Workaholic

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Capítulo 2

- Estás saindo do trabalho? - Rizos estava esperando a amiga chegar a algum tempo. Ela se encontrava sentada na mesa que sempre ficavam quando iam para aquele restaurante.

O ambiente se dividia em três áreas distintas. Em uma delas o café da manhã era servido a qualquer hora do dia, na outra o almoço... E a terceira contava com o serviço voltado para o jantar. Muitas pessoas em Madrid trabalhavam em vários turnos durante o dia. Desde a revolução dos medicamentos de uso prolongado, juntamente com a troca de órgãos por outros mais eficientes, o corpo humano passou a suportar mais compostos químicos e, assim, a grande maioria se viu sendo capaz de trabalhar sem se cansar por muito mais do que oito ou doze horas seguidas. Com isso os restaurantes cresceram e todos começaram a sentir o tempo marcado no relógio se estender.

Estefanía, entretanto, não fazia uso de tais medicações e continuava trabalhando apenas oito horas por dia, fazendo questão de poder sentir um certo cansaço no corpo. Nesse momento se sentia dessa forma ao ver que sua amiga não estava nem perto de chegar. Ambas se comunicavam pelo aparelho que tinham em seus respectivos cérebros. Bastava pensar em um nome específico, solicitar que a chamada fosse feita e a ligação ocorria mentalmente, sem que as pessoas precisassem abrir a boca para falar.

Com muita relutância Rizos fez a cirurgia necessária para acoplar o que ela chamava de 'troço' no lóbulo frontal. Na primeira semana, ao sair do hospital, recebeu ligações indesejadas de alguns contatos que a tinham adicionada em suas agendas. Eram rolos os quais ela não gostaria de continuar. Macarena, para tirar onda com a amiga, não a comunicou como que fazia para bloqueá-los, o que fez com que Cachinhos recebesse as chamadas em sua mente por alguns dias que pareceram uma eternidade... até Ferreiro decidir explicar de que maneira ela poderia bloquear as pessoas.

Tal brincadeira feita pela loira até hoje irrita Estefanía, sempre que se chateia com a amiga a primeira memória que lhe surge em sua cabeça é a referente a esse acontecimento... mesmo que já tenha passado três anos desde o ocorrido.

- Espera só mais um pouquinho... Estou a caminho do nosso encontro! - a loira responde enquanto desvia de alguns carros. Os automóveis que seguiam flutuando nas ruas dividiam o espaço com motos que possuíam a mesma tecnologia para vôo ou flutuação - a depender dos modelos -, bem como skates, patinetes, coletes que ao estarem bem firmes no tórax possibilitavam o deslocamento dos humanos sem que seus pés tivessem algum trabalho nisso.

Macarena seguia de skate. Há anos nenhum acidente entre tais máquinas acontecia. Algumas pessoas as controlavam, mas quase todas seguiam sendo conduzidas por robôs. Ou o próprio automóvel, por exemplo, já vinha em seu sistema com uma inteligência artificial integrada. Dessa forma, nenhum veículo se chocava com outro, pois ao prever um possível acidente as próprias máquinas funcionavam de maneira que tal coisa não acontecesse.

- Você está a meia hora atrasada... - o semblante de Rizos era de pura irritação. Uma coisa que detestava era esperar, e sua paciência já estava se esgotando... Até que ela avistou a amiga finalmente entrando no local e falando agora em sua frente, ofegante:

- Houve um contratempo...

- Zero novidade, Maca. - Cachinhos a vê se sentar depois de trocarem um abraço. As duas logo em seguida passam um spray protetor nas partes onde se encostaram.

Alguns humanos, que já haviam trocado de pele, tinham menos chances de se contaminarem. As pandemias desde 2100 passaram de algo esporádico para constante, afinal. E todos aprenderam a conviver com elas, tanto que já faziam parte do dia a dia. Entretanto, sobre a cirurgia de pele, as duas amigas nunca haviam feito, ela era uma das mais caras disponíveis, e no fundo, ambas morriam de medo de passar pela recuperação nada fácil que seria o pós-cirúrgico. Agora já sentadas, depois de se cumprimentarem, Maca e Rizos recebem em suas mentes o cardápio.

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