Você consegue sentir?

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Capítulo 4

Ohayōgozaimasu! - Kiara dava bom dia à Macarena que não tinha dormido nada e sentia em seu rosto algumas luzes solares artificiais que eram emitidas pelo sistema central de sua kit net - essa sem janelas de verdade.

A loira revira os olhos pelo robô que permanecia com defeito falando em japonês, mas ela se vê sem tempo para consertá-lo. Passara a noite em claro, afinal, preocupada com as consequências de um robô construído com emoções o qual seu chefe a mandava fabricar.

Apesar de cientista, a mulher não era adepta de algumas coisas que já estavam sendo bastante comuns em outras tantas companhias que inclusive conhecia por ter contatos que trabalhavam nelas e por acompanhar com frequência os lançamentos que não paravam de pipocar a cada semana. Ela fabricou Kiara enquanto esteve em Marte. O urso era uma réplica idêntica a uma pelúcia que ganhou aos cinco anos. Sua mãe, Encarna, quem havia costurado. Um mês após recebê-lo de aniversário, um dos olhos caiu e se perdeu na casa em que morava com seus pais e irmão. Macarena se lembra perfeitamente de ter chorado durante dias preocupada com seu urso de pelúcia que estava sem um olho:

- Deve estar doendo muito, mamãe... - a menina falava como se seu brinquedo sentisse as coisas tal como os humanos.

Com pena, Encarna logo colocou no lugar do olho azul um botão preto. A filha observou o feito com estranheza, mas acreditou nas palavras da mãe que lhe disse que havia consertado sua pelúcia e que agora ele não sofreria mais. Desde então, por mais que ganhasse outros presentes, era com aquele que vivia andando pra baixo e para cima. Dois anos depois desse ocorrido, após a mãe falecer com um vírus desconhecido que matou 1/3 da população, Ferreiro ficou com o urso até a adolescência. Para ela, o objeto representava um tempo o qual se via feliz convivendo com sua família sem maiores problemas.

Entretanto, quando seu pai não suportava mais continuar na mesma casa, o homem resolveu recomeçar a vida do zero, se desfazendo de todos os pertences e brigando com a filha que já era crescida por ainda permanecer com aquela pelúcia que poderia servir para alguma criança brincar - como ele dizia - ao invés de ficar em sua cama sem nenhuma utilidade.

Leopoldo era um homem carrancudo, ficara deveras amargurado após a morte da esposa. Mesmo frente a isso, Macarena e o irmão o amavam e tentavam a todo custo dar o apoio necessário ao pai. Os três, quando ela completou 18 anos e passou em uma universidade em Marte, foram juntos para o planeta vermelho. O que a loira não imaginava era que por lá tudo iria de mal a pior... Ao retornar para a Terra ela se viu sozinha apenas acompanhada de Kiara.

Assim, passou a viver em sua kit net, em um dos melhores bairros de Madrid. Naquele momento, após responder o urso e se arrumar rapidamente para sair, a mulher  coloca em seu pescoço um colar com um pingente em formato de gota e solicita que Kiara vá com ela ali.

- Integrar. - basta essa palavra para o material do robô se desmaterializar e ficar contido no pingente.

Apressada, Macarena segue sem tomar café da manhã direto para a cabine que ficava no térreo do prédio. Em poucos minutos a cientista se vê no laboratório o qual passava a maior parte de seu dia, aguardando ansiosa por Sandoval que estava atrasado. Ambos haviam marcado o encontro logo cedo, antes dos demais funcionários chegarem ao local.

Para se acalmar ela toma um comprimido retirado da cápsula que sempre levava consigo, e depois de meia hora avista o homem em carne e osso abrindo a porta. Não o via há meses pessoalmente, pois eles se comunicavam fazendo uso de todo aparelho possível. Em realidade, eram poucos os humanos que tinham contato físico uns com os outros, a grande maioria conversava por meio de máquinas a um bom tempo.

- Você acha que preciso mesmo estar aqui pra isso? - Sandoval cruza os braços bufando, irritado por ter precisado acordar em um horário o qual não estava acostumado.