"And sooner or later, it's over
I just don't wanna miss you tonight"
Iris, by Go Go Dolls— Uma flor por seus pensamentos? — apareceu com uma pequena íris.
Mary de fato havia se apaixonado pela pessoa certa. Harry prendeu a flor em seu cabelo, perto de sua orelha e ajeitou o cabelo loiro, levemente enrolado nas pontas e recebendo um sorriso largo em resposta, mas logo se tornou em preocupação.
— Está tão frio hoje, por que não trouxe um cachecol? — apoiou a mão em seus ombros, acariciando-o por cima do tecido.
— Estou bem, querida. Vamos?
— Vamos! Estou tão animada, há tempos não vou patinar. Você era bom nisso, não? Gemma me contou que vocês gostavam de patinar quando mais novos e você até conseguia ir sem se segurar nas barras. — Mary entrelaçou suas mãos as dele, começando a caminhar para dentro do local.
— Nem tanto, Gemma gosta de inventar histórias. Costumávamos passar na pista perto de casa nos festivais de inverno e passávamos horas, ela sempre foi melhor que eu nisso.
— Adoro Gemma, estou com saudades dela. — confessou, agarrando-o mais quando uma brisa passou por eles — Tem certeza que não está com frio?
— Não se preocupe comigo, querida.
Mas no fundo, ele gostava quando ela se preocupava com eles. A pista de patinação estava relativamente cheia, instrutores devidamente uniformizados guiavam alguns casais e crianças por ali, Harry conhecia aquele lugar na palma da mão e logo guiou a loira para pegar os patins.
— Elize gostava de patinar, ela sempre me empurrava para a borda porque eu era um pouco mais lenta do que ela e não gostava de esperar. Aquela garota sempre foi assim, incrível! Mas por que isso importa? Isso não importa de forma alguma, estamos indo patinar! — contou animada assim que recebeu os pares, segurando-os enquanto Harry aguardava chegar sua numeração.
— Elize é a mais velha?
— Isso. Ela sempre foi competitiva em tudo, pedir para que nós limpássemos o quarto era suficiente para que Elize se tornasse uma atleta, sério.
Mary nasceu numa pacata família de Bristol, a irmã mais nova de um casamento que parecia perfeito aos olhos mas ela não podia reclamar muito sobre seus pais. Elize tinha seis anos quando ela nasceu, o sentimento de competitividade sempre esteve na criança, mas se agravou ao longo dos anos.
E a loira nunca soube muito bem como lidar com isso: sua irmã por muito tempo era seu porto seguro, a pessoa na qual se espelhava. Tinha de admitir que era bela a forma que Elize sempre dava o seu melhor em tudo, mesmo que isso fosse limpar o quarto, fazer uma prova ou até mesmo preparar a janta.
Elize nunca aceitou ficar atrás de Mary pelo mínimo que fosse, e nunca admitiria que suspirou aliviada quando a mais nova anunciou que iria partir para Holmes Chapel e criar uma vida à dois, mesmo que comprasse o discurso dos pais e insistisse para que ela continuasse em Bristol.
Não só de aparência, mas eram extremamente diferentes: como seus pais, a mais velha buscava o poder, o topo. Com sede de vitória, de se sair como a melhor em todas as ocasiões e obter o reconhecimento de seus pais, Fred e Cecília.
Eram renomados advogados em Bristol, Cecília atuava na área criminalista e Fred na trabalhista, os dois sempre visaram o futuro dos filhos e deslumbravam carreiras brilhantes e um futuro de ouro, porque eram isso que projetavam.
Mas Mary nunca quis isso, e num determinado momento de sua adolescência sua paciência se esgotou: entrar numa faculdade não era a sua prioridade de vida, mas se viu obrigada e escolheu o curso de secretariado. Três anos, três dolorosos anos e prometeu a si mesma que iria escapar de lá.
E Steven já estava em sua vida, não pensando duas vezes quando ele lhe propôs um recomeço longe dali. Longe dos lembretes diários que deveria andar na linha, não sonhar com coisas inúteis na visão de seus pais e nunca ser melhor que sua irmã. Finalmente estava longe de toda cobrança, do ambiente hostil e das entregas de boletim no jantar, dos discursos sobre como Elize era perfeita e exatamente tudo que seus pais sempre sonharam.
E ela era Mary, apenas Mary.
