11. EMILY

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Desde quando podemos, todos os anos Valentina e eu visitamos o orfanato onde crescemos, após nossa adoção, quando tem alguma data comemorativa.

Hoje é natal.

Nesses dias em específico, nos vestimos com roupas temáticas para agradar cada criança e transmitir o máximo de magia para todas elas. É tão desconcertante saber que esse natal acontecerá a suposta última visita de Valentina no orfanato. Pelo menos a última visita juntas.

Eu jamais a impediria de seguir seus sonhos ㅡ se é que esse é o sonho dela e não o da mãe ㅡ , mas me entristece saber que a garota planejava encher-me de esperanças de um futuro que a gente não iria poder concretizar, só para manter a ideia de que vivenciou tudo que sempre quis antes de partir. Sem nem ao menos me dar a chance de decidir se eu queria participar disso.

Ao meu ver sua atitude foi insensível e egoísta em dizer que estava apaixonada por mim e que me amava, que queria que eu tivesse certeza que ela me queria, prendendo-me a um sentimento e ideias que não se realizariam.

Além do mais, se Valentina realmente gostasse de mim, seria franca comigo para que pudéssemos decidir juntas sobre nosso futuro, separadas ou não.

Poderíamos tentar um relacionamento a distância? Sim. Meus Deus, o que estou pensando? Pelo jeito nunca passou a ideia na cabeça de Valentina ter um relacionamento perto comigo, imagina a distância!

Apesar dos pesares, dói tanto ficar afastada, pois mesmo a vendo todos dias é como se houvesse uma barreira invisível de dor e desconforto nos impedindo de se contactar.

Dói como no dia que Valentina foi adotada antes de mim. Dói como no dia que fui adotada e pensei que nunca mais veria a menina de cabelos vermelhos. Dói de um jeito estúpido quando lembro dela falando que me ama com o rosto sardento todo vermelho e quase se misturando ao cabelo.

Meu coração se estilhaça como se fosse a primeira vez que se quebra, toda vez que fecho os olhos e vejo ela. Ela e mais ela.

Visto um suéter cor de vinho e uma calça xadrez com as cores vermelho e verde. Coloco um chapéu de noel na cabeça e pego pela mão o saco de presentes das doações que recebi esse ano. Sinto meu celular vibrar no bolso, assustando-me.

Valentina: tô passando agora no meu ponto para pegar as doações. Vou chegar um pouco tarde.

Visualizo, mas não respondo.

Caminho com o saco de presentes para fora de casa, pequeno o bastante para caber em uma das bolsas que minha motocicleta possui, nas laterais.

Chego no orfanato decorado com o tema natalino, e é bizarro admitir que talvez seja minha data comemorativa favorita, tendo em vista que passei minha infância inteira sem família para comemorar . ㅡ ou não, já que a Tina sempre foi minha família.

Luzes de led coloridas estão espalhadas pelo ambiente, desde o teto até as paredes, brincando entre os tons de verde e vermelho, e pincelando as crianças com seu brilho.

Vasculho com os olhos a pessoa responsável pelo orfanato Luz Lunar na maior parcela do tempo, avistando de longe uma moça conhecida por mim não só por causa do lar das crianças, mas também pelo fato de ser mãe de uma das amigas de nossas amigas e especialmente de Valentina, a mãe de Clarisse.

ㅡ Boa noite senhorita Angela. Aqui está a minha remessa do ano. ㅡ entrego a sacola para a mulher alta, de cabelos longos e escorridos que quase não se destacam na sua pele pálida por serem loiros e cinzentos. Sou abraçada forte em uma das pernas por uma criança assim que curvo os lábios em um sorriso social para a figura feminina em minha frente.

Girls+Girls (+18) - NÃO REVISADOOnde histórias criam vida. Descubra agora