1: VALGRAM - ROTA 1

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A noite era escura e fria, mesmo com a lua cheia, havia um nevoeiro muito denso que não permitia se enxergar um palmo à frente do rosto. Nas últimas semanas rondava um boato de que criaturas estranhas andavam pelos bosques do reino de Valgram durante a noite. Ao longe se ouvia um som, um ecoar de batidas ao chão, com a terra molhada do sereno ouvia-se o som de galope, do vácuo de cascos contra lama, e a cada vez que batia o som ia aumentando, como se algo ou alguém estivesse se aproximando. Então com um som forte de batida e de quebrar de galhos surge um ser a galope em um belo garanhão negro. O homem usava um sobretudo que ocultava seu rosto, as roupas molhadas pela chuva recente davam a ele um aspecto macabro e ao mesmo tempo imponente, seu sobretudo era de pelagens negras, muito provavelmente de lobos das montanhas, em sua cintura carregava uma espada, com a lâmina levemente enferrujada e surrada mas não estava em uma bainha, mas sim envolvida em tecidos totalmente sujos e lamacento, em alguns pontos tinha até gotas de sangue. Logo atrás dele vinha outro, montado em uma bela mula castanho escuro este por sua vez usava uma capa muito provável que fosse de urso pardo, esse pendia um arco de quase dois metros adornado as costas, por varias vezes ficava murmurando coisa como "sonooo..." ou "fomeee...". por fim, em um galope longo e cansado, surge uma figura pequenina, que nas pontas dos pé não ultrapassa um metro e meio, era um velho, usava um chapéu de palha encharcado, com uma espécie de tecido bem grosso como roupa, por sua aparência, devia ter de uns 65 a 70 anos, sua barba alcançava seu abdômen, possuía uma cicatriz que cortava seu olho direito, que portanto, era cego, e a borda de suas roupas pingava de lama ao galopar do estridente corcel de batalha malhado.
O rapaz que seguia a frente sentindo-se sufocado pelo silencio absurdo daquele local, removeu o capuz que encobria parte de seu rosto, respirou fundo e disse: "quando chegaremos a capital, sor?". Então, com rispidez, o velho respondeu: " bem provável... um mês... mais ou menos..." com uma voz cansada e rouca, o velho continuou murmurando coisas, cada vez mais baixo. O segundo rapaz, removeu o seu capuz, e apertou a espora na égua, que guinchou um pouco, e acelerou o passo, até se igualar ao amigo, respirou fundo e disse, num sussurro bem audível, que apenas o velho meio surdo não ouviria: "poxa Francis" e continuou "o mestre já esta bem velho, não fique o apressando". Francis, que era um rapaz de cabelos negros azulados, os olhos azuis como a o céu, e possuía uma barbicha nascendo em seu queixo, além de não aparentar ter mais do que dezoito ou dezenove anos, respondeu, puxando a manga da camisa que cobria sua mão direita: "essa porcaria de manopla voltou a me machucar, se eu não achar um ferreiro experiente, que tenha habilidades mágicas para folgar essa manopla, acabarei ficando aleijado, portanto, me deixe perguntar o quanto eu bem entender, ok Henry?". Francis possuía em sua mão direita, uma manopla, cor ciana levemente enferrujada, com uma safira acoplada a superfície do metal, que com o tempo, se fundiram a sua pele. Henry, que era um rapaz de uns dezoito anos, tinha cabelos loiros, mas era de um loiro tão claro, que ao longe, parecia ser brancos, e eram longos, alcançando seus ombros, seus olhos, eram castanho claro, quase cor de mel, e possuía um cicatriz pequena na bochecha.
Durante um tempo, marcharam por uma estrada de terra batida, com o sereno pingando sobre suas cabeças. Passaram-se algumas horas e eles se deparam com uma pequena barraca, com dois homens sentados a beira de uma fogueira quase apagando, os dois pareciam embriagados, quando o mais velho deles, se levantou e disse, "amigos...! cavaleiros andantes...! venham se juntar a nós... e beber um pouco desse vinho! Eu e meu amigo fraco aqui estamos indo para um torneio na capital, só os melhores cavaleiros terão a chance de ganhar duas mil moedas de ouro..." e continuou " se unam a nós, e tenham a chance de perder pra mim! Começa em um mês, durmam aqui conosco e sairemos amanhã! Pela manhã!". O velho ouvindo o que o homem bêbado tinha a dizer, respondeu, "não tenho interesse em torneio, mas se souber onde posso encontrar um bom ferreiro, lhe agradecerei!" o homem então fechou a cara e respondeu "de ferreiro não sei, se és burro vá, mas se quer dinheiro, venha e fique conosco" o velho disse então "agradeço a proposta, mas já vou indo, obrigado amigo". Ao se afastar um pouco, Francis disse desesperado "porque não aceitar a proposta do cavaleiro?" Henry então respondeu "eram saqueadores". Eles te embebedam, esperam você dormir, e roubam seu dinheiro." Francis então disse "nossa, não tinha percebido... Então nós vamos pro tal torneio?" Henry curioso, olhou para o mestre, e ele respondeu " não estou vendo cavaleiros aqui, o único que vejo, sou eu, e eu não estou na idade de participar de torneios" Francis, indignado, olhou para o mestre e murmurou "bom... mais um motivo para nos nomear cavaleiros" o velho então retrucou "vocês ainda não estão prontos para essa tarefa". Henry, tentando mudar de assunto, perguntou ao velho, que já estava com a garganta doendo, "bom, qual era mesmo seu nome de cavaleiro, mestre?" o velho com orgulho respondeu "corvo branco!" então Francis retrucou "eu queria ter um nome de cavaleiro..." o mestre, já irritado respondeu rispidamente "mas não pode! Só nomeados cavaleiros podem!" Francis então retrucou novamente "mais um motivo pra sermos cavaleiros" então o velho gritou com voz rouca "CHEGA! NÃO ESTÃO PRONTOS!" Francis então calou o boca.
Ao galopar durante uma hora, a lua cheia já estava a pino, a noite havia se tornado iluminada, as nuvens surgiram no céu, e o som dos animais era mais do que audíveis. De repente o velho puxou as rédeas do cavalo, e falou com voz baixa "vamos dormir aqui esta noite" era um galpão alto velho e caindo aos pedaços, com uma placa velha e despedaçada escrito "taberna".
Enquanto os outros estavam dormindo, Francis estava acordado, observando as estrelas por um buraco no teto, ele observou bem, e uma estrela cadente caiu, ele então pensou "desejo que esse velho nos torne cavaleiros logo!".

CENTRAL KHAOS - Espiritos bestiais {Livro - 1}Onde histórias criam vida. Descubra agora