— Tem certeza que sabe o que está fazendo? — indagou quando Harry apertou um pouco mais o patins em seu pé. Aquilo era enorme e pesado, muito mais do que lembrava. — Acho que não vou conseguir andar com isso.
— É claro que vai, Mane. — deus dois tapas leves no patins, se levantando para colocar os seus.
— Mane? Que apelido cafona! — riu, involuntariamente se lembrando da primeira vez que ele a chamara assim.
— Lindo. Lindo como você. — piscou, e a menina lhe deu um beijo na bochecha.
Harry amarrou bem os patins e quando estava tudo ajustado, se levantaram e seguiram para dentro da pista um tanto movimentada. Após algumas instruções básicas e treino, começaram a patinar perto da borda.
— Harry, Harry! — Mary dizia alto, logo gargalhando ao se apoiar na borda. — Eu vou cair com isso! Desde quando você é tão bom?!
— Segure minha mão. — estendeu, vendo a menina ficar receosa por um momento. — Hey, está tudo bem!
— Harold, se eu cair eu te levo junto! — segurou em sua mão, sendo puxada.
E ele calmamente a guiou pela pista de gelo, embalado pela risada gostosa que escapava da boca dela vez ou outra e seu sorriso brilhante, o contagiando. Mary o admirava e percebeu que era a primeira vez que o via tão tranquilo e sorridente, deveriam definitivamente patinar mais vezes.
Aquela pista lhe lembrava da infância, como Gemma e ele eram inseparáveis e mesmo da adolescência não brigavam tanto, as diversas vezes que entrou no quarto dela de madrugada para mostrar desenhos de flores, como ela lhe apoiou e foi a primeira a saber que ele queria abandonar seu emprego na padaria e seguir seu sonho.
Sua infância com altos e baixos, ralados no joelho e sorriso fácil, doces após o almoço e amor, muito amor. Um amor que ficara marcado nele até hoje, amor das pessoas mais importantes da sua vida, e não podia se sentir mais grato por nascer filho de Anne.
E ter Gemma como sua irmã, claro. Um dos seus pilares, seu amor incondicional e a confidente de sua vida. A que lhe aconselhava, lhe abraçava quando tinha dias ruins e sempre tinha uma piada boa e um chá para o consolar.
Agora eram adultos, e trocara as horas no laboratório de biologia por cortes em flores, arranjos bem feitos e uma boa noite de sono. Se permitia amar e ser amado, respeitado e principalmente feliz, feliz ao lado dela.
Mary começava a ficar melhor, mas assim que achou que tinha habilidade suficiente para andar sozinha, caiu e acabou tentando se agarrar em Harry, o levando junto. Ela gargalhou alto quando se jogou para o lado e não o machucar, ouvindo-o rir também e a acompanhar.
Ele a acompanhava em várias coisas: o encontro marcado no dia de folga deles fora planejado exclusivamente por Harry, que agora lhe acompanhava em casa todos os dias, mandava mensagens com corações na hora de ir dormir e a lembrava de não esquecer os remédios. Que a beijava quando ninguém via e falava sobre como estava preocupado com o aumento do volume.
Mas agora os dois jovens se ajudavam a levantar e retomar a patinada, Harry tirava sarro dela e a menina proclamava como ele escondia bem as habilidades dele, tomando sua mão novamente e voltando com calma a patinar com os corações transbordando felicidade.
— Obrigada por existir, Harry. — confessou.
Seu sorriso perdurou o suficiente para que a velocidade fosse diminuída e um casal se chocasse contra eles, fazendo-os cair pelo gelo e gemer de raiva. E mesmo com a bunda doendo e o casal desconhecido reclamando, seu coração ainda batia forte pelas palavras de Mary, e era exatamente isso que ele causava nela.
Euforia, felicidade.
E mesmo quando estavam sentados num banco passando antisséptico nos dedos e colando bandaids após o fatídico acidente enquanto falavam sobre Friends, ele se sentia em casa.
Porque onde Mary estivesse, era seu lar.
Porque era Mary, seu porto seguro.
Seu amor.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Sunflower [H.S] [PT/BR]
FanfictionUm buquê? Arranjos? Qualquer fosse, o florista H faria com perfeição, e todos sabiam disso. A Sunflower era o local mais procurado quando se tratava de flores, pequena loja localizada no centro de Holmes Chapel. Mas ele sabia lidar bem com a pressão...