Verão; Jungeun e a ameaça

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A notícia chegou a Yerim do pior jeito possível: pelo telefone, e, quando voltei à Loonaville dois dias depois de ter saído pela primeira vez, isto porque Soyeon havia passado este tempo com a futura namorada, Yuqi, na casa dela, fui ao orfanato para pegar meus livros e uma mochila com roupas e tive que ouvir todos os gritos de minha parceira de quarto, que pediu para ir comigo ver a Jo e ficou de birra quando eu disse que era melhor que ela ficasse onde estava e, caso precisasse de alguma coisa, invadisse a casa de Kim Hyunjin e Jeon Heejin.

Horas depois, encontrei Soyeon, que estava com tudo arrumado para retornar à faculdade, na frente da casa de Hyejoo, a qual mal consegui olhar, e, no caminho de volta para seu campus estudantil, ela me deixou no hospital de novo.

Haseul levou algum tempo para se recuperar — treze dias para sair do estado crítico em que Kahei a havia encontrado, se eu tiver que ser específica — e isso por conta da sua costela, porque o restante era hematomas e mais hematomas. E eu, que não podia ficar circulando entre as duas cidades porque não tinha mais carona e nem carro, tive que passar os dias seguidos lá, encolhida contra a poltrona de seu quarto, fazendo-lhe companhia e distraindo-a das extrações de sangue para exame que aconteciam diariamente.

Além do fato de que sua avó falecera.

Pois é, como se já não bastasse ter que passar por tudo o que passou até então, recebemos a notícia, logo depois de eu voltar ao Santa Valéria com as minhas coisas, que Nana tinha sofrido um ataque cardíaco, provocado por uma medicação errada, ao qual não sobrevivera. Agora, se a medicação tinha sido trocada por coincidência ou não, nunca saberíamos, mas ambas compartilhávamos a mesma teoria: Ha Sooyoung.

Aproveitei, também, para estudar para os meus exames enquanto acompanhava Haseul em seu luto — ela sequer pôde sair para ir ao enterro —, tomando as horas do dia em que ela estava desacordada ou na fisioterapia para fazer meus resumos e revisões, e mandá-los por mensagem para Yerim, para caso ela precisasse.

Depois dos tais treze dias, ela foi liberada sob prescrição médica de uma série de remédios e nós fomos ao cemitério para deixar flores sobre o jazigo de sua avó antes de pegarmos um táxi de volta a Loonaville. Sua carta verbalizada para o último membro de sua família a deixá-la arrancou lágrimas até mesmo do motorista pessoal de Kahei que tinha sido instruído a nos acompanhar e se responsabilizar pelo retorno à nossa cidade — ele pagou os muitos dólares de taxi, e o taxista era amigo próximo dele. Eu me peguei pensando em muitas de suas palavras no caminho de volta.

"Não há partida para aqueles que permanecerão eternamente em nossos corações," ela disse. "Mas o tempo vai ajudar a transformar a dor da perda em uma uma saudade serena."

Dei-me conta de que, para isso acontecer, a pessoa não tinha obrigatoriamente que morrer. JinSoul não estava morta. Mas o luto pelo nosso relacionamento ainda estava sendo lentamente processado pelo meu cérebro, mais lentamente do que eu imaginei que seria.

Isso devia-se ao sentimento que borbulhava em meu estômago todas as manhãs quando despertava, que me lembrava que ainda não estava tudo bem, que ainda não havia tempo para mim, que Yerim e Haseul continuavam à mercê de uma mafiosa maluca que tinha o poder de acabar conosco a qualquer minuto. Que eu não podia descansar.

Portanto, continuaria bloqueando qualquer potencial distração até alcançar esse patamar, e focando nos meus objetivos: desvincular minha família de Ha Sooyoung, e entrar numa faculdade.

Agora, estava eu correndo de um extremo da escola ao outro para recolher as cartas de recomendação que meus professores escreveram para anexá-las às minhas inscrições universitárias, minutos depois de ter acabado o último exame do dia, o de Inglês. O de Geografia seria daqui dois dias e o de História na Sexta-Feira.

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