O jantar todo seguiu numa completa tensão. Por vezes minha mãe até tentava dar uma amenizada no clima perguntando sobre o meu trabalho e puxando assuntos aleatórios com Miguel e meu pai, porém as conversas não duravam mais do que dois minutos e novamente o silêncio constrangedor se fazia presente.
— Então... Aproveitando que já pedimos a sobremesa, por que você não diz logo o motivo de ter nos reunido aqui? – olhei para Miguel que terminava de beber seu refrigerante. — Eu espero que seja algo muito bom.
— E é. – o moreno limpou a boca com o guardanapo e o amassou para colocar dentro do prato vazio. — Eu sei que foi um choque quando vocês descobriram o que eu fazia de verdade... Sei que eu não sou o cara que queriam pra filha de vocês, mas eu tô aqui disposto a mostrar que eu amo demais a Rebecca. – olhou para mim e sorriu, fazendo com que eu fizesse o mesmo.
— Eu acho que é tarde demais você me pedir permissão para ter a mão da minha filha, não acha? – meu pai riu sem humor e eu o encarei. Permissão? Eu não precisava da permissão dele para namorar alguém.
— Mas eu não quero pedir sua permissão pra namorar a Rebecca. – Miguel negou antes que eu pudesse dizer algo. — Quero mostrar pro senhor que as minhas intenções com a Becca não são algo somente de momento, ou que eu só vou usá-la pra não ser preso de novo. Eu a amo demais e quero que saiba que eu vou me casar com ela, o senhor queria ou não.
— Amor, você mesmo vive dizendo que o ser humano é falho e que devemos perdoá-los. – minha mãe se pronunciou. — Eu sei que nada justifica o que o Miguel é e as escolhas da nossa filha, mas... São as escolhas dela. Querendo ou não, o Miguel continua sendo o mesmo menino de bom coração que conhecemos e ele sempre afasta a Rebecca dos problemas que o trabalho dele causa.
— Eu não preciso da sua autorização pra nada, senhor. – Miguel engoliu a saliva. — Só quero que esteja ciente de que a Rebecca e eu estamos juntos e, se ela aceitar, futuramente será minha esposa.
— 'Pera. Isso foi... Um pedido? – brinquei e ele riu.
— Na verdade, é sim. – o moreno se virou para mim e, na hora, o garçom chegou com a nossa sobremesa e uma pequena torta de chocolate com pedaços de morango. — Sabe... Eu não sou bom com palavras. Tu sabe que eu sou direto nos assuntos e é difícil eu ser fofo em alguma coisa. – segurou minhas mãos e olhou brevemente para a torta no centro da mesa. — Tu é a mulher da minha vida, é a única que me vejo casando, criando uma família...
— Miguel... – não consegui dizer nada, minha voz embargou e lágrimas se formaram em meus olhos.
— Então Rebecca... – respirou fundo. — Quer ser minha mulher até o fim? – senti meu coração saltar pela boca e a excitação tomou conta de meu corpo. Miguel estava realmente me pedindo em casamento?
— Espera... Isso é sério? – abri um enorme sorriso sem tirar por um segundo meu olhar do seu.
— É sério se tu quiser. – sem responder com palavras, o puxei pelo pescoço e o beijei lhe dando a resposta que ele precisava. Assim que nos beijamos, o puxei fortemente para um abraço e o mais velho riu assim que me escutou fungar.
— Você sabia disso Soraia? – meu pai olhou para a minha mãe que abria a sua bolsa para pegar algo.
— Claro que sim. – deu de ombros ao pegar a pequena sacola da Vivara e entregou para Lorenzo. — O Miguel tinha conversado comigo e conseguiu me convencer. Ele não é um mau menino, José. Nossa filha merece ser feliz. – olhou para o meu pai. — Você por acaso se esqueceu que vivia elogiando eles dois? O mimando sempre que ele pisava lá em casa?
— Isso foi antes de eu saber a verdade. – meu pai permaneceu relutante em sua opinião.
Miguel pigarreou para que eu voltasse sua atenção para ele e retirou da sacola a pequena caixinha preta. Ao abrir, me deparei com um lindo anel de noivado com uma pedra de topázio. Aquele anel era o mais lindo que eu já vi na vida.
— Lorenzo, não precisava me dar um anel desses. – sorri enquanto ele colocava o anel em meu dedo.
— Vida, tu merece muito mais que isso. Sua aliança vai ter dezoito mil quilates, confia. – me deu um selinho.
Meu pai não disse mais nada, apenas cortou o pedaço da torta que comeria e pediu ao garçom mais uma lata de Guaraná. Minha mãe pediu que fizéssemos uma pose para tirar uma foto nossa e se emocionou ao se dar conta que eu estava noiva.
Na hora de ir embora, Miguel e eu fizemos companhia aos meus pais até que eles pegassem o Uber e, quando se despediram de nós, por incrível que pareça, meu pai na hora da despedida, meu pai me deu um beijo na bochecha e apertou a mão de Miguel. Eu fiquei surpresa com o ato. Depois de quatro anos, aquela foi a primeira vez que meu pai teve algum contato físico comigo e eu senti que aquilo seria uma nova página da minha vida.
Miguel não subiu ao me deixar em casa. Como eu tinha que acordar cedo no dia seguinte para trabalhar, ele decidiu ir pra sua casa e me buscaria no trabalho.
Ao chegar em casa, joguei minha mochila no chão e me joguei na cama exausta. Tirando o climão do jantar, o meu dia foi perfeito. Era surreal ainda pensar que hoje cedo Miguel era apenas o meu namorado e agora, durante a noite, ele era meu noivo. Eu estava ansiosa para contar a novidade às meninas e eu tinha certeza que elas amariam saber.
Me levantei e fui para o meu quarto apenas para pegar meu demaquilante – decidi não tomar banho, já que não havia suado. Ao tirar minha maquiagem, troquei minha roupa pelo meu pijama de cetim e me joguei embaixo das cobertas, logo ligando meu ar-condicionado. A última coisa que eu vi antes de fechar os olhos foi o meu anel de noivado e, com isso, dormi com um enorme sorriso no rosto.
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Até o Fim (LIVRO 2)
Ficção AdolescenteMiguel, o novo dono do morro, é solto após quatro anos atrás das grades. Com o coração cheio de saudade, ele decide procurar por Rebecca, sua ex-namorada, no entanto, ao descobrir que ela seguiu em frente e está em um relacionamento com outro, Migue...