Capítulo sete; A nossa conversa eu nem sei mais se vai render

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REBECCA ALVES

— Prontinho! O almoço está feito. – cantarolei colocando a panela de pressão em cima da mesa.

— Hum... O que você preparou? – minha mãe olhou para mim animada.

— Frango assado da padaria e um arroz com feijão feitos hoje enquanto a senhora estava na igreja. – peguei os pratos que estavam em cima da mesa para colocar em seus devidos lugares.

— Minha filha, ainda bem que você tem a Julia pra te ajudar, viu? – ri junto com a mais velha e comecei a colocar um pouco de feijão em meu prato quando meu pai chegou. — Amor! Vem almoçar. A Becca fez tudinho enquanto estávamos na igreja. – falou sorridente enquanto colocava o arroz em seu prato.

— Depois eu como. Vou ler um pouco a Bíblia no quarto. – começou a tirar sua gravata e em nenhum momento olhou para mim. Minha mãe olhou para mim e suspirou.

Quando Miguel foi preso, eu não pude esconder dos meus pais — até porque seria estranho em um dia eu namorar o menino, vivendo um conto de fadas e no outro dizer que terminamos e nunca mais falar dele. Claro, ambos ficaram abalados ao saber a verdade de Miguel e eu não os julgo. Minha mãe, mesmo estando visivelmente abalada, me poupou dos sermões; ela sabia que eu estava sem estruturas com a notícia de que meu namorado havia sido preso e resolveu apenas me dar suporte. Já o meu pai foi totalmente ao contrário. Ele não ligou se eu estava chateada ou em prantos; ele disse poucas e boas, e, depois de jogar tudo o que queria para fora, se trancou no quarto e nunca mais falou comigo.

No primeiro ano, eu realmente fiz questão de respeitar o seu espaço. Eu entendia o quão ele podia estar magoado em saber que a sua única filha, a sua garotinha, estava envolvida com um bandido. Mas depois, mesmo que eu me esforçasse para que tudo voltasse ao normal, meu pai nunca cedia. Até minha mãe estava normal comigo, mas minha relação com o meu pai nunca mais foi a mesma...

— Pai... – coloquei meu prato em cima da mesa, porém minha mãe segurou em meu braço, me impedindo de segui-lo.

— Rebecca... – minha mãe olhou para o meu pai entrar no quarto e fechar a porta. — Deixe o seu pai. Você sabe que ele ainda está chateado com... Aquilo. – a encarei sem o mesmo ânimo de antes. Eu sei que estava errada, mas odiava quando se referia ao Miguel de "aquilo". O Miguel não era "aquele assunto", "aquilo", ou "aquele marginal"; ele era o meu namorado...

— Mãe já se passaram quatro anos! – dei um tranco em meu braço para que ela me soltasse. — Quanto tempo vai precisa passar para que o meu pai me trate como a filha dele e não como um monstro? – por mais que eu lutasse contra, lágrimas se formaram em meus olhos e minha visão começou a embaçar.

— Minha filha, tenha um pouco de paciência, você sabe como o seu pai é. Você é filha única e ele sempre te colocou num pedestal. Essas coisas demoram tempo para voltar ao normal. – seu olhar era piedoso. — Agora vem comer senão a comida vai esfriar. – sorriu fraco e voltou a colocar a comida em seu prato.

Olhei novamente para a porta do quarto dos meus pais que estava fechada e esfreguei meus olhos para que eu não chorasse. Meio hesitante, sentei-me à mesa e preparei o meu prato também, só que dessa vez sem a mesma alegria de antes.

 Meio hesitante, sentei-me à mesa e preparei o meu prato também, só que dessa vez sem a mesma alegria de antes

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Até o Fim (LIVRO 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora