Gerberas

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"But you've got stars, they're in your eyes
And I've got something missing tonight."
What a Feeling by One Direction

— Por que flores, Harold? — Mary indagou, antes de tomar um pouco do café quente. 

Oh, essa pergunta lhe deixava nostálgico. 

— Nunca fui bom em me expressar, Mary. Algumas pessoas dizem que teatro faz bem, outras que na escrita você pode se expressar também, e eu acho super válido. Mas a única maneira que achei foram... flores. — assentiu com a cabeça, tentando não ficar sentido por Mary lhe encarar com admiração. — No começo era apenas um hobby, mas após começar a trabalhar com Lyn, se tornou uma profissão.

Sua história com as flores começou ainda jovem, pouco antes de completar dois anos de idade. Anne sempre gostou, e alguns arranjos que comprava com uma senhorinha simpática ao lado de sua casa sempre ficavam espalhados pelos cômodos, algumas verdadeiras, já outras artificiais.

E ele começou a desenhá-las, sentir sua textura e aroma, se encantando com aquilo. Todos os dias era uma flor diferente, onde ele tentava expressar a exorbitante beleza de todas aquelas flores. E na escola, quando começou a aprender sobre a flora, se encantou ao ponto de tagarelar por dias com Gemma.

Mas ele se desenvolveu, cresceu e aprendeu sobre tudo um pouco, mas aquilo ainda perdurava sua cabeça. Pouco após parar de trabalhar na padaria, decidiu ser mais ousado e procurar trabalhar com algo que lhe fazia bem: arranjos. Apesar de na época fazer de forma amadora e apenas para amigos, a vontade cresceu, mas quem o contrataria?

Mas sua segunda mãe, como gostava de chamar Lyn, lhe estendeu a mão e lhe deu um voto de confiança, compartilhando seus conhecimentos e o instruindo da melhor forma, desde o plantio até as combinações, emprestando-o livros e permitindo que o garoto conhecesse tudo, quase como se estivesse dando seu legado à ele.

E ele era bom, muito bom. Não soube exatamente em qual momento acontecera, mas quando começou a fazer sozinho as encomendas mais complicadas, Lyn percebeu que seu trabalho estava feito. Em determinado ponto, sua ambição de ter uma loja começou a crescer, e mesmo que tivesse chorado por dias com a possiblidade de Lyn a odiar, teve uma conversa corajosa com ela e a melhor das reações.

Ela foi a terceira a entrar na loja, a segunda a comprar um dos arranjos e a única que ele confiava cegamente no ramo. Sunflower começou pequena, apenas uma das diversas floriculturas da cidade, mas seu desempenho e nome foram notados e, em pouquíssimo tempo, se estabeleceu.

Tudo isso se derivou de um garoto curioso. Quem diria, hm?

— E por que Secretariado? — indagou a Mary, que já engolia dois biscoitos amanteigados de uma vez só.

— Não sei, só acabou acontecendo. — riu sem humor. — Mas não sinto falta.

Diferente de seus pais, Mary sempre achou que deveria ser feliz, e que isso não estava de fato relacionado a diplomas de ensino superior ou um trabalho ótimo, muito menos rios de dinheiro. O suficiente para ter uma vida confortável e um trabalho que pudesse aproveitar sua vida e que não lhe deixasse doente aos quarenta eram tudo o que queria.

Mary era uma garota que apenas queria ser feliz. E por isso abandonou Bristol, deixando seus pais e irmã que simplesmente não aceitavam, aceitando o convite que Steven havia feito para ficar mais próximo de sua família, o que os fizeram alugar um confortável apartamento na pequena cidade de Holmes Chapel, começando uma vida à dois. 

Dizer que sentia falta seria mentira, mas vez ou outra pensava em como eles estavam; não haviam mágoas ou ódio, mas ela não sabia como reagir naquele ambiente hostil, onde tinha de ser sempre a melhor, com as melhores notas e procurar um trabalho "bom".

Sunflower [H.S] [PT/BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora