta e recebe um olhar ameaçador do outro, que aperta a alça de sua bolsa preta. 

O homem que havia berrado saiu de uma das salas da casa. Ele parecia o mais velho de todos ali. Daniel e Brendom, o Xerife, eram idênticos.

-Tens ideia de quantas vezes eu te liguei? - o Xerife se aproxima deles apontando para o nariz redondo e vermelho de Victor, que discretamente pega o celular em pedaços no bolso e o mostra a Brendom. 

-Touché!- uma policial atrás deles passa rindo com outro da equipe.

-O que foi que aconteceu, afinal? Não me disseram nada. - Victor desconversa e empurra o dedo de seu superior. 

O clima de repente pesou. Daniel e Brendom se olharam por um instante. Parecia um caso delicado, mas eles precisavam de Victor ali.

-Foi suicídio. - Daniel diz baixinho.

-Um dos vizinhos passou por aqui depois de uma tempestade pra ver se a casa tinha finalmente desabado e achou os corpos. - Brendom completa.

-Haviam dado queixa do desaparecimento da mulher há umas 4 semanas, mas os pais decidiram que ela só fugiu de casa e abriram de mão. Segundo eles, ela tava agindo estranho há meses e parecia perturbada com alguma coisa. - Daniel entra na casa e aponta para o rombo no teto podre onde havia um lustre. 

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⏰ Última atualização: May 04, 2021 ⏰

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