Outono; Jungeun e as focas

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Na segunda noite em que tenho que escapar secretamente do meu quarto de novo, eu acidentalmente acabei tropeçando em meu próprio pé, pressionando os olhos enquanto me xingava pelo barulho que havia feito.

— Achei que você tivesse parado de fazer isso, — a voz de Choerry me fez estremecer por um momento, mas a surpresa logo se transformou em raiva e eu me virei em revolta, mentalmente me impedindo de pular na cama de Yerim e arrancar sua cabeça.

Que mania irritante de se intrometer na vida dos outros!

— Eu nunca prometi nada a ninguém, — eu revira os olhos, tirando dois cigarros da carteira que mantinha escondidos debaixo da cama e colocando-os no bolso.

— Você jurou! — Ela acusou, tendo o cuidado de gritar em um sussurro. — Você jurou que não iria para nada depois que-

— Quem jura sempre mente, Yerim, — interrompi-a, então murmurando um boa noite e deixando-a para trás ao jogar meu corpo contra o arbusto nos fundos do orfanato, escalando a grade inferior para sair.

Tecnicamente, já tenho dezoito anos, então não é tão errado eu fumar, mas esse não é o verdadeiro propósito da minha saída — não só esse, pelo menos — e, por mais que minha colega de quarto goste de ignorar, ela sabe disso.

A rua estava escura, iluminada pelos poucos postes mal distribuídos nas calçadas, muitos deles falhando devido à idade avançada dos diodos emissores de luz, e havia um pouco de neblina graças ao frio da madrugada. Lamentei não ter trazido um casaco mais grosso, ou talvez até um edredom, já que a primeira opção está faltando para todas as meninas do orfanato.

Ouvindo a fricção da sola gasta dos meus tênis contra a pista empoeirada, segui para o leste até encontrar uma figura feminina no final da rua, na primeira esquina. Era Jo Haseul; minha fornecedora de cigarros e acompanhante nas noites carentes desde os quinze anos: uma bela e madura jovem de dezenove anos, com cabelos castanho-escuros que não passam de seus ombros longos e olhos de águia.

Ela estava de pé em suas botas marrom e segurava um maço entre os dedos. Sorriu ao me ver e, infelizmente, reconheci em seus lábios ainda o mesmo sorriso apaixonado de anos atrás, arrependendo-me logo em seguida

— Achei que você não fosse vir hoje, Kim, — ela disse, e cuspiu o chiclete já sem gosto no chão.

— Quando é que eu não venho? — Roubei seu cigarro, colocando-o entre os lábios e tragando uma vez.

— Hm, — ela murmurou, tirando outra bituca do bolso da frente da calça e o acendendo, imitando meu gesto em seguida. — Eu é que não vou te te acompanhar hoje, príncipe. Tenho remessas para receber.

— Você já está desistindo? — Brinquei, minhas sobrancelhas levantadas e minha postura falhando porque, apesar de não ser autorizada para tal, ela por vezes se juntava a mim em minhas tarefas para garantir que eu fosse rápida e que ficasse segura.

O meio sorriso que Haseul me deu disse muita coisa. — Você é quem só faz as coisas por diversão entre nós, Kim. Eu faço coisas de adulto e estou cheia delas hoje.

— Eu odeio quando você fala assim, — revirei os olhos para o seu discurso, respirando fundo depois de terminar o cigarro para então jogá-lo no chão e pisar em cima. — Não tenho interesse em ser uma fora da Lei, Haseul, muito menos traficante. Eu quero me formar, ir para a faculdade. Estou apenas cumprindo minha palavra de pagar uma dívida.

— O que você ainda está fazendo aqui, então? — Ela retaliou e eu recuei, dando-lhe um aceno de despedida enquanto me afastava.

Às vezes, Haseul realmente sabia como me irritar.

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