Inverno; Jungeun e a mentira

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A Srta. Qiaolian continuava a transcrever incansavelmente as composições químicas de seu caderno marrom e velho para o quadro-negro enquanto todos os seus alunos, inclusive eu, tentavam copiar os diagramas a tempo. Todos nós sabíamos que se o sinal do almoço tocasse e ela terminasse seu trabalho, começaria a apagar tudo e ninguém teria as anotações completas, o que tornaria meu estudo cem por cento mais difícil.

Não é que eu odeie Química; na verdade, essa é minha segunda matéria favorita, logo depois de Inglês. Mas não havia muitas fontes de conhecimento para pessoas como eu além do que a escola oferecia e nosso grande teste viria após as férias de inverno, quando a biblioteca da cidade estaria fechada até o início da primavera.

— Merda, — murmurei para mim mesma, colocando um travessão na palavra errada para reescrever ao lado dela e evitar o uso do corretivo. Foi pura sorte que o o barulho estridente soou no exato segundo em que terminei o texto.

Pura, pura sorte.

— Ei, — Yerim chamou. Ela estava sentada na mesa atrás de mim, mas sua voz chegou muito perto do meu ouvido e eu não precisei olhar para saber que seu corpo estava estranhamente contorcido sobre mim. — Você conseguiu encontrar a localização da fábrica?

Ela se referia à Fábrica de BrinquedosTindle Winkle que Haseul apontou quatro dias atrás como meu próximo alvo, na noite em que tive que fazer Yerim ocupar Hyejoo e Yeojin na farmácia por tempo suficiente para eu conseguir todas as informações dela e tirá-la de nossos pés antes que Hye percebesse algo. O que funcionou bem, na verdade. Mas, infelizmente, meu professor de Informática, o Sr. Stephen, havia falado às aulas esta manhã por conta de alguma consulta médica pessoal, impedindo-me de imprimir o mapa das estradas ao redor da cidade e atrasando ainda mais minha tarefa.

— Ainda não, — respondi. — Só amanhã.

— 'Tá bom, — e ela começou a recolher os materiais espalhados em sua mesa; sempre foi a mais bagunceira entre nós duas. Eu nunca aguentaria ver nada meu onde não deveria estar.

Algo que me deixava extremamente irritada com Yerim era que, embora ela insistisse naquele ridículo discurso "Estamos juntas nessa" e mencionasse "Kim Lip e Cerejinha" toda vez que eu tentava convencê-la a desistir dessa idiotice, minha colega de quarto continuava a mostrar resistência às ordens da chefe de Haseul — seja quem for — e não perdia a oportunidade de provocar a Jo. 

Mais um daquelas e ela iria me ouvir.

Conseguimos sair da sala evitando a montanha de confusão que nossos colegas faziam em volta da professora, tentando pedir a ela que mandasse algumas coisas sobre o assunto por e-mail, mas nem me estressei. Ela nunca tinha feito isso antes e tenho certeza que não iria começar agora. Além disso, nem mesmo tenho acesso ao meu e-mail fora da escola. Portanto, não seria grande coisa para Yerim e eu.

Fomos para a cantina e nem acreditamos quando vimos JinSoul, Chaewon e Hyejoo sentadas em uma mesa fora do refeitório. Continuei xingando cada uma delas enquanto observava Choerry abrir a porta de vidro e ser vítima de inúmeros olhares estranhos, como se perguntassem se ela estava louca. Fui obrigada a segui-la e desamarrei minha jaqueta da cintura assim que a temperatura baixíssima atingiu meu corpo, mesmo com as duas blusas e as duas calças que vestia.

Os restos de neve ainda estavam presentes no chão, mas os flocos nas mesas e bancos já haviam se transformado em água. Apenas três dos mais de vinte círculos de ferro estavam ocupados, um por Jeon Heejin e seus amigos — longe o suficiente da mesa de JinSoul — e o outro por Irene Bae e sua prima, uma garota nova e alta que tenho quase certeza de que se chama Joy.

— Garotas, — Yerim cumprimentou ao se sentar, sendo imitada por mim em seu gesto; JinSoul ao meu lado, como sempre.

— Vocês demoraram hoje, — Chaewon franziu a testa. — Tiveram Química?

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