12. VALENTINA

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Hoje é um daqueles dias onde você se sente vazio e questiona se o que está sentindo é tristeza ou outra coisa a qual não possui nome e muito menos descrição.

Um turbilhão de pensamentos explodem minha mente e a voz de Emily dizendo preenche todas as lacunas que meu cérebro abre.

Sua mãe.

Minha mãe controlou meus passos desde a adoção. Confesso que muitos dos planos que eu tinha antes de ter sido adotada foram substituídos por outros que agradavam melhor minha figura materna.

Melhores escolas, melhores amizades, sempre chegar cedo, nada de bebidas, nada de notas menores que a máxima, cursos diversificados pelo menos uns quatro dias na semana. Maquiagem comportada, opinião limitada,personalidade inventada.

Sempre procuro agradá-la ao máximo, afinal ela me escolheu, me abraçou. Ser a melhor filha possível é o mínimo, não?

Estou sentada em uma cadeira confortável do melhor restaurante da cidade, vestida num vestido rosa e com babyliss nas pontas ruivas. Esperando meu suposto príncipe encantado que está atrasado a pelo menos vinte minutos.

O acordo com minha mãe para ir ao show foi esse. Ir a um encontro com um rapaz que nunca vi, enquanto nossos pais estariam em uma reunião para decidir se fariam parceria ou não.

Senhora Hadria é dona de uma estética muito procurada no município e os pais desse menino desconhecido são donos de um consultório odontológico que abriu recentemente. Além de serem proprietários de terra, gado e também de várias lojas pequenas de beleza espalhadas pelo país.

Ele é a perfeita definição de bom partido no ponto de visto da minha mãe. 

Mas eu só quero uma pessoa. E essa pessoa tem cinco letras no primeiro nome, pele escura, olhos claros e o corpo com as curvas certas para se encaixarem nas minhas minhas.

Apesar de Emy ser a que mais sentiu impacto com a descoberta de minha viagem, todos os meus amigos estão chateados comigo. Não nos falamos como antes a alguns dias.

Todos estão ocupados em seus próprios mundos. Clarisse e Ben devem está decidindo para onde vão juntos em mais um final de ano e o resto da galera deve está literalmente fazendo a mesma coisa ㅡ planejando passar o reveillon unidos e comprar roupas para formatura que é só daqui uns meses, mas que organizam desde o ano passado.

Além de todo mundo está meio obcecado com os vestibulares. 

Fecho os olhos suavemente e uma lembrança invade meus pensamentos: primeiro dia de aula no fundamental menor. Emily e eu insistimos para sermos matriculadas na mesma escola. Não podíamos exigir muito depois da adoção, mas dessa vez fizemos um enorme esforço.

Nos encontramos em frente ao portão principal, faltando cinco minutos para o sinal bater e anunciar a proibição de entrada. Emily estava com medo. Eu também estava, porém não deixei transparecer em nenhum momento para que a menor se sentisse segura.

Apertei a mão da garota e caminhamos juntas para dentro da escola, mãos que foram separadas por duas salas distintas. Depositei um beijo na bochecha da menina, ela tocou um de seus cachos constrangida como de costume e sorriu para mim, desejando-me sorte.

Recordo que o fundamental, ao meu ver, foi bastante confuso, pois desde a minha chegada na casa da senhora Lisboa, ela já deixou evidente que eu precisava ser um destaque e que consequentemente pagaria quantos professores fosse preciso para isso.

Nunca enxerguei isso como algo equivocado. Afinal, é normal esperar que seu filho vá bem em provas.

Só que se ele errar... É normal não aceitar falhas?

Girls+Girls (+18) - NÃO REVISADOOnde histórias criam vida. Descubra agora