Inverno; Jungeun e o encontro

98 13 18
                                    

O sol que costumava aquecer a cidade de Loonaville estava distante e opaco, coberto por nuvens cinzentas e carregado de chuva no céu. Não brilhava mais e o calor que evitava que as órfãos do orfanato, como eu, morressem de hipotermia vinha do único aquecedor da casa, localizado ao lado da televisão, também unitária em sua espécie. Eu sabia que o dia não seria totalmente chuvoso porque, aqui, sempre foi assim. As manhãs e as madrugadas sempre eram as piores partes do dia, mas o tempo se acalmaria mais tarde.

Uma das garotas mais velhas cujo nome eu não lembrava e nem me importava em aprender tentava com afinco posicionar a antena de um jeito certo já que não tínhamos canais fechados, para que a imagem do desenho ficasse ao menos nítida e a outras crianças pudessem se reunir e se distrair naquela manhã de sábado.

Yeojin escovou o cabelo, passando os garfos do pente repetidamente pelas mechas, sentada no chão com as pernas cruzadas bem na frente da saída de ar. O moletom que eu tinha pegado de JinSoul alguns dias antes e emprestado a ela esta manhã não era suficiente para aquecê-la, mas ela era uma boa garota e não reclamou disso, especialmente porque era a única ali com um casaco que não estava gasto ou velho.

— Eu fiz chá —, anunciei, agachando-me para deixar a bandeja de metal com as canecas no chão. Como não tínhamos recursos para fazer chocolate quente para vinte e três meninas e não podíamos ficar sem líquido quente ou começávamos a tremer, a opção disponível era sempre chá e eu ficava encarregada da tarefa por saber diferenciar as ervas no jardim de Grimes devido às minhas várias horas de punição.

Quando vi que todas as meninas haviam recebido uma bebida, saí e voltei para o meu quarto como Choerry havia pedido. Dizer que ela estava muito nervosa com meu encontro com JinSoul ainda era um eufemismo. Ela me forçou a acordar mais cedo do que de costume para que minha rotina não atrapalhasse seus planos e juntou todas as nossas melhores roupas em cima do colchão para escolher o que eu iria vestir. Eu a deixei porque não queria estragar sua fantasia.

— Tire a toalha da cabeça, Jungeun, — ela instruiu, olhando para as peças em suas mãos.

— Meu cabelo ainda está molhado. Hipotermia não é a maneira que eu pretendo morrer, Choi Yerim.

— Cristo, você é a própria hipérbole, — ela revirou os olhos e me senti arrependida por tê-la ajudado a estudar para o teste de Inglês. — Feche a porta por favor.

Mesmo contrariada, assim o fiz, aproximando-me dela e pegando os tecidos que tinha jogado em mim. Pude ver um jeans escuro e um top branco com algo escrito em preto. Pus as roupas e aceitei o cinto vermelho que minha amiga me ofereceu, calçando logo em seguida o par de botas curtas. Yerim puxou a toalha da minha cabeça e ignorou o xingamento que dirigi a ela, dando tapinhas no espaço ao lado de si depois de sentar na cama.

— Vou morrer de frio, Yerim, — ela me ignorou novamente e começou a pentear meus fios, desembaraçando-os com cuidado e dedicação.

— Você poderia me dizer o que acha disso. Sabe, o encontro, JinSoul... Você gosta dela? Sinceramente, Lip, por favor. Isso é importante para mim.

Meu encontro e meus sentimentos são importantes para ela. Engraçado.

Vendo como ela colocava cegamente sua esperança em mim, disse a mim mesma para engolir o orgulho que me dizia para não dizer uma palavra a ela — sentimentos nunca foram uma questão fácil, já que muitas vezes eu os evitava e reprimia — e respirei fundo para resumir a confusão que minha cabeça criou.

— Estou tentando descobrir, Yerim. Quer dizer, JinSoul não é exatamente meu tipo preferido de garota. Se eu estivesse procurando por alguém, ela não seria nem a minha terceira escolha.

H(L)oveOnde histórias criam vida. Descubra agora