3

568 108 107
                                        

"Ei-o, aqui vem um perigo para este clube
Quando começarmos, nós não iremos parar
Nós vamos transformá-lo até incendiá-lo"

Courtesy Call - Thousand Foot Krutch


Alexandra Donnelly

Uma voz distante chama meu nome. É como se eu estivesse mergulhada em água gelada e rodeada de escuridão e essa voz estivesse vindo das profundezas. Mais uma vez, ela chama, e meu corpo é sacudido por uma onda.

Abri os olhos vagarosamente e em primeiro momento, tudo o que vi foi uma silhueta embaçada.

— Alex? Graças a Deus você acordou!

Pisquei com força para clarear a visão. Mary está ajoelhada ao meu lado, tocando meu ombro. Os traços de seu rosto preocupado vão assumindo clareza conforme desperto. Meus braços e pernas estão pesados e junto da consciência voltando, vem uma ardência na palma da mão.

— Mary...? Hm... que horas são?

— "Horas"? Alex, eu entrei e te encontrei no chão! — A ruiva contempla a bagunça de cacos de vidro e rosas-brancas murchas. — O que aconteceu?

Com a ajuda de Mary, consegui me sentar. Uma dor em ondas atingiu minha cabeça e por alguns segundos, minhas memórias eram escuras. Mas olhando para as rosas e o vaso quebrado, me lembrei de Hortence. Meu lábio inferior tremeu e uma nova torrente de lágrimas ameaçou sair dos meus olhos. Fechei a mão ferida, me concentrando na dor para não ceder ao impulso de cair nos braços de Mary e me refugiar nela, como fazia quando criança. Esse desejo apenas me traz mais vergonha.

Não posso me lamentar pela situação da minha vida. Eu nasci nessas condições e tenho um papel importante para assumir. Já que não posso controlar o meu destino, ao menos posso controlar como vão se lembrar de mim, e me recuso a ser lembrada como a primeira dama sentimental que apanhava da tutora.

— Eu... passei mal, pouco depois que você saiu. Tentei sair para chamar ajuda, mas desmaiei antes de chegar à porta. — Para os cacos no chão, pensei em uma mentira rápida. — Me segurar no vaso de flores não foi a melhor decisão.

Se Mary não acredita na história, não demonstra, e me ajuda a levantar. Ela me leva para longe da zona do desastre e toca minha testa e examina o corte na minha mão.

— Você não está com febre. Quer que eu chame o médico?

— Não, não precisa. Estou me sentindo melhor.

— Tem certeza? — Insiste. — Você nunca desmaiou, isso não pode...

— Mary, eu estou bem.

A ruiva respira fundo, guardando as preocupações, e assente. Agora completamente desperta, noto que ela está usando uma camisola branca e os cabelos estão soltos. Olhei pela janela, me deparando com a madrugada escura, nem sequer uma pequena estrela brilhando no céu.

— Que horas são?

— Três e meia da manhã. — Mary solta as minhas mãos e esfrega as próprias na camisola. — Ah, Senhor, fiquei tão preocupada quando te encontrei, que me esqueci completamente...

— Esqueceu o quê?

— Acho... acho melhor você dormir um pouco mais, amanhã eu...

— Eu não quero dormir. — Interrompi, a preocupação abrindo uma fissura na minha voz. — Quero que me diga o que houve.

Espectros [REESCREVENDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora