Snowdrops

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"Every look, every touch
Makes me wanna give you my heart."
Moonlight by Ariana Grande

— Não é tão difícil assim, certo? — sussurrou, ainda encarando o que acabara de escrever. — É claro que sim. — bufou irritada, amassando o papel.

E lá se fora mais um pedaço de papel rosa, bonito e estampado.

As flores chegavam todos os dias excepcionalmente às 14h30, trinta minutos antes de ir ajudar Harry, trinta minutos após tomar chá. E já era 14h22, e não conseguia escrever absolutamente nada bonito ou coerente, mas precisava. Não podia perder aquela chance, não mesmo! Estava decidida, precisava o encontrar.

" Querido admirador secreto, 

Gostaria muito de lhe encontrar! Poderia me encontrar nesse domingo no endereço abaixo? 

Twemlow Green, CW4 8BL

Estarei lá às 19h em ponto.

Com carinho, Mary."

— Tudo bem, vai ser isso. — murmurou, destacando o papel e o dobrando de uma forma bonita, colocando no envelope azul claro e rezando baixinho.

— Senhorita Maryanne? — Jun apareceu, já com o buquê do dia em mãos. — Oh, aí está você!

— Já estava achando que meu admirador secreto havia desistido. — brincou, dando a volta no balcão. — Wow, elas são lindas!

— Essa pessoa deve mesmo gostar de você. — sorriu terno, entregando em suas mãos o buquê de acácias brancas. 

— Posso te pedir um favor? — sussurrou, quase como se contasse um segredo. — Pode entregar isso à ele por mim? 

— É claro, Mary. — piscou. — Entregarei ainda hoje.

— Obrigada! Você é o melhor! — agradeceu imensamente, abraçando um pouco mais o buquê. 

— Disponha, senhorita. Tenha um ótimo dia! — disse, antes de sorrir fraco para a menina e fazer seu caminho para fora.

Jun era um amigável senhor que estava fazendo a entrega das flores para Mary quase todos os dias, e acabaram por criar uma relação no mínimo curiosa: após a loira tentar lhe subornar de todas as formas possíveis e que claramente não deram nada certo, eles começaram a se aproximar mais e conversar sobre coisas triviais algumas vezes.

Casado, com uma filha que acabara de passar por uma cirurgia e se recuperava bem, o carinhoso senhor contava que entregava uma flor todos os dias a sua amada esposa, que conheceu numa viagem na Grécia ainda quando jovem. E foi amor a primeira vista, se apaixonaram perdidamente e construíram uma vida juntos na Espanha, mas decidiram se mudar para Holmes Chapel quando a filha completou seis anos.

Ele gostava de levar a filha para a faculdade de Moda, de ir ao supermercado com sua esposa e assistir futebol, era tão simpático! Mary amava ouvir suas histórias e sempre tentava arrancar mais, era nítido o amor por sua família na fala dele, adorável!

O motor fez um barulho alto enquanto ele ia embora, a menina cheirou as flores antes de pegar o cartão vermelho, preso com um adesivo bonito. 

"Para quem não sai dos meus pensamentos, que aquece meus dias mais congelantes e que é como um sol, um sol para mim. Com amor, de seu Admirador Secreto" Oh, não quero quebrar o coração dele de forma alguma... — murmurou, com um misto engraçado de sentimentos lhe cortando. 

Às 14h59 em ponto, Mary fez seu caminho até os fundos e plantou um sorriso no rosto talvez não tão verdadeiro antes de encontrar um Harry cortando algumas fitas com os fios perto de seus olhos e lhe incomodando um pouco, já que tentava os empurrar para cima e acabava bufando irritado e sequer se deu conta que a garota o observava da porta.

Mas ela caminhou para dentro e se aproximou um pouco mais, o garoto estava tão concentrado que acabou se assustando e deu um pulo.

— Céus... — murmurou, colocando a mão no peito. — Desde quando está aqui?

— Cheguei no horário de sempre, chefe. Quer ajuda? — perguntou solicita, se segurando para não rir. 

— Na verdade não, por enquanto temos tudo sob controle. — murmurou, se abaixando novamente. 

E ela assistiu ele novamente ter problemas com os cachos rebeldes que insistiam atrapalhar sua visão. Talvez ele estivesse precisando de ajuda, não? Mary já sabia o que fazer, e começou por retirar a presilha de sua cabeça, colocando-a na sua palma e sentindo seu estômago girar em antecipação. 

— Harry? 

— Hm? Diga, Mary. — levantou a cabeça, e ela rapidamente colocou seu plano em ação.

Suas mãos gélidas foram até os cabelos de Harry e os acariciaram de leve num primeiro momento, e o garoto não conseguia esconder o espanto, apesar de gostar disso. Era a primeira vez que ela mexia em seu cabelo, e com certeza não era uma sensação ruim: medindo de uma forma que não ficaria escorregando, ela colocou as madeixas para trás e prendeu com a presilha, que parecia ter sido feito para ele.

— Considere como minha ajuda. — piscou, tentando ignorar seu coração acelerado. 

Ela estava tão perto que ele conseguia ver pequenas marcas em seu rosto, uma pintinha quase invisível perto dos olhos e suas sobrancelhas perfeitamente ajustadas, os lábios num sorriso tranquilo e como parecia adorável. E como sempre, se sentia como um adolescente perto da pessoa que gostava.

Sequer conseguia montar uma frase coerente, quem dirá verbalizar algo. Ela saiu da ponta dos pés e olhou satisfeita para seu trabalho, recebendo um sorriso que mais parecia uma careta em resposta. Harry demorou alguns segundos para assimilar, mas já sentia falta das mãos dela em seus cabelos. 

Mas se deixasse o cabelo crescer, ela provavelmente  voltaria a fazer isso e soava como uma ótima opção.

— Obrigado, Mary. — murmurou, voltando sua atenção ao que estava fazendo antes, já que suas bochechas tomavam uma coloração avermelhada. 

— Não me agradeça, chefe. Mas nada de ficar com ela! É meu uniforme. — se afastou um pouco, sorrindo sem mostrar os dentes. — Pode me chamar se precisar de algo. 

E calmamente caminhou para longe dele, sentindo seu coração bater tão forte que temeu ser seus últimos minutos de vida. Mas ela não se arrependia do que havia feito, não mesmo. Harry soltou o bolo de fitas e suspirou pesadamente, sussurrando à si mesmo que precisava manter o controle e não agir como um lunático perto dela.

Mas o toque de seu celular lhe despertou dos pensamentos, ele retirou a luva antes de puxar o aparelho do seu bolso. E quando pensara que conseguia acalmar os ânimos, a mensagem que recebeu foi o suficiente para ficar tão nervoso que com certeza precisava de um chá e, quem sabe, desaparecer por um instante:

[Lyn]: Mary quer lhe conhecer, ela mandou uma carta.

Lhe entregarei ela, mas para sanar sua curiosidade, será domingo às 19h no endereço que está no papel... 

Acho que seu disfarce foi para o ralo, Harry.

— Puta merda! — exclamou, ainda atônito. — E agora? Não achei que isso fosse acontecer tão rápido... — conversava sozinho, talvez um dos primeiros sinais que de pouco a pouco perdia sua sanidade.

Ele suspirou duas, três vezes. Tomou um pouco de água, bateu o pé furiosamente no chão e sentia que seu coração poderia sair pela boca naquele momento. E andando de um lado para o outro, tentava clarear a cabeça e pensar de forma coerente, apesar de quase impossível.

— Gemma, preciso de Gemma.

Sunflower [H.S] [PT/BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora