1. VALENTINA

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"Talvez você goste de garotas." Só aquele pensamento me fazia sentir um arrepio no começo da espinha.

Eu não quero gostar de mulher, me recuso a isso. Não aceito, não posso.

Penso as mesmas coisas repetidas enquanto caminho para lá e para cá no quarto, dois dias depois da declaração repentina de Emily. Meus neurônios estão fritando desde então, talvez eu tenha chorado mais que o casual nas últimas quase setenta e duas horas.

ㅡ Eu não posso ser queer! - choramingo, jogando-me de barriga para baixo sobre a cama e grunhindo abafado pelos lençóis. ㅡ Isso seria... - viro o corpo para cima. ㅡ O cúmulo pra minha mãe.

Meu foco é conduzido até a cabeceira ao lado, onde se mantém um porta-retrato que exibe uma foto de minha mãe comigo, tirada no primeiro dia em que pisei meus pés nessa casa, dois anos após perder meus pais biológicos e morar em um orfanato chamado Luz Lunar, até finalmente ser adotada por alguém. Por ela.

Hadria.

ㅡ Você não aceitaria isso, né? - engulo em seco após soltar uma declaração hipotética de revirar o estômago.

Como em outros momentos desses últimos dias, de pura explosão de sentimentos causados pelas dúvidas incessantes que me cercam, sinto meus olhos lacrimejarem, minha respiração se prender e posso dizer sem medo de errar que meu rosto já começa a ganhar tons de rosa.

ㅡ Amanhã é sábado, mas você não vai poder fugir da Emily por muito tempo. - falo sozinha, levantando-me da cama e indo em direção ao banheiro, parando em frente ao espelho e apontando o indicador para o reflexo. ㅡVocê, Valentina Palos Lisboa, é uma covarde! ㅡDito isso, sigo para dentro do box, despindo-me e colocando as roupas dobradas em um suporte de toalhas.

É quando levo minha mão para ligar o chuveiro, que um pensamento pervertido introduz minha mente, fazendo um calor percorrer desde as unhas dos pés até os fios vermelhos dos meus cabelos. "E se eu me masturbar, agora?" Uma ideia que é afogada junto de centenas células do meu corpo assim que ligo o chuveiro com água fria num supetão, acalmando minha temperatura corporal e escondendo de maneira moderada a pele de pimenta.

ㅡ E se - começo a soltar pensamentos em voz alta, balançando a cabeça para os lados na intenção de afastá-los para longe. Tomo um banho pressuroso, como se de algum modo fosse impedir que se abra brecha para pensamentos intrusivos entrarem.

Saindo do banheiro de cabelos molhados e com uma toalha branca enrolada no corpo, avisto meu celular vibrar em cima da cabeceira.

Caminho vagarosamente até o móvel, esperando que não seja uma mensagem de Emily, pois não possuo condições de responder agora e, consecutivamente, trago o celular até mais perto do rosto, entretanto de olhos fechados.
Ao abri-los de maneira brusca, deparo-me com a notificação de outro número.

Libero um ar que com inconsciência prendia, de alívio.

Iara:
Cadê vc??? Nem pense em faltar na minha festa

Tô nem aí, pula a janela se for preciso

Visualizo e não respondo.

Aliás cê tá a dias sem falar cm a gnt, inclusive a Emily. Oq rolou?

Visualizo e fico sem responder por dois minutos.

Girls+Girls (+18) - NÃO REVISADOOnde histórias criam vida. Descubra agora