Hibiscus

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"You're my painkiller
When my brain gets bitter."
Painkiller by Ruel

— Harry! Harry, me escute. — Gemma puxou seu irmão, segurando em suas mãos e tentando ao máximo não rir. — Não dá para fugir disso, você sabe. 

— Não me diga o óbvio, Gemma. E se ela me odiar? Talvez ela nunca mais bote o pé na loja e me odeie pelo resto da vida, sabe disso! — soava desesperado.

E ele de fato estava.

Descabelado, já havia tomado três xícaras de chá e não se preocupava em parecer um lunático. Anne tentou lhe acalmar mas foi em vão, a mulher de meia idade apenas assistia do sofá junto à seu genro os surtos do filho mais novo, que passara a tarde pensando no buquê de  flores de hibisco que preparara para Mary e pediu para Milosz entregar pouco antes de fecharem a loja. 

E ele se sentia ansioso, seu coração poderia sair pela sua boca à qualquer momento.

— Você não queria isso? Não queria confessar? — Gemma perguntou, quase como a dura voz da razão.

— Mas...

— E você fez, Harry. Você confessou, e se ela retribuir? Você só vai saber a encontrando, sabe disso.

— E se eu não...

— Você vai encontrar ela. — Gemma o repreendeu. — Isso não está aberto à discussões.

— Puta que pariu, Gemma. Eu preciso de mais chá.

— Se acalme, Harry. — pegou o bule, abrindo-o e colocando um pouco mais de chá de camomila para seu irmão. — Encontre-a e resolva isso de uma vez, você não pode se manter como admirador secreto para sempre. No pior dos cenários, finja um desmaio. — piscou, mas nem isso o fez rir.

Um pouco trêmulo, Harry pegou a xícara branca e tomou com um pouco de dificuldade. Vinte e quatro horas, vinte e quatro horas até o fatídico encontro: imaginando todos os cenários, na maioria das vezes os piores possíveis, ele sentia cada parte de seu corpo em alerta. Gemma já não sabia mais o que fazer para acalmar seu irmão.

Nunca havia o visto tão bobo, muito menos tão apaixonado. Aquele nervosismo exacerbado apenas mostrava o quão desesperado estava para descobrir o que ela de fato sentia em relação à ele, poderia ser muito bom, mas também muito ruim. Ela achava engraçado, mas rir naquele momento estava fora de questão.

— Harry apaixonado, hm? — Hazfal comentou, e Anne riu baixo.

— Espero que o coração dele não seja quebrado mais uma vez... — Anne murmurou, acariciando a gata em seu colo. — Ele não merece isso.

Um coração partido: talvez algo que todos irão sentir um dia, alguns mais, outros menos. Talvez uma sensação rasa, ou como se estivesse sendo dilacerado. Um coração partido não se curava da noite para o dia de qualquer forma, qualquer fosse a maneira que achassem para o consertar pouco a pouco.

Mas Harry teve seu coração partido várias vezes, e ainda não sabia lidar bem com isso. 

E no apartamento confortável da loira, ela vestia mais uma peça sob o olhar atento de Candance, sua fiel escudeira. Diferente de Harry que entrava em colapso, ela estava mais animada do que nervosa. Ela queria conhecer seu admirador secreto, ter um momento no mínimo agradável e esclarecer toda a situação.

Mas para isso precisava de uma roupa bonita, e Candance não parecia nada feliz com o desempenho modelístico da sua amiga.

— Próximo! — gritou a morena, assistindo sua amiga bufar antes de voltar ao quarto.

— Oh, acho que vou nua mesmo. — Mary revirou os olhos, jogando o vestido na cama. E metade do seu guarda-roupa já estava ali. — Preciso fazer compras.

— Precisa mesmo! — Candance gritou da sala.

— Hey, não concorde comigo! — gritou de volta, cruzando os braços em frente ao guarda roupa.

Tudo bem, opções estavam ali. Mas nada parecia bonito, nada parecia combinar com ela. E quando estava quase desistindo, um estalo em sua cabeça lhe deixou mais animada, e ela sorriu largamente antes de se abaixar no guarda-roupa.

— Está aqui em algum lugar... — murmurou.

A caixa vermelha continha uma peça especial e parecia perfeita para a ocasião. Seus dedos correram pelo laço e ela o desfez, retirando a peça escura de lá e sentindo seus olhos marejarem um pouco.

Ela comprou o vestido pouco antes do quarto aniversário de namoro com Steven. Um vestido com pequenos girassóis, lembrava que usara apenas uma vez, pois quando o homem lhe viu, torceu o nariz e carinhosamente disse que era horrendo. Mas Mary de fato gostava dele, e por que não?

Nunca deveria ter escondido aquele vestido.

Terminou de amarrar o laço atrás e trocou os sapatos, escolhendo um sobretudo preto e saindo com um sorriso de ponta a ponta. E Candance largou o controle da TV por um momento, se emocionando com sua amiga tão frágil quanto uma pena. Seus olhos marejaram, juntando-se aos de Mary, que sorria largamente enquanto exibia o vestido de girassóis.

— Está perfeita, Mary. Perfeita. — sua fiel amiga disse com a voz embargada.

E Mary correu para a abraçar, sentindo-se acolhida. Ela sabia o significado daquilo, a realidade pouco a pouco caía sob os ombros da loira. E ela estava finalmente seguindo em frente, dando um enorme passo e de fato vivendo por si, e não por aquele babaca maldito que lhe maltratou de diversas formas.

Mas ela só percebeu quando tudo acabou.

Porque ele a maltratou quando lhe deixou sozinha em aniversários, quando chamou suas presilhas de infantis e que deveria ser menos barulhenta, que não suportava as meias grandes e quando ela ficava triste. Porque para ele, Mary tinha de ser perfeita sempre e se encaixar no seu padrão do que era certo, mas sua ingenuidade achava que era amor, puro amor. 

E a ideia de ter alguém assim novamente fazia seu estômago revirar. Ela só queria viver um amor, um amor leve e sincero. Amor, porque o que viveu com Steven talvez era mais como uma prisão. Algumas vezes se perguntava se ele havia lhe amado alguma vez.

E a resposta sempre era não. 

Quando as jovens se soltaram, Candance acariciou os cabelos da loira antes de limpar algumas lágrimas, não se importando tanto com as suas. Mary segurou as mãos da amiga e elas se encaram em silêncio por algum tempo.

— Pare de chorar, você tem um encontro amanhã. — a repreendeu, e a loira fez bico.

— Pare primeiro, então. — pediu, mas Candance negou. — Então vamos continuar chorando! Vou colocar esse vestido para lavar, amiga. Obrigada, mesmo! — a abraçou, logo em seguida se levantando. 

Limpando o rosto, Mary foi até seu quarto e retirou as roupas enquanto se acalmava pouco a pouco. Já com roupas confortáveis, ela pegou o celular e o vestido de girassol, indo até a lavanderia enquanto mandava mensagens para Harry, sentindo seu coração bater forte com o simples gesto.

[Mary]: Acabei de escolher o que irei vestir para encontrar o famoso admirador secreto, me deseje sorte! :D hehe

E a mensagem foi suficiente para que Harry ficasse mais nervoso e precisasse de mais chá, sendo amparado por sua fiel e sem paciência irmã.



Sunflower [H.S] [PT/BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora