Inverno; Jungeun e o fim do ano

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Eu tinha gastado boa parte da minha economia em um presente decente para a avó de Chaewon, como um agradecimento por nos chamar — Yerim, Yeojin e a mim — para passarmos o Natal em sua residência, uma vez que JinSoul, sua mãe e sua madrasta haviam viajado assim que as férias de Inverno começaram e Hyejoo e sua família fizeram o mesmo, levando Soyeon e Becky para a casa da família Jeon, no interior da cidade de Napa.

Chaewon, supostamente, também era para estar longe de Loonaville, em uma ilha tropical do Brasil com seus pais, mas ambos eram pessoas de negócios e adiaram seu voo e de sua avó por conta de uma parceria que estava prestes a ser confirmada, forçando ambas a permanecerem na cidade durante o feriado.

Nossa amiga estava claramente incomodada com o imprevisto — Yerim comentou coisa ou outra sobre ela reclamar do quanto seus pais a negligenciavam com frequência —, porém vinha tentando esconder, como a boa membro da corte de Loonaville que era, com sorrisos falsos e frases curtas que não entregassem o seu mau humor. Não deixou de nos incluir em seus planos, todavia.

Seu motorista nos buscou pouco antes das oito da noite e nos deixou na porta de sua casa dezessete minutos depois. Era a primeira vez que eu e Yerim conhecíamos a sua residência, e esta era quase tão grande quanto a de JinSoul, e definitivamente maior que de Hyejoo, apesar de ser mais luxuosa que as outras duas combinadas.

Somente a calçada tinha colunas e enfeites e detalhes dourados, e, em seu interior, tudo o que encontrei foram objetos de ouro e decoração cristalizada que, com toda a certeza do mundo, custavam mais do que a minha vida. Céus, a família Park conseguia ser mais exibicionista que a Prefeita Ha. E olha que ela andava exibindo uma BMW cinza pelas ruas.

Com a casa surpreendentemente repleta de empregados, Chaewon nos recebeu em sua sala de jantar, que mais parecia a fábrica de brinquedos do Noel no filme A Origem dos Guardiões  pela decoração fiel, trajando um vestido vermelho sangue com detalhes em branco que a fazia parecer a princesa do Natal, ao tempo em que sua avó, Grace Park, era definitivamente a personificação da mamãe Noel, nada parecido com as calças jeans que vestíamos ou até com o vestido azul com que Yeojin estava arrumada. Porém, a roupa da mulher mais velha fez a criança entre nós pular e gritar e correr para abraçá-la antes mesmo de desejar boa noite.

A senhora Park sorriu graciosamente e a afastou com cuidado, seus movimentos lentos pela idade, — Feliz Natal, querida, — ela desejou, as maçãs do rosto se espremendo com seus olhos.

— Espero que vocês estejam com fome, — comentou Chaewon, como se não soubesse que em nenhuma situação eu rejeitaria comida. — Eu fiz questão de que não faltasse nenhum prato tradicional para podermos aproveitar essa noite como deve de ser.

Seu sorriso forçado apenas serviu para me evidenciar o quão em crise sua mente estava. Ela era alucinada por controle e toda essa situação com os pais a devia estar levando à loucura. Sabendo disso, Choerry a abraçou pelo dobro do tempo esperado, soltando-a somente quando a loira sentiu-se tão desconfortável com o aperto que começou a dar palmadinhas em suas costas.

Sem mais delongas, uma vez que nossos estômagos estavam sendo provocados pelos aromas diversos do ambiente, nós sentamos e comemos, e eu tive a oportunidade de experimentar comidas que jamais tinha sequer ouvido falar.

— Minha família materna é brasileira, — Chaewon explicou quando eu perguntei sobre o peru em pleno Natal.

Grace Park sorriu em concordância e tomou a voz, — Nós juntamos muito da cultura brasileira com a coreana e a americana, querida, como forma de representar todas as nacionalidades em nosso sangue. Sem falar que Chae gosta muito da comida do Brasil!

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