Outono; Jungeun e a amante

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O serviço comunitário acabou não sendo tão ruim como imaginei, tão pouco foram as diretrizes de JinSol. O tom autoritário que ela usava comigo para tentar proteger os caranguejos que eu me esforçava para não pisar era realmente fofo. Ela havia se tornado suportável depois de algumas semanas compartilhando minhas tardes e merecia pontos por me ouvir soltar uma reclamação a cada dois minutos e ainda ficar quieta, sempre tão controlada e paciente. Yerim já teria jogado algo mim, de certeza.

JinSoul era brincalhona, mas nada mais.

Nós não nos falávamos na escola, não almoçávamos juntas nem nada parecido. Eu a evitava, sim; ignorava quando ela chamava meu nome antes de sair para o intervalo e fingia não ver seus acenos exagerados em Educação Física, a pior matéria do mundo que JinSol, curiosamente, parecia gostar bastante.

Eu estava começando a ser forçada a prestar atenção em Jung JinSol e isso me incomodava profundamente: tive que memorizar os lugares em que a princesinha costumava ficar na escola apenas para evitar cruzar aleatoriamente com ela; memorizei o rosto de seus amigos mais próximos para evitar ser vista e deixá-los manter qualquer informação sobre mim e, é claro, também memorizei o tom da cor de seu cabelo e a altura de seu corpo, para ser capaz de identificá-la rapidamente entre os outros alunos e fugir.

Algo não muito honrável, eu sei, mas nada comparado com o que já tinha feito na vida.

O gosto musical de JinSoul era outra coisa que me deixava sensível porque éramos muito semelhantes neste aspecto, assim o descobri, e isso me deixava em agonia. A princesa de Loonaville gostava de ouvir música sempre que limpávamos o freezer de rações porque ela acredita que esta é uma boa distração do fedor de peixe morto e terra, então agora tocava Green Day nos alto-falantes de seu celular enquanto ela movia seu corpo ao ritmo de Boulevard of Broken Dreams ao quebrar o gelo nas prateleiras. Parecia uma criança.

— Pare de rir de mim! — Ela soou revoltada depois de quase cair em um de seus movimentos de dança inventados.

— Eu? Eu não estou rindo de você. Eu nem estou rindo, — fiz-me de sonsa.

— Kimberly? — Chamou. — Eu posso ver esse seu sorriso bobo daqui!

— Eu não sorrio bobamente, Jung, é aí que começa o seu erro, — JinSoul revirou os olhos para minha fala e eu fingi não ver o sorriso graciosamente discreto que seus lábios formaram.

— Posso te perguntar uma coisa?

Parei por um momento para olhar para ela. JinSoul, como ela me implorara várias vezes para chamá-la, parecia tímida em seus movimentos, suas bochechas rosadas de vergonha. Ela não tinha pedido nada depois do 'por favor, ajudem no aquário', que tinha sido mais uma ordem do que qualquer outra coisa, e estava mantendo a promessa que tinha feito no meu primeiro dia lá, depois que eu caí por um descuido seu, de comprar meu almoço todos os dias.

Não que eu lhe devesse alguma coisa, mas se fosse algo que pudesse fazer, talvez eu faria.

— Pergunte e eu penso na resposta.

— Estamos indo bem, eu acho. Você acha que eu sou legal, não é? Tipo, nós somos amigas, não é? Não amigas como eu e Olivia, mas somos amigas, certo?

Sua fala me causou uma risada e um desejo incomum de esbofeteá-la por me fazer parar para pensar a respeito.

Não, eu não considero JinSoul minha amiga. Haseul é minha amiga, JinSoul é apenas uma conhecida, consequência do meu erro: o fato está claro em minha cabeça. No entanto, ali, olhando para seu rosto corado e esperançoso, perguntei-me se sou uma pessoa má a ponto de mostrar isso a ela. Em contraste, mentir parecia injusto.

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